Em 10 anos de pontificado do Papa Francisco, completados na última segunda-feira, 13, vergonhas brasileiras como a fome, a miséria, a violência, o desmatamento e o preconceito se agravaram. Mas também por isso o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, 86 anos, é citado como o pontífice certo para o atual momento histórico, pois ofereceu acolhimento aos desamparados.
“Parece que cada época da História ganha um Papa que corresponde às necessidades daquele momento. Nesse sentido, o Papa está tendo uma relevância extraordinária”, afirmou à coluna Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e 1º vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Ao longo do seu pontificado, o papa se destacou com mensagens de acolhimento e respeito a homossexuais, ainda que não tenha avançado com nenhuma medida concreta para celebrar casamentos homoafetivos na Igreja Católica. Também se engajou na defesa dos mais pobres, dos indígenas e do meio ambiente. Por tudo isso, tratou do Brasil em diversos pronunciamentos e iniciativas.
Em fevereiro, Francisco enviou mensagem de solidariedade à tragédia humanitária dos índios Yanomami, atacados por garimpeiros e levados à desnutrição pelo governo de Jair Bolsonaro.
Os ataques golpistas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no dia 8 de janeiro, também mereceram crítica do papa. Uma dia depois do vandalismo em Brasília, ele atribuiu os ataques ao enfraquecimento da democracia.
“Penso nas inúmeras crises políticas em vários países do continente americano, com sua carga de tensões e formas de violência que exacerbam os conflitos sociais”, afirmou Francisco, em discurso no Vaticano. “Penso especialmente no que aconteceu recentemente no Peru e nas últimas horas no Brasil”, acrescentou.
A quatro dias do segundo turno presidencial, o pontífice afirmou, durante a missa semanal na praça São Pedro, em Roma, que rezava para que o povo brasileiro se livrasse “do ódio, da intolerância e da violência”.
Francisco foi também alvo de ataques de Bolsonaro. Isso aconteceu, por exemplo, quando criticou o desmatamento na Amazônia, em fevereiro de 2020, e fez um apelo pela proteção da floresta. “O papa Francisco falou ontem que a Amazônia é dele, do mundo, de todo mundo. Por coincidência, estava aqui com o embaixador da Argentina [Felipe Solá] e eu disse: ‘O papa é argentino, mas Deus é brasileiro'”, disse Bolsonaro na época.
Recentemente, o papa manifestou interesse em retornar ao Brasil, depois de vir ao país para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Francisco quer visitar a Região das Missões Jesuítas, com passagens pelo Rio Grande do Sul, pela Argentina e pelo Paraguai. Mas uma doença tem feito o papa se movimentar com o uso de uma bengala ou uma cadeira de rodas. Pelas dificuldades de locomoção, uma nova vinda ao Brasil é agora considerada incerta.
“Perguntamos a ele no ano passado sobre essa nova viagem ao Brasil. Ele parou, pensou e depois disse que tinha intenção de visitar a Região das Missões, mas que tinha na agenda várias viagens internacionais. Então não sei se ainda está nos planos dele”, afirmou Spengler.
De todo jeito, os planos do papa parecem fluir exatamente como indicou no início do seu pontificado. Ele mostrou a que veio quando escolheu o nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, como uma declaração de amor aos mais pobres.
“Francisco deu visibilidade aos mais pobres. Deu visibilidade aos imigrantes. Veio representar um clamor por uma igreja mais afetiva”, avalia o frei Clézio Menezes dos Santos, ministro provincial da Província Nossa Senhora de Fátima do Brasil Central e presidente da Conferência dos Capuchinhos do Brasil (CCB).
“As encíclicas de Francisco foram um chamado para estarmos juntos, nos preocuparmos com a economia, com o planeta. Foram uma volta às origens do catolicismo. Ele conseguiu grandes avanços”, avalia Maria José Coelho, ministra nacional da Ordem Franciscana Secular do Brasil.(Redação do Terra)