Um assunto muito em voga na última semana são os vídeos da “Momo” que
estão, ou supostamente estão circulando na internet e aterrorizando pais e crianças ao
redor do mundo.
Confesso que ainda não vi o vídeo nem nada parecido, só uma foto da
escultura, o que já foi suficiente para me preocupar, já que ela chega a ser mais feia do
que o boneco Chucky, que na minha época nos assustava, imaginando que só ela já
seja capaz de trazer pesadelos.
Mas o objetivo desse artigo não é dar mais ou menos visibilidade à questão da
boneca, ou as supostas ameaças que a mesma traz, e sim tentar entender como
chegamos nela.
Fomos crianças que brincávamos na rua, andávamos livremente de bicicleta,
patins, skate, jogávamos queimada, pulávamos amarelinha, pique pega (ou manja
pega aqui em Manaus). No meu caso, que morava em prédio, descia final de tarde e
brincava até minha mãe chamar para o jantar e subia reclamando, já que ninguém
queria parar de brincar. Televisão, eram poucos os momentos, normalmente antes de
dormir e após o jornal nacional, ou nos dias em que não tinha aula, algum programa
matinal de desenho.
Lembro perfeitamente bem do meu pai assistindo conosco o desenho do gato
Manda Chuva, ele e nós, adorávamos, ou jogando vídeo game, um único jogo, “River
Raid”, também por curtos períodos de tempo, pois nossa maior diversão era descer
para brincar com nossos amigos.
Confesso que nunca fui muito adepta a deixar meus filhos na frente da
televisão de forma indiscriminada, coloquei os dois cedo na escola, assim estariam
com outras crianças e não com um aparelho, mas ela é inevitável, até mesmo para nós,
adultos. Por conta de ter sido muito “moleca” meus filhos tem ou tiveram patins,
bicicleta, patinete, tudo que os faça se mover, viver, correr, suar, brincar, e sem
“plástico bolha”, afinal, faz parte cair e aprender a levantar.
Hoje, responsabilizamos a violência pelo nosso relapso com nossos filhos. Nos
trancamos em condomínios, trancamos nossos filhos em casa, liberamos a televisão, o
computador, os tablets, tudo em prol de uma suposta segurança, mas aonde
realmente ela está?
Será que estamos agindo de forma correta? Talvez não. Acabamos expondo
nossos filhos a novos tipos de ameaças, muitas vezes invisíveis aos nossos olhos, por
mais atentos que possam ser.
O mundo mudou, a tecnologia veio nos fazer companhia de forma irreversível,
nossos filhos se isolaram em redomas só deles, ou dos que, como eles compartilham o
universo online.
São os dois lados da moeda, da mesma forma que podemos acreditar estar os
protegendo, estamos deixando-os extremamente vulneráveis, não sabemos com quem
eles se comunicam, se crianças, adolescentes ou adultos, qual a real intenção de quem
compartilha esse mundo virtual.
Voltamos a história da “Momo”. Qual o objetivo de um adulto – sim, um adulto,
uma criança nunca teria capacidade para tamanha maldade – assustar crianças, induzir
nossos filhos a cometerem atos contra si ou contra terceiros, se matar, esfaquear seus
pais, ou mesmo causar o pânico? Caso se faça ou não algo, uma coisa muito ruim vai
acontecer?
Nosso mundo está doente, será a ausência de contato físico o motivo para
tamanha sandice? Será que de fato protegemos? Ao colocar nossos filhos em redomas
invisíveis, não os estamos deixando mais vulneráveis e indefesos diante de tantos
perigos? Estaremos os ensinando a se levantar?
São muitas perguntas que provavelmente vão ficar sem respostas, de certo não
são conclusões fáceis de se chegar, mas não estaria na hora de voltarmos a ser
crianças? Sentar com nossos filhos e jogar Imagem e Ação, War? Andar de bicicleta,
jogar futebol? Dar a devida atenção que eles merecem, dinheiro não substitui afeto,
abraços e beijos não se permutam por presentes, e o tempo não volta.(Luciana Figueiredo é advogada)