Embate político deveria ser uma troca de ideias – Por Luciana Figueiredo

Advogada Luciana Figueiredo(AM)

Assistimos durante a semana a mais um episódio que reflete de forma negativa
no governo e, diretamente, na vida financeira do país. Desta vez foi a confusão na
Comissão de Constituição e Justiça – CCJ, durante a sabatina ao ministro Paulo Guedes,
o que levou a instabilidade na bolsa de valores, que fechou em queda, e a alta do
dólar.

O objetivo da ida do ministro na CCJ era participar de uma audiência pública
com objetivo de debater sobre a reforma da Previdência, compromisso que já havia
sido adiado diante da alegação de que seria mais produtivo o comparecimento após a
definição do relator da reforma. Na quarta-feira passada, no entanto, sua presença
causou furor na sessão.

De uma forma geral, o ministro foi sabatinado por parlamentares da oposição
que não pareciam muito preocupados com questionamentos técnicos acerca da
reforma, e sim discursos políticos, o que, de certa forma, faz parte do “trabalho” da
oposição. Na verdade, o tom dado à pregação da oposição é que me pareceu
equivocado, exagerado.

Não se veem mais discusões acaloradas, recheadas de ideias e ideais, embates
políticos que acresciam aos que debatiam e aos que os assistiam. Hoje o que temos
são agressões gratuitas, sem base ou fundamento, com o claro objetivo de denegrir a
imagem e fala do interlocutor e os posicionamentos que sejam contrários aos dos
agressores.

A postura adotada frente a um assunto tão importante, como a reforma da
previdência, é sofrível. Trata-se de um tema que nos afeta diretamente e aos nossos
filhos, reforma que se mostra necessária e urgente, principalmente sob o ponto de
vista dos economistas que apostam na retomada do crescimento do país. Quanto aos
termos em que a reforma se dará, esta é uma discussão que deve ser aprofundada e
explicada a exaustão, não só aos nossos parlamentares, mas a população em geral,
que, no final será a maior beneficiada ou prejudicada.

No entanto, o que se viu, em uma reunião que deveria ter sido técnica, foram:
agressões, bate-bocas, gritarias e discussões. Em determinado momento me pareceu
que estávamos em um estádio de futebol, com todas as paixões a flor da pele, com a
razão e cordialidade sendo postas de lado, no melhor estilo, ganha quem gritar mais. O
ministro em muitos momentos não conseguia se fazer ouvir, diante da enorme gritaria
de alguns, o que é totalmente inadmissível.

Estavam presentes na reunião, parlamentares e ministros de Estado. Os
representantes do povo, eleitos democraticamente para defender o direito daqueles
que os elegeram e os ocupantes de um alto cargo político do Poder Executivo que
respondem diretamente ao Presidente da República e a quem compete dar rumo
estratégico às áreas de interesse da nação. Vimos um circo.

A reunião terminou da forma mais deplorável possível, com o ministro sendo
retirado da sessão, escoltado, recebendo e, em alguns momentos proferindo as mais
diversas agressões, que saíram, e muito, do embate político, tomando um rumo
pessoal.

Óbvio que, diante do lamentável espetáculo que se formou, a imagem do Brasil
foi, mais uma vez, afetada mundialmente, o que se constata e se verifica nas
constantes quedas na bolsa de valores e sucessivas altas das moedas estrangeiras,
cena que, graças a tecnologia, percorre o planeta em questão de segundos.
Diante de todo o circo armado e de tudo que é e foi visto, a pergunta que não
quer calar: e a reforma da previdência, como fica?(Luciana Figueredo é Advogada)