
Como ser humano, estou revoltado com a covardia do assassinato do jovem Fernando Vilaça. Como cidadão brasileiro, estou indignado com a leviana ousadia de Donald Trump de interferir na soberania de nosso país.
No primeiro caso, trata-se de um resquício de mentalidade calcada nas monarquias absolutistas e nas sociedades escravocratas, incapaz de compreender a cristalina verdade de que somos todos iguais. Quando alguém se considera superior a outro em razão, por exemplo, da cor da pele, traduz no seu comportamento uma irreversível debilidade mental. O mesmo se há de dizer relativamente à orientação sexual. Pelo que me consta, o adolescente Fernando foi achincalhado por ser homossexual. Não conformado com a discriminação, reagiu. Foi o suficiente para que desembestasse contra ele a fúria dos idiotas que o ofenderam, culminando com o homicídio puro e simples. Barbárie no seu estado mais intolerável. Se olharmos com indiferença um acontecimento desse tipo, estaremos, em última análise, manifestando conivência com a estupidez.
A sociedade dispõe de meios para reprimir tais comportamentos. Há que aplicá-los com o rigor necessário. Sem embargo disso, melhor seria que pensássemos na prevenção, por via de um processo educativo que, inevitavelmente longo, nos levasse à compreensão coletiva de que o respeito recíproco é base inafastável da boa convivência. Enquanto essa reação, digamos, socioquímica evolui, manifestemos, pelo menos, nosso constrangimento pela morte precoce de um ser humano que outra coisa não quis, a não ser viver autenticamente.
No caso de Trump, a indignação é cívica e patriótica. Um trogofascista, travestido de chefe de Estado, se atribui a condição de imperador do mundo e ousa, com desfaçatez inigualável, tentar se imiscuir nos negócios internos de nosso país. Em carta confusa, que poderia ser assinada por qualquer analfabeto funcional, o presidente da decadência imperial que são os Estados Unidos nos faz ameaças explícitas e impõe sanções tarifárias.
Alguém, na internet, manifestou o receio de que, na sua paranoia, Trump chegue ao delírio de nos agredir belicamente. Não é infundada a preocupação. Afinal de contas, um país cuja economia vive de guerras estará sempre disposto a deflagrar mais uma, estúpida como todas, desde que isso satisfaça seus interesses mesquinhos.
O mais grave disso é que, por incrível que pareça, existem brasileiros que se mostram condescendentes e alguns (que coisa terrível!) até aplaudem o insano comportamento do ianque. Até o inesquecível Rogélio Casado haveria de concordar em que são casos de internação manicomial. É preciso baixar ao mais reles estágio do
complexo de vira-lata, para não perceber a arrogância e o despropósito da postura trumpista.
Sobre o assunto, recomendo com muita ênfase a leitura do editorial de ontem, 10 de julho, do jornal Estado de São Paulo. Partindo de tal fonte, não é possível vislumbrar preferências ideológicas. Simplesmente o texto disseca a matéria, com proficiência jornalística e política, demonstrando o quanto há de inaceitável na provocação que vem de nos ser feita.
É hora de erguer a cabeça e mostrar se temos ou não orgulho de sermos brasileiros. Como fiz em outro ponto, relembro o Hino da Independência: “Ou ficar à Pátria livre ou morrer pelo Brasil”. Não há, não pode haver meio termo. Já não se trata de vestir a camisa da seleção de futebol. Cuida-se, ao contrário, de provar ao mundo que “não pode ser escravo quem nasceu no solo bravo da brasileira nação”.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor, Poeta – [email protected]) – 12.07.25)