Dá para perceber que os arraiais da direita estão em agitada festa. A causa dessa alegre disposição é o resultado do pleito presidencial nos Estados Unidos. Sendo isso verdadeiro, fico eu, na minha abissal ignorância, sem entender nada. Até parece que a candidata derrotada era a versão feminina do Che e estava firmemente empenhada no êxito da revolução socialista. Em razão disso, a vitória de Trump é também a do capitalismo mais indecente, salvando-se, assim, as bases da “democracia ocidental e cristã”.
Ora, mas quanta tolice! Nunca houve um candidato à presidência do império do norte que tivesse, nem de longe ou em sonho, qualquer preocupação com os problemas sociais. Todos, sem exceção, eram (ou são) milionários, representantes legítimos do regime capitalista, no qual veem o fim da história, com a consagração definitiva da exploração da classe operária.
Temos, pois, que, sendo Kamala e Trump farinha do mesmo saco, ambos da mais abominável direita, nenhuma diferença faz para a História o êxito eleitoral de um ou de outro. Com ele ou com ela, a indústria bélica vai continuar em ascensão, os xerifes do mundo vão continuar interferindo na soberania de outros países e as guerras continuarão a ceifar vidas, como ocorre nesse genocídio na Palestina.
Aqui no Brasil especificamente, a patologia bolsonarista teve orgasmos de idiotice depois que o resultado foi proclamado. Parecia até que os mortos na pandemia tinham ressuscitado e dado perdão expresso ao abominável pelo crime de tê-los conduzido ao óbito. Deu também para imaginar que as joias árabes nunca tinham sido subtraídas do erário, de tal sorte que o crime contra a administração pública não existiu. Enfim, a impressão era a de que se tinha passado um pano e feito uma limpeza completa na trilha da saga bolsonarista, a qual ressurgiria, pela só vitória trumpista, incólume e virgem, revigorada e pronta para novos assaltos.
Tenham a santa paciência. Cheguei a ouvir o senhor Alexandre Garcia, aquele que um dia foi jornalista, aventar a seguinte possibilidade: Trump daria um passaporte ao abominável, como forma de burlar a decisão judicial brasileira que lhe confiscou tal documento, impedindo-o de deixar o país (na verdade, o distrito da culpa). É uma alucinação completa. Surto paranoide, a provocar mais pena que indignação.
Não sei se foi igualmente efeito da eleição americana o comportamento do bolsonarista que, ontem, foi jogar bomba no Supremo Tribunal Federal. Esse era o terrorista ideal: completamente estúpido a ponto de ser o único a morrer no atentado por ele mesmo perpetrado. Está bem de acordo com o comportamento da seita a que pertencia o infeliz.
E ainda querem falar em anistia. Nem pensar. Quem pôs em risco a estabilidade democrática, quem depredou e destruiu patrimônio público, quem subtraiu valores do erário, não pode e não deve ficar impune. Anistia para o 8 de janeiro seria zombar da dignidade nacional.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected])