
O São Raimundo Esporte Clube, campeão amador de 1961, campeão profissional de 1966, tricampeão do Norte, anos 1997, 1998 e 1999, poderá sofrer, brevemente, um forte baque no seu patrimônio. A sede social, localizada na rua 5 de Setembro, estará sendo leiloada no próximo dia 22 do corrente mês às 10 horas, em razão da cobrança de uma dívida com o ex-presidente Raimundo David Jerônimo, conforme consta do processo número 0207600.20-11.8.04.000, que tramita no Juízo de Direito da Quarta Vara Cível e de Acidentes do Trabalho.
David Jerônimo, Promotor de Justiça aposentado, exerceu a presidência do clube na parte final dos anos 2000, acreditando que poderia transformar o clube do seu coração numa grande potência do futebol amazonense. No entanto, foi percebendo que seus planos eram dificultados pelas dívidas que se avolumavam. Pela inexperiência, resolveu arriscar. Primeiro buscou apoio junto aos demais membros da diretoria, queria ajuda, ajuda financeira, mas ninguém se mostrou disposto a meter a mão no bolso. Uns porque não tinham, outros porque já sabiam que não teriam o dinheiro de volta. Foi aí que Davi Jerônimo cedeu às pressões dos jogadores, que estavam há algum tempo sem receber salários. Consultou o seu extrato bancário, o saldo era bom e, por isso, não titubeou. Pegou parte da sua poupança e quitou a dívida com o elenco, com a “certeza” de tão logo o clube tivesse condições, seria ressarcido. Acontece que, tão logo deixou a presidência, percebeu que levaria uma “pernada” da nova diretoria. Parece que nem a conhecida frase: “devo, não nego, pago quando puder”, foi usada como desculpa.
Comenta-se que o “empréstimo” feito por David ao São Raimundo, em 2009, teria sido de 50 mil reais. Decorridos aproximadamente 16 anos, sem que uma solução fosse encontrada, os juros acumulados elevaram a dívida para um valor acima de 1 milhão de reais. A sede do São Raimundo foi avaliada em 2.500.000,00. O leilão vem aí e, por enquanto, nenhuma ideia razoável surgiu para contornar o grave problema.
Quando se fala em São Raimundo não há como não lembrar de Ismael Benigno, nome que identifica o estádio no alto da Colina, onde o Tufão já mostrou a sua força, conquistando títulos e merecendo destaque em algumas oportunidades, com as presenças de Pelé, pelo Santos; e Garrincha, pelo Flamengo, em 1968.
Voltando a Ismael Benigno, que foi vereador, deputado estadual, prefeito de Manaus, diretor da Rádio Difusora, nascido no bairro, chegou à presidência numa época em que o clube não tinha lenço e nem documento, apenas boa vontade para seguir o caminho. Com planejamento e muita dedicação, conseguiu feitos espetaculares. Construiu a primeira sede no lado oposto a sede do Sul América; construiu a atual sede; construiu o campo da Colina, chamado inicialmente de Gilberto Mestrinho. Em agosto de 1967, após duas décadas de trabalho, com a ajuda de Flaviano Limongi, presidente da FAF, inaugurou o sistema de iluminação do estádio e ajudou, assim, o futebol amazonense a experimentar uma nova fase, os primeiros momentos do futebol profissional. Após mais de 25 anos de inestimáveis serviços prestados, missão cumprida, pediu para sair, mas deixou muita saudade. As administrações que o sucederam, provavelmente por falta de planejamento e por muitas dificuldades financeiras, tiveram que se desfazer de parte do patrimônio: a primeira sede foi vendida. E agora, se a atual diretoria não tiver jogo de cintura, não encontrar uma solução jurídica, o Rei do Norte, terá que encontrar um novo endereço para estabelecer o seu reinado. Lamentável, tremendamente lamentável.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado, Ex-Delegado de Polícia, Jornalista e Radialista.) – 15.08.25
			
		









