Significativo número de fóruns, painéis e webinars sendo realizados no Brasil e no mundo, tendo como temas centrais as possibilidades da bioeconomia e exploração sustentável da biodiversidade, demonstram que a Amazônia, definitivamente, virou moda. O que precisa ser levado em conta é refletir sobre qual o grau de interação de nossas universidades, da pesquisa e das organizações civis, levantando questões autóctones para discussão nessas oportunidades. Ao que observo, por tomar parte quase diariamente em alguns deles, tenho observado raras presenças locais nos eventos, alguns deles de altíssima relevância.
Exemplificando: no último dia 30 de junho foi realizado o Seminário Novos Futuros – Temas Estratégicos para o Desenvolvimento Tecnológico promovido pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do MCTI, para celebrar o centenário de sua fundação, no ano em curso. O evento teve a parceria do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – organização social vinculada também ao MCTI, que lidera importantes estudos de prospecção e avaliação estratégica. Com foco em inovação, as discussões centram-se em oportunidades e desafios em áreas tecnológicas que se mostram decisivas para a construção de um horizonte mais sustentável para o País, destacando-se os campos estratégicos da bioeconomia, exploração sustentável da biodiversidade, produtos para a saúde e tecnologias digitais.
Nesta edição, o encontro contou com a participação do professor Rafael Luque, do Departamento de Química Orgânica da Universidad de Córdoba, na Espanha, que discorreu sobre estratégias para um futuro mais sustentável a partir do design de nanomateriais e catálise aplicados à conversão de biomassa e resíduos. Ao Painel Estratégico, que confrontou perspectivas da academia, do governo, do setor produtivo e da sociedade a respeito da questão, tomaram parte, dentre outros especialista de renome, o coordenador-geral de Ciência para Bioeconomia do MCTI, Bruno Nunes; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich; a diretora de Ciências do Instituto Serrapilheira, Cristina Caldas e o presidente-executivo da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), Thiago Falda, com moderação da diretora substituta e pesquisadora do INT, Marcia Oliveira.
Fundamentalmente, os eventos em geral se debruçam sobre uma variedade impressionante de temas nos campos da biotecnologia e bioeconomia, centro das das mais importantes discussões técnicas. Enfatizam oportunidades e desafios em áreas tecnológicas que se mostram decisivas para a construção de um horizonte mais sustentável para o Brasil. Embora se constate um bom nível de conhecimento acerca da questão, autoridades reconhecem que entes públicos e organizações civis estão em geral dispersos, além de pouco conhecidos no mercado, especialmente dos agentes financeiros, patrocinadores corporativos e formuladores de políticas públicas. O Brasil se coloca entre os países de maior potencial para crescimento da bioeconomia por contar com agricultura sustentável, biomassa abundante (a mais barata do mundo) e uma riquíssima e diversificada biodiversidade.
A questão magna posta diz respeito a como transformar vantagens comparativas do Brasil, e da ZFM em particular, em vantagens competitivas. Para tanto, necessário se torna, recomendam a ciência, economistas e estrategistas em comércio internacional estabelecer ações estratégicas de curto, médio e longo prazo; trabalhar a interação universidade-empresa e priorizar investimentos em inovação tecnológica, peça chave do processo. Não se pode, entretanto, menosprezar a percepção de que produzir ciência, tecnologia e inovação custa caro. Países como China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e Alemanha investem anualmente em torno de 4% do PIB no setor. O Brasil, segundo o MCTI, em torno de 1,3 %. Não por acaso o país não consegue acompanhar os países líderes em avanço tecnológico no curso da revolução industrial 4.0.(Osíris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta – [email protected])