O texto me foi enviado através do zap pelos amigos Alfredo Cabral, Tadeu Nery, Domingas Laranjeiras e Paulo Nogueira. Veio com as seguintes observações: “O poema foi extraído do livro “Manaus – meu sonho”, organizado por Joaquim Marinho, lançado pela Valer” e “Transcrito (ipsis litteris) do livro Manaus meu sonho, organizado por José Joaquim Marques Marinho, Manaus: Editora Valer, 2010, 144 pp. Digitado por jcm em 22.02.2011”. Trata-se do poema “Manaus”, de autoria do doutor Ornan Bugalho Corrêa Filho. O recebimento me provocou reações contraditórias: recriminei a mim a mesmo por não ter conhecido antes esse verdadeiro hino de louvor à memória da minha cidade e, ao mesmo tempo, me regozijei por ficar sabendo que Ornan, indiscutível amante da música, também navega sob a proteção da musa da poesia.
Sem espaço, no jornal, para a integralidade do texto (coisa que remediarei no facebook), impossível deixar de, pelo menos, transcrever parte da ode tecida a esta cidade mágica. É uma forma de fazer com que meus conterrâneos experimentem as mesmas sensações que me assaltaram: carinho, amor e veneração. Começa assim:
“Ah, Manaus antiga de coisas lembradas
de amigos que outros rumos tomaram
uns para o mundo, outros, eternidade
reminiscências livres e tantas saudades.
O Café era da paz, a Leiteria mimosa
o pão doce a coalhada do Careiro
o pirão escaldado, o aipim macaxeira,
Autazes amanteigava o pé-de-moleque.”
Outras doces reminiscências:
“Manaus, onde o Brasil era um Bar; Botafogo,
uma sapataria, Vasco vendia o disco voador,
Flamengo era pente, para jogar botão feito
de caroço de tucumã. Aquilo que era jogo!
Ia-se da adega Portuguesa ao Canto da Alvorada
do Restaurante Central à Pensão Maranhense
e Bar Avenida ao Bife de Ouro ou Baratinha
se a grana era pouca a opção era o Guadalajara”
Como evitar a emoção com estas doces lembranças:
“Atravessar para os Educandos e São Raimundo
Só na catraia e muitas vezes a volta: na porrada
a cidade era fresquinha por causa dos igarapés
paralelepípedos, benjaminzeiros e mangueiras.
O Colégio Estadual era Ginásio Dom Pedro II.
O Instituto de Educação era a Escola Normal
Doroteia, Santa Terezinha e Maria Auxiliadora
eram das meninas o Dom Bosco, dos meninos.
Rosa de Maio desfolhava o ano todo
o bar Bom Futuro, ficava no clima frio,
Rapariga freqüentava até piscina
Ângelo e Verônica: viviam separados”.
E esta advertência, tão válida nos dias de hoje:
“Professora: Mestra, não tia ou facilitadora
respeito era no olhar. Diretoria? Terror!
Tabuada aprendia-se mesmo na palmatória
Castigo era “de joelhos” ou “chame seu pai”.
E a apoteose:
“Aqui as vogais prevalecem pra chuchu
Tacacá, aluá, tracajá, tucunaré, cafuné,
Tucupi, uarini, tucuxi, janauari, arari,
Acari e forró bodó, pacu, até pirarucu.
Manaós, dos abricós arigós e igapós
Manaus, dos aracus, candirus e anus
Manauense dos belenenses, cearenses,
Manauara, das iaras, cigarras e araras.
Manaus, a cidade dos nobres bares
das cunhantãs, dos igapós e igarapés
de um passado romântico e sossegado
que o tempo deixou pra trás… nunca mais…”
Muito obrigado, Ornan, por tanta ternura. Manaus é digna dos seus versos e da sua sensibilidade e você, em a louvando, revela o quão é ela pródiga em talentos.(Félix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected])