
A geração dos anos 1940, em particular, nasceu e cresceu bebendo refrigerante de guaraná. A indústria se expandiu, enquanto algumas marcas ficaram, à margem do caminho, outras lideram o setor no século XXI.
Quem não recorda dos tempos de colégio, anos 50 e 60 do século passado, quando garotos do Colégio Estadual do Amazonas, Brasileiro ou IEA tomavam bonde até a Caixa D’Água, e daí, à pé, corria até o Clube Parque Dez de Novembro para jogar futebol. A passagem em frente a Magistral era incontornável, parada obrigatória para uma “visita” ao Sr. Cruz, que, de coração aberto, usualmente contribuia com iniciativas estudantis. De passo em
passo a empresa logo se tornaria uma das mais importantes expressões empresariais do mercado de refrigerante de guaraná no Amazonas.
Fundado em 1945 pelo comendador José Cruz, industrial do ano em 1971, a marca, como diz seu presidente Luiz Cruz, “se entrelaça com a história da nossa família”. Nascido em Nagosa, Distrito de Viseu, Portugal, a 28 de junho de 1911, o Comendador José Cruz fez o percurso de tantos portugueses que deixaram a terra natal em
busca de oportunidade: motivado pelo desejo de conquista e esperança de encontrar no Brasil acolhimentos, estabeleceu-se em Manaus, onde fincou suas raízes e iniciou sua trajetória empresarial. Por força de liderança e carisma, tornou-se um dos empreendedores mais respeitados do Amazonas, gozando de reconhecimento e
admiração, fato que o credenciou junto aos seus pares, sendo eleito vice-presidente da Associação Comercial do Amazonas, presidente do Conselho da Comunidade Portuguesa e Luso-Brasileira e do Hospital Beneficente Portuguesa, ao qual dedicou grande parte de sua vida.
O empresário Luiz Carvalho Cruz, diretor-superintendente da J. Cruz Indústria de Bebidas (Magistral) compartilha a direção da empresa com o irmão Vítor Cruz e José Cruz Neto, foi homenageado pelo Sistema FIEAM como “Industrial do Ano 2025”, em cerimônia realizada em maio passado. Na oportunidade foram também agraciados Glauco Luzeiro (Microindustrial do Ano) e a Recofarma (Exportadora do Ano 2024).
O prêmio Fieam reconhece a liderança na empresa, que celebra 80 anos, uma das mais longevas do Amazonas, ao lado do Grupo Bemol. A Magistral, ao que demonstra sua história, adotou política de crescimento gradual, progressivamente com base na qual foi diversificando seu portfólio com a fabricação de refrigerantes de vários outros sabores assim como a industrialização de água mineral, sempre alicerçada no forte compromisso com a qualidade, a comunidade e o desenvolvimento sustentável no Amazonas.
A história do refrigerante de guaraná no Amazonas tem como referência a segunda metade do século XX em Manaus. O decano do setor, o Magistral, com os selos Magistral, Gold, Regente e Tauá, mantém-se, aos 80 anos, altaneiro representante da iniciativa empresarial do Estado. Ao lado de importantes marcas como o Baré
(Ambev); Tuxaua, grupo Simões e Real, da família Pio de Souza, líderes absolutos do mercado.
A Magistral cresceu com esforço e soube se reinventar diante dos desafios encontrados ao longo dessas oito décadas. Hoje,
ao que afirma Luiz Cruz, “observar que continuamos sendo reconhecidos mais de 50 anos depois é motivo de orgulho, mas, também, de responsabilidade com esse legado que herdamos de nosso pai, o qual devemos fortalecer”. Outras marcas, que remontam aos anos 50, 60 e 70, como o Luzéia, Líder, Andrade e Guti Guti, por razões diversas, tiveram suas atividades encerradas.
No interior do Estado, destaca-se a cidade de Itacoatiara, conhecida por ter uma história de produção local e pela presença de marcas antigas como Guaraná Xexuá (que funcionou até a década de 1970), Guaraná Guanabara (saiu do mercado em 1980) e Guaraná Rio Negro. Maués, a capital nacional do guaraná, concentra-se basicamente na produção do “Guaraná Orgânico de Maués ®”, produto in-natura, o guaraná em pó, totalmente diferente do refrigerante. Cultivado por pequenos produtores em regime de agricultura familiar.
Não tendo acesso a máquinas pesadas e implementos, o fruto é colhido um por um escolhendo somente os maduros, despolpado a mão e lavado em águas limpas antes de ser torrado por mais de 6 horas nos tradicionais tachos de barro para retirar toda a umidade e liberar os aromas característicos. Essa torrefação especial permite que seja retirada aquela película da semente (casquilho) e assim transformado em bastão ou moído com peneiras ultra-finas. Por isso o pó é altamente solúvel e com um sabor inconfundível.([email protected]) –Osiris M. Araujo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Professor, Escritor e Poeta – [email protected]) – 13.10.25