
O estádio Vivaldão foi pré-inaugurado em 5 abril de 1970, com a presença de Pelé e grandes craques da seleção brasileira. A seleção que ganhou o tricampeonato mundial ao vencer a Itália, no jogo final, no México, em 21 de junho, dois meses e 21 dias depois. Daquele distante abril até a sua demolição que começou no dia 12 de julho de 2010, o estádio Vivaldo Lima, durante um bom tempo, foi o Colosso do Norte, o Tartarugão serviu de palco para grandes espetáculos. Tenho na memória o amistoso que terminou com um empate, sem gol, entre Fast e Cosmos de New York, na tarde de 9 de março de 1980. O público amazonense teve a feliz oportunidade de aplaudir Beckenbauer, um dos maiores jogadores do futebol mundial. Foi sede da Taça Independência, em 1972, na celebração do sesquicentenário da Independência do Brasil, com as presenças das seleções da Iugoslávia, Bolívia, Venezuela, Paraguai e Peru. Ainda em 1972 e 1973 registrou números expressivos de torcedores para aplaudir Nacional, Rio Negro e Fast, época em que os nossos clubes integravam a elite do futebol brasileiro. Não é demais lembrar do Rio-Nal decisivo em 1979, com recorde de público, quando foram vendidos 40 mil 193 ingressos.
A ideia da construção do estádio, no bairro de Flôres, no final da década de 1950 foi do governador Plínio Ramos Coelho. Da simpatia pelo futebol e preferência pelas cores do Nacional, entendia que a evolução do esporte exigia algo bem acima do nível do Parque Amazonense e dos campos de pequeno porte, onde eram disputados os jogos da primeira e segunda divisões de competições que ainda não conheciam o profissionalismo. A conquista do título, em 1957, pelo Nacional, aumentou o ânimo do governador. A sua primeira providência foi desapropriar a área. E não foi nada difícil, porque naquele tempo ninguém se importava muito com um terreno que ficava a quilômetros do centro da cidade.
Para homenagear um saudoso amigo e fiel correligionário, Plínio decidiu denominar a nova praça de esportes de Vivaldo Lima. Baiano natural de Salvador, bacharel em Direito, professor de física e química no Colégio
Amazonense Pedro II, professor de Medicina Legal na Faculdade de Direito, membro da Academia Amazonense de Letras, médico humanitário, professor, político respeitado, fundador do PTB-Partido Trabalhista Brasileiro, Vivaldo Lima também foi presidente do Nacional e, posteriormente, fundador do Nacional Fast Clube. Vale salientar que, se houve boa vontade para materializar a ideia, faltaram recursos financeiros no seu difícil primeiro mandato de 1955 até o início de 1959, quando passou o cargo ao jovem Gilberto Mestrinho. De volta ao Palácio Rio Negro em 1963, Plínio só permaneceu no cargo até o dia 27 de junho de 1964, derrubado que foi pelo regime militar.
Em 1965 na administração do governador Artur César Ferreira Reis, houve um pequeno ensaio para o início da obra. Os tratores abriram uma imensa cratera, o local ficou em condições de ser trabalhado, mas tudo voltou a estaca zero. Tempos depois, numa calorenta manhã do dia 30 de março de 1968, o governador Danilo Duarte de Matos Areosa, festejando o quarto ano do regime militar, chegou ao bairro de Flôres para, diante de autoridades militares, auxiliares e jornalistas, anunciar o início das obras do Tartarugão. No momento em que um trator do extinto DER-AM demonstrava que a obra começava para valer, Danilo garantia ao General Edmundo da Costa Neves, que estava ao seu lado, que dentro de breve tempo o Amazonas teria um dos melhores estádios do Brasil.
Mesmo sendo um represente do poder revolucionário, Danilo despertava simpatia. Para levar adiante a sua intenção de transformar em realidade o projeto do arquiteto Severiano Mário Porto, após o pontapé inicial, criou o Grupo Executivo de Construção sob o nome Administração do Estádio de Manaus- ADEM, que passou a reunir sob a presidência do Coronel PM Themístocles Trigueiro, uma vez por semana, em um barracão coberto de zinco, que ficava mais ou menos na área correspondente à avenida Pedro Teixeira. Do grupo faziam parte João Teixeira Fernandes Filho, Hugo Silva Reis, João Augusto Souto Loureiro, José Sérgio da Paz, José Cesário de Menezes, Carlos Lins, Irisaldo Godot, Arnaldo e, logicamente, Flaviano Limongi, presidente da FAF, um dos mais entusiasmados.
O primeiro gol da história do Vivaldo Lima foi marcado por um garoto atarracado, que chegou, anos depois, ao time principal do São Raimundo e
que atendia pelo “criativo” apelido de Caroço. E aconteceu exatamente no dia 31 de janeiro de 1969, em um torneio de escolinhas. Naquele domingo, em traje esporte, Danilo Areosa hasteava o Pavilhão Nacional, antes que mais de uma centena de garotos das equipes infanto-juvenil dos nossos principais clubes desfilassem pelo gramado. O grande destaque do torneio foi o São Raimundo, primeiro campeão do futuro Colosso do Norte.
Gramado pronto, testado e aprovado, a construtora Cointer Ltda deu seguimento ao trabalho, fazendo os túneis e os vestiários. A parte seguinte foi tocada pela empresa Irmãos Prata, que travava um grande duelo com o radialista Arnaldo Santos, um dos mais exigentes fiscais do trabalho. Na primeira fase da construção foram gastos um bilhão de cruzeiros antigos, em uma obra orçada em quatro bilhões. A construção estava sendo bancada com recursos da Loteria do Estado e, também, das fábricas de refrigerantes Andrade, Luseia, Magistral, Baré, da cerveja Brahma, da Livraria Escolar e de outros seguimentos da iniciativa privada.
A pré-inauguração aconteceu em 1970, na administração Danilo Areosa; João Walter de Andrade inaugurou em 1971; Gilberto Mestrinho determinou parcial restauração no início da década de 1980, mas o nosso saudoso Vivaldão só foi efetivamente concluído em 1996, na administração Amazonino Mendes, conforme havia sido originalmente concebido pelo arquiteto Severiano Mário Porto .
O Colosso do Norte, resultado de um sonho dos desportistas, deu espaço para a Arena da Amazônia, que serviu de sede para a Copa do Mundo de 2014. Depois disso, infelizmente, em razão do insosso nível do futebol local, baixa frequência de público, o novo estádio se tornou um fardo pesado, com manutenção de elevadíssimo custo, com poucos benefícios para a população, a Arena da Amazônia pode ser considerada um verdadeiro “elefante branco”.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado, Ex-Delegado de Polícia, Jornalista e Radialista – 01.08.25)