
Uma das grandes responsáveis pela transformação da produtividade da agropecuária brasileira, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem um novo desafio: apoiar o produtor na transição para uma agropecuária mais verde, regenerativa, conservacionista e de baixo carbono. “Passamos por um novo momento em que, além de falarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar com métricas. A Embrapa tem um papel importante, por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde”, diz a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, no cargo desde 2023, período em que tem focado em inovação tecnológica e na atração de novos talentos para a instituição.
De acordo com o site da empresa, o caminho, por conseguinte, passa por desenvolver e transferir novas tecnologias aos 5 milhões dos produtores brasileiros, quer sejam os bioinsumos, a calculadora da pegada de carbono, ou a integração lavoura-pecuária-floresta, ou em levar indicadores para mostrar a sustentabilidade da agropecuária brasileira. “Mas temos também de avançar, estimulando os produtores de forma que possam ser recompensados por adotarem práticas mais sustentáveis”, defende. Saliente-se que a Embrapa foi fundamental para o agronegócio e a agricultura familiar darem salto de produtividade, mas novos desafios surgem como a nova revolução verde em curso no setor, do alimento à energia.
A Embrapa, historicamente, teve papel fundamental no estímulo à produção agropecuária. Desde sua criação, o país passou de importador para grande exportador de alimentos resultante de um processo de desenvolvimento de tecnologia avançada aplicável em qualquer tipo de clima e solo, ou seja, para a agricultura tropical. Foram tecnologias para aumentar a produtividade, o chamado efeito “poupa terra”, que permitiram expandir em 140% a área plantada e em 580% produção de grãos nos últimos 50 anos. Segundo Silvia Massruhá, “hoje passamos por um momento em que, além de mostrarmos que podemos aumentar a produção e a produtividade com sustentabilidade, precisamos comprovar isso com métricas. Vejo que, neste novo momento, a Embrapa tem um papel importante por ser um grande articulador, um novo indutor e facilitador da revolução verde”.
Na prática, a Embrapa, afirma sua presidente, pode ser um novo indutor, oferecendo o portfólio de tecnologias, participando desse movimento de agricultura sustentável. Por exemplo, com a fixação biológica de nitrogênio, o plantio direto, os sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF), os sistemas agroflorestais, os
sistemas consorciados, a recuperação de florestas e o próprio incentivo aos bioinsumos. São maneiras de incentivar o melhor aproveitamento do solo e com a visão de agricultura regenerativa, adotando práticas mais sustentáveis. Em relação a terras degradadas, a empresa vem trabalhando na recuperação com pastos e práticas sustentáveis ou sistemas agroflorestais, a depender da região. Está em curso o programa de recuperação de pastagens degradadas (mais de 160 milhões de hectares mapeados), com a meta de converter 40 milhões de hectares de pastos em dez anos.
A empresa, ressalta a presidente Silvia Massruhá, vem realizando estudos com o cruzamento de informações dessa área possível de ser recuperada com o zoneamento agrícola de risco climático, para mapear qual a maior aptidão agrícola de cada área. O Ministério da Agricultura tem apresentado o projeto no mundo todo para captar
recursos. A Embrapa entra com tecnologias. A partir do cruzamento de dados das pastagens com o zoneamento, “veremos quais são as tecnologias mais adequadas que podemos aplicar. Já existe um embrião que começamos a testar no Rio Grande do Sul este ano junto com Banco do Brasil e a Cooperativa Central Gaúcha. Programas que, em síntese, garantem ao Brasil continuar a manter liderança na produção mundial de alimentos ao lado de
gigantes como China e Estados Unidos”, salienta.
A Embrapa, entretanto, vive um dos momentos mais dramáticos de sua riquíssima e frutífera história. A empresa registrou, em 2024, déficit orçamentário geral de aproximadamente R$ 200 milhões. Para 2025, a situação não deverá melhorar. A previsão é de que o orçamento para custear a atividade dos pesquisadores na ponta seja ainda mais reduzido. A narrativa de sucesso da empresa, tantas vezes celebrada, parece estar em rota de colisão com a realidade atual. Nas últimas semanas, a Embrapa voltou às páginas dos jornais e às redes sociais, não pelas suas inovações, mas pelas preocupações com o esvaziamento orçamentário, a perda de
protagonismo e os sinais de crise institucional. E, como em outras ocasiões, reaparecem propostas de “salvação” com uma tônica preocupante: o financiamento com recursos privados e a colagem das atividades de pesquisa às demandas diretas das empresas e do setor privado.
A crise atual da Embrapa, apontam pesquisadores e analistas especializados, não pode ser resolvida simplesmente com o aporte de fundos privados e redirecionando seus esforços para demandas privadas. Isso equivale a amputar sua capacidade de pensar o futuro, de atuar em áreas negligenciadas pelo mercado, de liderar missões nacionais de interesse estratégico. Instituições como a Embrapa, as universidades públicas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para citar algumas, foram desenhadas para isso: ocupar o espaço em setores de alta tecnologia em que o mercado não entra essenciais ao crescimento econômico do país.
Enquanto isso, atingem volumes nunca antes imaginados na história brasileira recursos orçamentários da União comprometidos com Emendas Parlamentares, fundos partidários, viagens internacionais bilionárias, fundos sociais sem retornos planejados, crescimento de déficits monumentais em empresas públicas como os Correios.
O populismo orçamentário no Brasil hoje refere-se a uma conduta do governo que prioriza a expansão do gasto público e a construção de um discurso eleitoral para 2026, mesmo que isso resulte em desequilíbrio fiscal e altas taxas de juros, prejudicando a confiança e a previsibilidade necessárias para o crescimento econômico sustentável. Críticos sustentam que essa estratégia, embora destinada a agradar ao eleitorado, não é acompanhada por reformas estruturais ou cortes de gastos compensatórios, levando a um quadro de “gastança” em detrimento da responsabilidade fiscal e do bom funcionamento da economia.(Osiris M. Araújo da Silva Economista, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta – [email protected]) – 01.09.25)