
Dinheiro não traz felicidade é frase que, para mim, sintetiza a hipocrisia. E a óbvia conclusão foi obtida de forma bastante simples. Ainda não consegui, apesar das décadas vividas, conhecer um liso feliz.
Dinheiro, fama, prestígio fazem parte dos sonhos de muitos ou de quase todos os seres humanos. Daí a crença de alguns que se a essência é imutável, a existência é perfeitamente modificável. E o esporte, por razões comprovadas e exemplos conhecidos, já serviu de alavanca para elevar muitos anônimos à condição de celebridades.
O futebol, nesta moderna fase midiática tem sido o grande trampolim para a mudança de vida de vários, que preferiram encurtar o caminho em busca do sucesso. Ignorar a forma convencional de vida, que tem como alicerce os bancos escolares, às vezes, vale a pena. Às vezes, nem sempre, ressalte-se. Faço essa abordagem motivado por uma conversa com uma pessoa do povo. Dizia-me um motorista de táxi:
“Jogador de futebol ganha muito dinheiro. Tem que haver um limite de salário para eles, a fim de que não fiquem tão empolgados e comecem a fazer besteiras”.
Concordo em parte com o meu interlocutor, um homem simples, que deseja encontrar uma forma para impor disciplina a alguns deslumbrados, que não tiveram as lições básicas de educação e sempre foram carentes de uma boa orientação familiar. Concordo, portanto, que todo tipo de besteira deve ser coibido.
Na vida, em qualquer setor da vida, nada se consegue sem que haja planejamento, organização e muita disciplina. É preciso saber qual o objetivo a ser atingido, é necessário organização para se obter o resultado almejado e, logicamente, muita disciplina para fazer o que precisa ser feito.
Portanto, planejamento, organização e disciplina são pressupostos indispensáveis na busca de sonhos. Pensar e/ou agir de forma diferente é o mesmo que acreditar no “conteúdo filosófico” da canção popular: “deixa a vida me levar, vida leva eu”.
Concordo, evidentemente, que a irresponsabilidade, a arrogância, delírios de novo rico ou qualquer outra coisa que possa ser entendida como besteira deve ser prontamente repudiada.
Sobre a questão do limite salarial para o jogador, deparo-me com uma simples indagação: quantos jogadores de futebol são ricos e famosos ? A análise sugere uma outra pergunta: quantos vivem em níveis próximos do salário mínimo, ou melhor, qual o tamanho da legião dos quase miseráveis ? As respostas nos levam rapidamente a conclusão de que nem
sempre estão todos na condição ou na situação em que deveriam estar. Tudo é uma questão do momento, do lugar e da oportunidade. O resto é saber planejar, ter vida organizada e muita disciplina para não perder o controle do jogo.
Pode até parecer injusto que um jogador de futebol ganhe mais que um juiz de direito, um promotor de justiça, um engenheiro, um médico, um advogado ou um odontólogo. Afinal de contas todos esses profissionais consumiram tempo e recursos financeiros na árdua busca de espaço no mercado de trabalho. Mas levando-se em conta que ao jogador de futebol, profissão de risco e de curta duração, é exigido habilidade e talento, sorte daqueles que tiverem a oportunidade de conseguir contratos milionários. Se forem agraciados pelas oportunidades que tirem bom proveito da lei do mercado. Porque aos relegados, aos assalariados, que não buscaram alternativas fora dos gramados só lhes restarão a indiferença, a desilusão e as dificuldades reservadas aos cidadãos pobres e comuns.
Entretanto, não censuro aqueles que almejam o sucesso, a fama e a boa condição financeira. Essa busca faz parte da alma humana, de qualquer pessoa com corpo são e mente sã. Dizer que esses ingredientes não trazem momentos de felicidade é uma grande inverdade. Por que não dizer hipocrisia? Parafraseando o conhecido carnavalesco Joãozinho Trinta: quem gosta de miséria é intelectual. Explicando melhor: intelectual gosta de falar de miséria (dos outros) em lugar bem confortável e, se possível, deliciando-se com um bom whisky escocês. Esses intelectuais, supostos socialistas, adoram socializar o patrimônio dos outros.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado, Ex-Delegado de Polícia, Jornalista e Radialista) – 12.09.25