Parabéns, Difusora! – Por Nicolau Libório

Artigos: Dr. Nicolau Libório(AM)

Durante quatro décadas, sempre às 12, após as doze badaladas do sino da igreja Matriz, a mensagem recheada de otimismo chegava aos ouvidos de milhares de ouvintes: Senhoras e Senhores ouvintes, a nossa saudação amiga. Cumprimentava os aniversariantes do dia, falava das previsões astrológicas, fazia diagnósticos e até
prognósticos políticos, opinava sobre os problemas da cidade e nunca negava-se a fazer observações sobre os mais diversos assuntos, por mais delicados que pudessem parecer. Pela sua habilidade política e por saber usar as palavras com rara inteligência,
Josué Claudio de Souza, o fundador da Rádio Difusora do Amazonas, sempre mereceu a admiração dos amigos, o respeito dos concorrentes e a estima dos incontáveis fiéis
ouvintes.

A Rádio Difusora, que já nasceu predestinada ao sucesso, chega aos 77 anos com o vigor e a determinação de enfrentar novos desafios. É uma emissora que surgiu do sonho do catarinense, homem que jamais se intimidou diante das dificuldades. Josué chegou em Manaus no início da década de 1940 com a missão de dirigir a Rádio Baré, sucessora da Voz da Bariceia , criada em 1938, pelo rádio-amador e telegrafista Lizardo Rodrigues. É bom salientar que a Bariceia serviu à Interventoria de Álvaro Maia, sob a direção de Gebes Medeiros, virando Rádio Baré em 1943, passando a integrar a rede de emissoras dos Diários Associados do empresário Assis Chateaubriand. Mestre Josué, nascido em 1910, chegou a Manaus com disposição, juventude e coragem. E coragem é a grande virtude do ser humano. Organizou a empresa, que encontrou abrigo no prédio do Jornal do Comércio, na avenida Eduardo Ribeiro, criou espaços para quem quisesse se aventurar na área da comunicação, deu grandeza a programação, transformando a Baré na grande novidade que entretia alguns abastados que tinham possibilidade de adquirir receptores.

A missão de Josué Cláudio de Souza, que fez história na política como deputado estadual, deputado federal, prefeito de Manaus e governador em exercício, após entender que a sua missão estava cumprida na emissora de Chateaubriand, resolveu materializar o seu sonho: fundou a Rádio Difusora, no dia 24 de novembro de 1948,
que rapidamente, conquistou invejável audência. Manaus tinha Raymundo Chaves Ribeiro como prefeito e o Estado era governado por Leopoldo Amorim da Silva Neves.

Com a presença de Orlando Silva, denominado cantor das multidões, Manaus viveu um momento extraordinário, de festa. Sob forte expectativa, o som melódico da voz de Orlando chegava aos receptores, com a música Rosa: “tu és , divina e graciosa, estátua
majestosa; do amor, por Deus esculturada, e formada com ardor, da alma a mais linda flor de mais ativo olor, que na vida é preferida pelo beija-flor …”. Ali acontecia o início da vitoriosa caminhada da Difusora, que sempre mereceu e merece a preferência da maioria. A rivalidade sadia entre Baré e Difusora garantia a salutar convivência entre os simpatizantes dos palcos da Maloca dos Barés, na rua Marquês de Santa Cruz e o da Festa da Mocidade, da Difusora, na avenida Getúlio Vargas, no local onde está erguido o edifício Palácio do Rádio.

Parte da história da Difusora eu vivi. Eu, Luiz Eduardo Lustosa, José Augusto Roque e Belmiro Vianez, deixamos a Rádio Rio Mar em outubro de 1969 e, em bloco, fomos contratados para integrar a equipe de esportes liderada pelo saudoso João Bosco Ramos de Lima. Fomos recebidos na sede da rua Joaquim Sarmento número 100, pelo Mestre Josué e pelo diretor Ismael Benigno. Em novembro, dia 24, no vigésimo primeiro aniversário da emissora do “povo e de Deus” já estávamos no moderno prédio da mesma Joaquim Sarmento, número 121. Lá, de forma concomitante com atividades nos jornais, televisão, revista Placar, inclusive com os cargos de Delegado de Polícia e Promotor de Justiça, trabalhei por duas décadas. Foi um bom tempo. Não dá para esquecer uma grande paixão.

Fico feliz com essas boas recordações. Como não lembrar dos avisos para o interior; da atração Parabéns a você, momento em que os ouvintes homenageavam parentes e amigos aniversariantes com a sua música preferida. Lembro de um ambiente contagiante, alto astral, fraterno, onde convivi com Josué Filho, Fesinha, Carminha,
Ismael Benigno, Jota Nunes, Carlos Carvalho, João Braga, Carlinhos Luiz, Expedito Monteiro, Ernesto Barbosa, José Maria Pinto, José Maria Monteiro, Elias Brasil, F. Cavalcante, Edmar Costa, Crisanto Jobim, Olavo Coelho, William Carvalho, Mário Wilson, Orlando Rebelo, Sebastião da Mata Pitombinha, Jurandir Vieira, Eduardo Silva, Ernani de Paula, Ary Neto, Luiz Saraiva, sem esquecer dos prezados amigos Paulo Guerra e Valdir Correia.

Começo, no alvorecer, ouvindo Edson Melo, cuja longevidade não diminuiu a sua incrível capacidade de falar de improviso. Momentos depois vem o Jornal da Manhã, com a competente equipe de Paulo Guerra. Aliás, o tempo passa e o Paulo não perde o ritmo, valorizando a notícia pela ótima qualidade da sua dicção. A atração seguinte vem com o nome do apresentador: Valdir Correia, uma das maiores audiências no horário, pela variedade de informações, pela leveza do programa e pela comunicação fácil e agradável. Na sequência da programação matinal vem Daniel Anzoategui com seu estilo versátil, comunicando com a turma jovem, cheio de bom humor.

Os anos passaram, mas os felizes momentos ficaram registrados na minha memória. Nos ambientes saudáveis, sem dúvida, o trabalho não produz cansaço, gera bem estar. Hoje, mato a saudade no peito, driblo a emoção e comemoro com fervor este importante acontecimento. O momento é de celebração, de festa, de congratulações. Feliz Aniversário, Difusora!(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado, Ex-Delegado de Polícia, Jornalistae Radialista) – 21.11.25