O presidente dos EUA, Joe Biden, não teve vida fácil em seu início de mandato. Eleito com um discurso de conciliação, combate à pandemia de Covid-19 e recuperação econômica, o democrata completa um ano de governo nesta quinta-feira (20) com a vacinação estacionada, a inflação mais alta em décadas, algumas derrotas políticas e o país mais dividido do que nunca.
Para piorar, a tarefa de administrar a maior economia do mundo pode se tornar ainda mais complicada se o Partido Democrata for derrotado nas “midterms”, eleições de meio de mandato que serão realizadas em novembro deste ano, como apontam as pesquisas.
Caso perca a pequena maioria que tem no Congresso a partir de 2023, a tendência é que a agenda política de Biden seja quase completamente paralisada pelos republicanos.
Além disso, os EUA enfrentam problemas externos, como a crise entre Rússia e Ucrânia, a disputa geopolítica com a China e os recentes testes balísticos conduzidos pelo governo da Coreia do Norte.
Cenário desfavorável
A questão econômica é uma das mais importantes para Biden. O país fechou 2021 com uma inflação de 7%, a maior em quase 40 anos, causada principalmente por problemas nas cadeias de distribuição logística de produtos e insumos, que fizeram os preços disparar nos últimos dois anos.
No front do combate à pandemia, Biden sofreu derrotas na questão da vacinação, que foi seu principal trunfo nos primeiros meses de governo, mas estacionou em cerca de 63% após o início da imunização infantil, e também na implementação de políticas de prevenção, muitas barradas na Justiça, como a obrigação do uso de máscara em empresas de médio e grande porte.
“Biden foi eleito, entre outras coisas, com discurso sobre a pandemia, se colocou como alguém que teria mais condições de resolver o problema que Donald Trump. E, se a gente olha os números, não foi bem assim, não houve um avanço significativo em vacinação e, agora com a variante Ômicron e o crescimento de casos, a percepção do público americano vem se deteriorando”, explica Carlos Augusto Poggio, professor de relações internacionais da PUC-SP.
Para o especialista, a questão econômica é ainda mais importante para definir o futuro do governo do democrata. “A pandemia interferiu sem dúvida na recuperação econômica. A preocupação é se essa inflação vai se manter a longo prazo, se vai ser estrutural. Isso é um problema para qualquer presidente”, diz.
Poggio acredita que o cenário para as eleições de meio de mandato, apesar de parecer altamente desfavorável para os democratas segundo as últimas pesquisas, ainda não está definido. Na votação de 8 de novembro, serão escolhidos os 435 membros da Câmara dos Representantes, 34 dos 100 senadores e 36 dos 50 governadores do país.
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“O país ainda está muito dividido, e uma parte considerável dos americanos nem considera Biden um presidente legítimo, por causa do discurso de fraude de Trump. O mais provável é uma derrota desastrosa dos democratas, mas existem cenários em que pode acontecer uma derrota apenas ruim, ou até um resultado que mantenha a situação parecida. Tudo depende de uma recuperação da economia e uma melhora na pandemia”, afirma o professor.
Segundo ele, a pequena maioria nas duas Casas do Congresso impediu Biden de avançar com alguns projetos importantes de infraestrutura que estavam pautados em 2021, mas uma derrota em novembro pode travar completamente a agenda legislativa do democrata. “Vamos ter que ver que tipo de republicanos serão eleitos, se serão mais alinhados a Trump ou mais tradicionais”, completa.
No cenário externo, os problemas também se acumulam. Criticado após a desastrosa retirada das tropas americanas do Afeganistão em agosto de 2021, o presidente dos EUA agora tenta controlar a situação tensa com a Rússia, que ameaça invadir a Ucrânia, e com a Coreia do Norte, que continua testanto mísseis balísticos hipersônicos.
Até o momento, as sanções contra funcionários norte-coreanos e russos pouco contribuíram para apaziguar as situações. Em dezembro, Biden chegou a conversar com o presidente russo Vladimir Putin, mas mesmo com ameaça de graves consequências a Casa Branca acredita que ele pode dar a ordem para invadir o país vizinho “a qualquer momento”.(R7 Brasília)