O doutor Rogélio Casado foi dos psiquiatras mais respeitados neste Estado. Não tivesse ele cometido a besteira de morrer tão cedo, eu submeteria à sua apreciação a lista abaixo, que, no meu laico e modesto sentir, contém sintomas claros de anormalidade mental. Seria curioso ver quantas vezes acertei ou se, ao contrário, ele me submeteria a tratamento imediato:
Achar que o Lula e a Dilma são comunistas.
Achar que o Chico Buarque deixou de ser gênio porque é amigo do Lula.
Achar que o Bolsonaro e seus filhos são normais e democratas.
Achar que o Supremo Tribunal Federal é uma aberração porque mandou cumprir a Constituição.
Ter saudades da ditadura.
Elogiar torturadores.
Gostar de dupla sertaneja, axé e funk.
Torcer pela Argentina.
Achar que o Neymar é um craque.
Dizer que bandido bom é bandido morto.
Achar que a reforma da previdência vai resolver todos os problemas do país.
Achar que prender as pessoas é a forma mais eficiente de combater a criminalidade.
Não gostar de Mozart.
Ser um antitabagista chato; ser um ecochato. Aliás, ser chato de modo geral.
Ser anticomunista.
Ser fanático religioso.
Considerar o Maduro e o Evo Morales marxistas.
Ler livros de autoajuda.
Não ler livro nenhum.
Dizer que o nazismo era de esquerda.
Ver o Cristo numa goiabeira.
Ver novelas.
Comentar as novelas.
Assistir ao Faustão, ao Fantástico e ao Sílvio Santos.
Passar trote para o SAMU e para os bombeiros.
Não gostar de pirarucu, tucupi e pimenta murupi.
Não achar o Rio Negro boçal de tão bonito que ele é.
Não gostar de Manaus.
Dizer que joga bingo muito bem.
Achar que o Maradona foi melhor que o Pelé.
Depois dos sessenta, não ter netos.
Não fazer tudo o que os netos querem.
Não tomar uísque Johnnye Walker rótulo vermelho.
Colocar refrigerante no uísque.
Nunca ter visto um pôr do sol na baía do Rio Negro.
Tomar vinho em copo descartável e/ou sem um copo d’água ao lado.
Não distinguir viaduto de veado adulto.
Achar que a polícia federal não erra.
Ter medo de fantasma.
Gostar de luta-livre e condenar briga de galo como desumana.
Achar que câncer só dá na casa do vizinho.
Não gostar de Pavarotti, Plácido, Carreras e Bocelli.
Nunca ter lido Machado de Assis e Eça de Queiroz.
Ter lido e não gostar de nenhum deles.
Usar o zapzap para ficar desejando bom dia e bom domingo.
Usar o facebook para alardear o que está fazendo, como se interessasse a alguém.
Dizer que o Brasil não é um país sério.
Beber e dirigir. E achar que dirige melhor quando bêbado.
Achar que “navegar é preciso” significa que navegar é necessário.
Conseguir ler até o fim “Grande Sertão, Veredas”.
Achar que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Atravessar rua falando ao celular.
Chupar din-din.
Não gostar de tartaruga.
Fazer uma tartarugada com batata portuguesa, azeitona e ovo de galinha. E maxixe.
Ser racista e/ou homofóbico.
Endeusar o Moro como paladino da justiça. “Somos todos Moro” uma ova.
Acreditar que o Edir Macedo é um santo homem.
Pensar que os direitos humanos só servem para proteger bandido.
Ser admirador do Trump. Mas aí eu acho que já não é só um sintoma.
A lista está aberta para inclusões e exclusões.(Félix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected])