ECONOMIA/Cartório de compressores ameaça futuro do Polo Industrial de Manaus

O-presidente-da-Eletros-Jose-Jorge-Jr. com superintendente da Suframa Bosco Saraiva-/Foto: divulgação

A Zona Franca de Manaus abriga o segundo maior polo de produção de ar-condicionado do mundo, atrás apenas da China, mas vive hoje uma contradição que ameaça sua sobrevivência. O setor, responsável por 10% de toda a produção da ZFM, é obrigado a comprar compressores — peça central dos aparelhos — de uma única indústria localizada em São Carlos (SP).

A reserva de mercado foi criada em 2020, no governo Bolsonaro, e transformou a Tecumseh em fornecedora exclusiva para as 18 fabricantes instaladas em Manaus. Para o presidente da Eletros, José Jorge do Nascimento, o modelo é um “cartório” que asfixia o polo.

“Estamos vivendo uma política industrial equivocada. Temos o segundo maior polo do mundo, que consegue enfrentar a China, mas, por conta de um único fornecedor, vemos risco de derrocada”, disse Nascimento.

Gargalo imposto e punições fiscais

O problema não é apenas a dependência, mas também o descumprimento das metas de nacionalização previstas no Processo Produtivo Básico (PPB). A Tecumseh, segundo a Eletros, não consegue entregar os volumes contratados, deixando as fabricantes expostas a sanções pesadas: perda de incentivos fiscais, cobrança de todos os impostos retroativos da cadeia e multas.

Em 2024, a cota mínima era de 12%, mas só 5% foi entregue. O governo permitiu compensar em 2025, mas a situação se repete. Em 2026, a exigência sobe para 15%, ampliando a insegurança.

Consulta pública e risco de “bola de neve”

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) abriu uma consulta pública até 22 de setembro para flexibilizar as regras, reconhecendo que o fornecimento não cobre a demanda. Ainda assim, mantém a defesa da nacionalização obrigatória, sob o argumento de proteger a cadeia produtiva.

O setor, no entanto, alerta que essa proteção tem efeito contrário: em vez de estimular novas fábricas, inviabiliza investimentos, já que a instalação de outra planta de compressores exigiria cerca de R$ 200 milhões e escala mínima de 7 milhões de unidades — um retorno considerado inviável.

Oportunidade desperdiçada

O mercado brasileiro de ar-condicionado é promissor: apenas 17% dos lares têm o equipamento, enquanto na América Latina há um potencial de 500 milhões de consumidores. O polo da ZFM cresceu 38% em 2024, superando a média da indústria.

Mas o crescimento encontra dois gargalos: a reserva de mercado e a logística cara e precária. A pavimentação da BR-319, que poderia reduzir custos de escoamento, segue travada por entraves ambientais. Sem solução, a ZFM perde competitividade frente à China e a outros países.

Linha do tempo

. 2002 – PPB fixa percentual de nacionalização.

. 2020 – Bolsonaro cria reserva de mercado para compressores.

. 2024 – Tecumseh não cumpre cota mínima; governo autoriza compensação.

. 2025 – Gargalo persiste; MDIC abre consulta pública até 22/09.

. 2026 – Cota sobe para 15%, aumentando o risco de sanções.

A discussão é o tema do Painel S.A., do site Uol/Folha, a partir de nota enviada pelo presidente da Eletros, José Jorge do Nascimento. Clique aqui para ler a matéria completa da coluna. Assuntos relacionados nesta matéria: #ZonaFrancaDeManaus, #ArCondicionado, #Tecumseh, #Eletros, #JoséJorgeNascimento, #MDIC, #ReservaDeMercado, #Indústria

(Portal Marcos Santos/LR Notícias)