É indiscutível que sob o governo Bolsonaro a fome aumentou substancialmente no Brasil. Não era de esperar outra coisa, na medida em que a política neoliberal de Paulo Guedes é voltada para o grande capital financeiro, sem nenhuma preocupação com a infraestrutura. A consequência era inevitável: os muito ricos viram aumentar seu cabedal, enquanto os pobres foram sendo arrastados inexoravelmente para a linha da miséria.
Emblemático o drama do garoto de onze anos, em Minas Gerais. A criança pega o telefone e liga para o 190. O policial atende e pergunta qual é a emergência e ouve a resposta: eu estou com fome, eu, meus irmãos e minha mãe; nós não comemos há três dias . Escandaloso. Vergonhoso e cruel.
Seria tolice pretender que a culpa direta por essa situação dramática seja única e exclusivamente do Bozo. É óbvio que para ela concorrem fatores das mais variadas ordens, inclusive históricos. Mas uma coisa é certa: ele, o Bozo, não fez absolutamente nada para impedir que as estruturas sociais brasileiras se esgarçassem mais do que já estavam, gerando mais desemprego e, por via de consequência, mais fome.
Agora, deflagrada a corrida eleitoral, dá para perceber com clareza solar para onde ruma a candidatura do presidente. Aliando-se a religiosos que têm o dinheiro como deus, revela-se intolerante para com outros credos, discriminando-os e minimizando sua importância. Os católicos, por exemplo, não recebem qualquer palavra amigável e, apesar de serem maioria, ficam relegados ao mais monacal esquecimento.
No plano ideológico, Bozo não inova e traz para o cenário o mais histriônico e ridículo anticomunismo, nos moldes daquele que, na década de 60 do último século, era praticado pela TFP. Para os mais jovens, essa sigla significava Tradição, Família e Propriedade e era comum ver pelas ruas seus adeptos, com bandeiras negras, a vaguear, difundindo entre os beócios o medo de um comunismo só deles conhecido.
Vi na internet um bolsominion pregando para um punhado de infelizes. O animal estava fardado e dizia algo mais ou menos assim: se o comunismo voltar (quando foi que ele esteve aqui? – alguém me diga, por favor), ele vai tomar a casa de vocês. Vai chegar e dizer: a partir de agora essa casa não é
mais sua; ela vai passar a ser propriedade do Estado”. É de uma imbecilidade monumental. Cuido que nem a mais ingênua das pessoas pode dar o mínimo de valor a uma pregação desse tipo. Ela serve, porém, para patentear o espírito da campanha desenvolvida pelo Bozo.
Já tive oportunidade de relatar, mas vou repetir porque é bem cabível diante da lengalenga bolsonarista: a tal TFP entrou no casebre onde estava sentada, num tamborete de madeira, uma senhora idosa. “Minha boa velha”, disse o energúmeno, “tenha muito cuidado com o comunismo”. Indagação: “o que é esse tal de comunismo?”. “Ah, minha senhora, é o próprio satanás. O comunismo tira o que é da gente e dá para os outros”. Réplica: “Então tomara que já venha um comunismo desses; pode ser que assim eu ganhe pelo menos uma cadeira de balanço”. Pano rápico.(Felix Valos é Advogado, Professor Escritor e Poeta – [email protected])