
O sentido da palavra brega, atualmente não é o mesmo de outrora. Puro neologismo. E neologismo surge da necessidade social de nomear novos conceitos Se hoje brega é ser cafona, ter gosto duvidoso, antes, nas décadas de 1960 e 1970, tinha tudo a ver com o reduto das moças de vida fácil (?), as casas de tolerância, onde parte dos senhores e dos rapazes boêmios da época freqüentava nas clássicas escapadelas. Alguns sem o menor remorso. Outros, clandestinamente. Eram casas de programas? Bota programas nisso, sobretudo nos finais de semana. Os Lps, os conhecidos “bolachões”, com as vozes de Waldick Soriano, Orlando Dias, Cauby Peixoto, Roberto Muller, Silvinho, Bievenido Granda, Pedrito, Maysa, Núbia Lafayete, Altemar Dutra e Carlos Alberto eram sempre os mais solicitados e, nesse clima, os românticos eram estimulados a beber mais uma bem gelada.
Para o tamanho da cidade e para a população que dava os primeiros sinais de crescimento, com o advento da Zona Franca, havia um considerável leque de opções: Iracema (na Torquato Tapajós); La Hoje (cedeu lugar para estação rodoviária); Piscina Clube (próximo ao Clube Municipal); Verônica(onde foi construído o Millenium Center); ( Shangri-lá(que deu espaço ao conjunto dos Jornalistas na avenida Constantino Nery); Selvagem(na Torquato Tapajós); Saramandaia (também na Torquato Tapajós) Ângelus(se ainda existisse estaria no meio da Djalma Batista, próximo da Arena da Amazônia), e outros menos cotados. Se esses “bregas” ainda existissem estariam praticamente no centro da cidade.
Era exatamente nesses locais onde muitos cidadãos da nossa melhor (ou nem tanto) sociedade saracoteavam pelos salões ao ritmo de bolerões e de frenéticos merengues, que muitos dos nossos grandes craques costumavam traçar seus “esquemas táticos” após os jogos noturnos ou durante a folga do meio de semana.
É bom lembrar, para que não paire dúvida, que o ambiente não era tão diferente de certos locais badalados dos dias atuais. Eram lugares relativamente tranqüilos, onde quase todos os freqüentadores se conheciam. Havia cerveja gelada, músicas para todos os gostos e a presença de mulheres com rostos interessantes e virtudes anatômicas capazes de entusiasmar qualquer freqüentador. Esse era o ambiente dos “bregas“, que reuniam, a partir das 20 horas, de domingo a domingo, conhecidos empresários, certos políticos, muitos profissionais liberais, jornalistas, radialistas e conhecidos jogadores de futebol.
Longe de casa, os “importados”, bastante saturados pelo monótono ambiente das concentrações, a turma que mais marcava presença nos animados ambientes breguenses era a do Olympico, onde o volante Xerém tinha mesa cativa. Mas o pessoal da Rodoviária não deixava por menos. Aproveitava a falta de lucidez do técnico Martin Francisco (que nunca ficava de ressaca, pois bebia diariamente), para varar a madrugada.
A boate Ângelus era a preferida. Por isso, em certas noites, se alguém quisesse formar uma ”seleção“ de emergência poderia contar também com alguns craques do São Raimundo, Sul América, Fast, Rio Negro e Nacional. Tinha gente que era tão assídua que até conseguia “pendurar” a conta sem maiores problemas. Merecia toda a confiança dos garções. Cliente especial tinha seus privilégios.
Foi na boate Ângelus que o centroavante Campos, do Nacional, exagerou. Deu uma “capotada” legal, dois dias antes de um importante jogo contra o Corinthians, deixando a torcida nacionalina muito preocupada. Tudo foi resolvido depois de uma bronca da diretoria, bons sonhos para recuperar da ressaca e, para alegria dos nacionalinos, dois golaços e uma grande vitória contra o time paulista, no distante 24 de setembro de 1972, no gramado do saudoso Vivaldão.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado,Ex-Delegado de Polícia, Jornalista e Radialista)-25.09.25