Da obra “Sinergias e mudança da agricultura amazônica: conflitos e oportunidades”, aqui analisada, em relação ao Amazonas destaco o artigo “Reflexão sobre escolhas econômicas, agricultura e sustentabilidade no ́processo de desenvolvimento do Amazonas”, de autoria dos pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental Lindomar de Jesus de Sousa Silva, Gilmar Antônio Meneghetti e José Olenilson Costa Pinheiro. O texto faz profunda reflexão acerca dos desafios da agricultura no Amazonas, salientando que “a ausência de uma estratégia de estado, visando ao desenvolvimento rural, torna qualquer iniciativa pouco frutífera, insustentável, contribuindo pouco para a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e para tornar o meio rural um lugar bom para viver e gerar renda”.
O Polo Industrial de Manaus (PIM), salienta o estudo, mantém tênue “conexão ou interação com outros setores da economia local, incluindo o agrícola”. A agropecuária e o extrativismo, que deram suporte ao processo de desenvolvimento em outras épocas, ficaram à margem do modelo econômico adotado e distante da nova onda de desenvolvimento. Essa desconexão entre setores econômicos resultou, e perdura até hoje, na dependência generalizada da importação de alimentos de outros estados e regiões do País”.
Particularmente em relação às indústrias de concentrado, embora com forte presença no consumo de refrigerantes e bebidas, principalmente as energéticas, em que o guaraná configura insumo básico, “essa perspectiva, entretanto, não impulsionou a produção de guaraná, que teve até mesmo uma redução de área plantada e produção, mesmo existindo uma demanda industrial e tecnologia agropecuária disponibilizada pela Embrapa”. Os autores evidenciam que “os processos relacionados ao fortalecimento de atividades produtivas sustentáveis praticadas por comunidades amazônicas têm sido lentos e demoram a ser legalizados pelas instituições públicas. O manejo do pirarucu, uma prática comprovadamente benéfica, no entanto, ficou durante muito tempo relegada aos interesses dos atravessadores, trazendo pouco benefício aos extrativistas”.
No entender dos autores, que há longos anos dedicam-se ao estudo das inconsistências e fragilidades do setor primário amazonense, “há grandes desafios a vencer, como tornar o desenvolvimento do setor primário efetivamente meio de produzir alimentos e tornar-se real opção na composição da matriz econômica do estado, hoje baseada no modelo industrial, que dominou o debate, o pensamento, as estratégias de desenvolvimento econômico e inibiu outras opções, ao longo de mais de 50 anos”. A etapa passa, “necessariamente, por ajustes na forma de entender o desenvolvimento, os problemas que não foram solucionados ao longo do tempo e de problemas que, se não solucionados, poderão continuar travando a agropecuária amazonense”.
Souza Silva, Meneghetti e Pinheiro entendem que fatores como “acesso à terra (regularização fundiária), capacitação da força de trabalho; acesso a mercados, melhorando e viabilizando a infraestrutura de transporte; agregação de valor aos produtos comercializados; aporte de canais de informação sobre mercados seguros; garantia de direitos; acesso a políticas públicas são essenciais, com forte potencial de promover encadeamento de atividades econômicas e, assim, alcançar um desenvolvimento harmônico entre a agricultura, a indústria e os serviços no Amazonas”. Necessário se torna, entretanto, superar a percepção equivocada, sustentada localmente sobre o real significado da palavra ‘desenvolvimento’, como “diretamente vinculado à ideia do “industrial”, ou mais precisamente à Zona Franca de Manaus”, e apagar o estigma latente sobre a “floresta como símbolo do atraso e a indústria como vetor de desenvolvimento”. Enquanto isso, “fibras, guaraná e tantos outros itens de nossa biodiversidade que, articulados com a indústria poderiam alavancar o desenvolvimento, vivem em crises constantes”.(Osiris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta – [email protected])