Recebi, sobre meu artigo da semana passada – “Dívidas acumuladas da ciência na região transcendem o ambientalismo radical” –, importantes comentários técnicos ressaltando a oportunidade da análise e a necessidade da academia e da pesquisa assumir protagonismo em relação à reestruturação e correção de pontos de estrangulamento do modelo econômico vigente, que se arrasta irredutível no Amazonas desde 1967, quando da instituição da Zona Franca de Manaus. É consensual, por parte de mentes mais esclarecidas e assentadas aos pressupostos técnicos da Revolução Industrial 4.0, que nossas instituições de pesquisa e as universidades terão que passar por profundas transformações para superar os imensos déficits que impedem convergências de ações nesse campo.
Premente que a Embrapa, cuja estrutura de pesquisa se agiganta a cada ano em todo o Brasil desperte para o potencial da bioeconomia amazônica. Especialmente no tocante aos meios tecnológicos para promover a integração, via Inpa, Ufam, Uea e Ifam, desse vasto setor ao Polo Industrial de Manaus (PIM). Com esse propósito, a base da pesquisa e desenvolvimento precisa, aqui, priorizar tecnologias de processo e produto e a formação de mão de obra especializadas ao nível das necessidades subjacentes ao padrão industrial 4.0.
Lamentavelmente, o CBA ainda mantém-se distanciado do “conjunto de projetos voltados ao desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação considerado pelo Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento na Amazônia – CAPDA, nos termos da Resolução Nº 2, do Ministério da Economia”, que dispõe sobre regras e procedimentos para a aplicação de recursos na execução dos programas prioritários para investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, na ZFM, de grande relevância para o desenvolvimento regional, potencializando o uso da informação visando ganhos de produtividade e eficácia.
Para Marcelo Viana, presidente do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), exemplos de desenvolvimento rápido mostram que, antes de tudo, um país precisa fazer escolhas e nelas fixar-se por meio de políticas de Estado, não de governos. Noção consolidada nos países líderes, “o atalho para o crescimento reside em investimentos casados em educação e ciências”. Uma boa universidade, salienta, “não deve apenas transmitir conhecimento, mas produzi-lo para estar na vanguarda, e só poderá fazer isso com uma turma talentosa e bem formada no ensino básico por meio de professores de alto nível saídos de boas universidades. Ciclo virtuoso que explica a ascensão da economia de países como China, Finlândia e Coreia do Sul.”
Viana tem plena convicção de que “o caminho para a academia brasileira é depender menos dos cofres públicos, encontrando maneiras de se conectar cada vez mais com o mundo privado, prática comum nos Estados Unidos e na Europa.” Uma lição que se aplica perfeitamente à realidade da universidade, da pesquisa brasileira e amazônica. “A cultura americana e europeia têm as instituições de ensino como parte do sistema produtivo. No Brasil, um abismo legal e ideológico separa o mundo universitário do empresarial, em claro prejuízo para ambos os lados, que pouco se conectam ou falam. Por isso o país é tão inexpressivo no ranking mundial da ciência, tecnologia, inovação e de patentes”, ressalta.
Esse descompasso responde diretamente pela ampliação do desastroso gap que explica o fato inexorável de que, no Brasil, nem o setor produtivo vai à universidade, nem a universidade se aproxima do setor produtivo. Não se pode deixar de lado o fato de que, sobre os ombros de pesquisadores, professores e gestores públicos reside a responsabilidade de fazer o pais ajustar-se ao mundo globalizado, e, desta forma, via difusão de sistemas operativos conectados à quarta geração industrial por sensores, máquinas, processos e pessoas, adequar a manufatura brasileira ao perfil tecnológico da indústria 4.0.(Osíris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta – [email protected])