Professor Maneca – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Libório(AM)

Driblando fácil, chutando forte e fazendo gols, o filho do professor Cleómenes do Carmo Chaves e de dona Joanita Cetrato Chaves ficava vaidoso quando os seus colegas o chamavam de Maneca, numa comparação ao grande craque do Vasco da Gama. Para quem nasceu Manoel e com grande intimidade com a bola, o apelido encaixou perfeitamente. E foi ao lado de Homero, Tapioca, Osmar e outros garotos que Maneca começou a mostrar a sua habilidade nos campos do Boulevard Amazonas, São Geraldo, Sólon de Lucena, Duca Brito e campo da Cachoeira.

Em 1959, Maneca que cursava a quarta série ginasial, no Instituto de Educação do Amazonas, viu a sua grande chance de jogar num grande time quando leu no matutino O JORNAL a notícia de que o técnico Alfredo Barbosa Filho, que estava retornando ao Nacional, faria uma peneirada para selecionar alguns garotos bons de bola. Acreditando no seu potencial, o à época magro Maneca, foi um dos primeiros a chegar ao campo da Vila Municipal. E não demorou muito para convencer o gordo Barbosa Filho de que merecia uma vaga na equipe.

Estudando pela manhã e freqüentando à tarde com assiduidade a quadra Joaquim Gonçalves Araújo, que ficava atrás da sede, na Saldanha Marinho, começou a desenvolver a sua habilidade no futebol de salão. Rapidamente conseguiu a posição de titular da equipe juvenil e, chutando sempre muito forte e de bico, revelou-se como o principal artilheiro. E, merecidamente,ganhou o seu primeiro título em 1960.

Alfredo Barbosa Filho, um dos maiores reveladores de craques do futebol amazonense, percebeu que o dedicado garoto tinha futuro. Com tanta dedicação e elogiável eficiência, Maneca ia conseguindo ganhar o seu espaço na equipe de futebol de campo. Pelo seu bom toque de bola, firmou-se como titular do meio campo do time juvenil, conquistando o título de 1961. O Nacional tinha um timaço, que formava com Rato, Índio e Aderbal; Maneca, Xinxa e Wanderlan; Zozoca, Japonês, Florismar, Oscar e Timba. Nessa competição jogaram ainda Brasil, Francisco Malheiros (o médico) e Cláudio São Paulo.

Maneca recorda que era um prazer jogar pelo Nacional. E salienta: “o Nacional tinha um ambiente de família. Eu freqüentava a sede diariamente. E sempre que possível ia logo para a quadra jogar futebol de salão. Ai era fácil ficar sempre em forma”.

No início dos anos 1960, o futebol de salão estava na crista da onda em Manaus. O Rio Negro tinha Flávio Antony, Armando Brasil, Nazaré, Álvaro Mestrinho. O América tinha o grande goleiro Marialvo e outros bons jogadores. Mas o Nacional não ficava por baixo. O bom nível estimulava a rivalidade e a presença de um número expressivo de torcedores por ocasião dos jogos. E em 1964, contando com a cobertura das rádios Rio Mar e Baré, o Nacional, na quadra do Olympico, numa noite muito inspirada, enfiou 3 a zero no Rio Negro. Maneca foi o autor dos três gols e o Nacional foi campeão com Valdir, Gadelha, Adérito, Maneca e Holanda.

Após concluir o curso cientifico, Maneca ganhou uma bolsa de estudo e, em 1963, foi estudar no Rio de janeiro. Certo dia recebeu uma carta de Alfredo Barbosa Filho, pedindo-lhe que providenciasse um orçamento, na loja Moreira Leite Sport, na rua Senhor dos Passos nº 20, para que o Nacional tivesse um novo equipamento para os jogos do campeonato. Nessa época o Naça só utilizava o seu tradicional uniforme, todo branco com a estrela azul no peito. Barbosa queria lançar algo diferente, meiões, calções, camisas azuis, com a águia amarela no peito. A idéia foi de Barbosa, mas a arte foi do professor de desenho Edmilson Salgado, que era assumidamente nacionalino.

Antes de ter tempo de cumprir a missão, Maneca tomou conhecimento que o governador Plínio Ramos Côelho, presidente do Nacional, estaria no Rio de Janeiro para participar de um Encontro de governadores, no Hotel Glória. Rumou para o hotel e falou dos planos de Barbosa ao governador. Plínio, que era apaixonado pelo seu clube, autorizou: “vá lá, faça o orçamento e não esqueça de dobrar o pedido. Quero o meu clube com a melhor imagem possível”. Ordem dada, ordem executada, e a partir de 1963 o Naça passou a jogar com uniforme azul.

Atuando pelo time juvenil, sem descuidar dos estudos, Maneca ainda chegou a disputar uma partida pela equipe principal, campeã do primeiro campeonato profissional em 1964. Foi contra o Fast, com vitória. Depois começou a se preocupar com o futuro. Com forte vocação para o magistério, resolveu fazer um concurso para lecionar na rede estadual. Começou no Colégio Marquês de Santa Cruz, depois Colégio Estadual do Amazonas (D. Pedro II) e aí começou a ficar sem tempo. Dessa época, lembra de um fato que antecipou o seu afastamento dos campos. Afirma: “eu começava a lecionar no Colégio Estadual Pedro II e, certo dia, no instante em que me dirigia para a sala de aula, ouvi um comentário que serviu para orientar a minha vida. Um determinado aluno comentava com um colega que ‘esse colégio está tão esculhambado, que até esse cara, que é um jogador de futebol, está dando aula por aqui’. Percebi que era a hora de pendurar as chuteiras”. Maneca resolveu investir forte no campo da educação, chegando a dirigir, em épocas distintas, o Colégio Estadual Pedro II e a Escola Técnica Federal.

O preconceito que influenciou para a antecipação do final da carreira do jogador Maneca nunca tirou os méritos do professor Manoel do Carmo Chaves Neto, que como matemático, é sempre alvo de elogios por parte de quem teve o privilégio de ser seu aluno. Como dirigente de clube foi um dos mais laureados. Os números estão aí para comprovar. Se no Nacional, onde exerceu a presidência, e foi hexacampeão (1976 a 1981) e tetracampeão (1983 a 1986) como assessor da presidência, o seu nome é lembrado por muitos torcedores, no São Raimundo ninguém consegue esquecê-lo. Foi com ele que o clube de Ismael Benigno conseguiu quebrar um longo jejum de títulos. Como patrono do futebol, foi tricampeão (1997, 1998 e 1999), tri da Copa Norte (de 1999 a 2002) e vice-campeão brasileiro da série C em 1999. Com tantas vitórias no seu extenso currículo, Maneca dispensa apresentações. Como Deputado Estadual foi um nome muito respeitado no parlamento estadual.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolauliboriomp@gmailcom)