ORLANDO REBELO, CRAQUE COMENTARISTA – Por Nicolau Libório

Artigo: Dr, NICOLAU LIBORIO(AM)

Eu já conhecia a fama do Orlando Rebelo como jogador do Rio Negro. Ele foi campeão, em 1962, numa decisão contra o Nacional, no tempo do futebol amador, quando os dois clubes reuniam em suas direções importantes figuras da política amazonense: Josué Cláudio de Souza, pelo alvi-negro, e Plínio Ramos Coelho, pelo Nacional. Anos depois, na Rádio Rio Mar, época em que o estúdio da emissora ficava lá no bairro de São Raimundo, bem atrás do estádio da Colina, tivemos a oporunidade de nos conhecer e trabalhar juntos. Ele foi figura marcante na crônica esportiva, tanto no rádio como na televisão. Mas vale a pena relembrar a época em que ele fazia sucesso nos gramados.

O ano era 1963, Parque Amazonense lotado para ver o time do Rio Negro, detentor do título de 1962, num jogo do início do campeonato contra o Labor. Orlando recebe um bom passe de Fernando, dribla facilmente o lateral e resolve investir pelo miolo do ataque para tentar marcar o quarto gol do seu time. A bola repica numa saliência do gramado e sobra para uma dividida com o zagueiro Valter. Naquele momento estava encerrada a carreira de um dos mais habilidosos ponta esquerda do futebol amazonense: Orlando Rebelo. Ele, antes, havia marcado o terceiro gol contra o representante do bairro de Educandos, que era dirigido pelo técnico Otílio Farias, um dos gerentes da Usina Labor.

Orlando ainda tentou voltar e, para isso, com uma passagem de cortesia, viajou até o Rio de Janeiro para fazer um tratamento sério. Lá foi assistido pelo médico Lídio Toledo e contou com a ajuda dos amigos Flávio e Nizoca. Não teve a ajuda de mais ninguém. Mas quando voltou e reiniciou treinamentos, foi surpreendido por uma entrevista de um certo dirigente de “que eu estava fazendo corpo mole para não jogar. Resolvi parar de vez, pois não teria estômago para aturar dirigente desse tipo”, salienta.

Orlando, Adair e Jorge, os filhos de Graciano Alves Rebelo e de dona Elvira Alves Gonçalves Ribeiro tiveram suas primeiras experiências com a bola no campo do Oratório Festivo Dom Bosco. Mas apenas Orlando conseguiu ter verdadeira intimidade com a bola. No Oratório os torneios eram organizados pelos padres Felinto e Agostinho. Defendia a equipe do Corinthians, onde João Tavares, craque consagrado pelo América e pelo Paysandu, também jogou. Também jogou futebol de salão e a sua grande proeza aconteceu vestindo a camisa do Náutico Portugal, em 1960, em torneio promovido pela Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Amazonas, marcando 30 gols.

Nesse mesmo ano foi descoberto por Tabosa, um fanático que era alma, coração e vida pelo Rio Negro. Havia dado baixa do Exército e em excelentes condições físicas. Nos primeiros treinamentos conseguiu impressionar o deputado Josué Cláudio de Souza (pai – fundador da Difusora), que na época era o presidente do departamento autônomo de futebol do Rio Negro. Orlando relembra que para justificar a volta do clube ao futebol foi formada uma equipe denominada de “bossa nova”, porque o time principal estava estagiando e não poderia jogar

oficialmente. Ainda em 1960 foi realizado o torneio João Havelange e o Rio Negro procurou se reforçar dos jogadores em estágio. Não deu outra: Rio Negro campeão.

Em 1961, o chamado time “bossa nova” entrou no campeonato apenas para atrapalhar os outros, pois não poderia almejar muita coisa. Para o campeonato de 1962, foram aproveitados três jogadores: Orlando Rebelo e os goleiros Marcos Marinho e Chicão. Dessa vez, o Rio Negro entrava em campo para valer, mas Orlando teve que se conformar com a reserva nos primeiros jogos, pois o time titular era formado por Marcos Marinho, Bololô e Mário; Fernando, Catita e Eudóxio; Airton, Tomás, Paulo, Dermilson e Horácio.

-“Quando eu entrava no time, Horácio passava para a ponta direita, Airton e Tomás no meio e eu na ponta esquerda. Isso veio a ocorrer depois da saída do Paulo, um centroavante lutador, que veio do futebol de Parintins”.

O campeonato de 1962, lembra, teve lances emocionantes. Na decisão, contra o Nacional, que tinha como presidente o governador Plínio Ramos Coelho, o jogo já ia chegando ao final e registrava o placar de um a um. De repente, Dermilson decide o jogo com uma bola no ângulo sem nenhuma chance de defesa para o goleiro. A torcida começou a comemoração no Parque Amazonense e na segunda-feira ainda havia gente bebendo por conta da conquista do campeonato. O jogo aconteceu num sábado à tarde.

Com tanto sucesso, em razão da conquista do título, o Rio Negro saiu em excursão por gramados de Belém e São Luiz. Empatou, perdeu e ganhou. Mas o que não ficou bem foi a derrota, numa partida revanche em Belém, quando o Rio Negro perdeu por sete a dois para o Paysandu. O técnico Cláudio Coelho após ver o time estar perdendo no primeiro tempo por cinco a zero, lançou Catita e Mário, e o Rio Negro conseguiu fazer dois gols.

Orlando tem boas recordações do tempo em que era o ponta esquerda ”armandinho”, daquele tipo que recua para ajudar o meio campo. Dentre as boas recordações, lembra quando foi chamado pelo técnico Paulo Onety para jogar um amistoso contra o Olaria do Rio de Janeiro. Precisava provar à torcida e a ele mesmo que tinha condições de ser titular. Jogou tão bem que mereceu até elogios dos dirigentes do clube visitante. O jogo contra o Sport Clube do Recife também é recordado. O Rio Negro venceu por um a zero, gol de Fernando. Na estreia o Sport havia aplicado uma goleada no São Raimundo.

Orlando já tinha uma certa experiência de rádio. No tempo em que jogava pelo Rio Negro, conseguiu uma vaguinha como discotecário na Rádio Difusora. Mas nada de microfone. No final de 1967, foi convidado por Luiz Eduardo, chefe do departamento esportivo da Rádio Rio Mar, para ser uma espécie de coordenador. Ia conduzindo o seu trabalho normalmente quando foi desafiado por Luiz Eduardo, que disse: “Orlando, o Belmiro Vianez não vai poder comentar o amistoso de hoje, lá no campo do Nacional. Eu vou narrar, o Nicolau Libório faz a reportagem de pista e você precisa nos ajudar. Terá que comentar o jogo”.

O desafio foi aceito. Orlando comentou tão bem que passou a dividir espaço com o grande Belmiro Vianez. Tornou-se simpático à torcida do Nacional e respeitado por todas as outras. Naquela tarde de sábado, num amistoso sem grande importância, que o Nacional realizou contra o Clube Municipal, aplicando uma goleada de oito a zero, Orlando dava início a sua carreira de comentarista esportivo. Deixou seu nome registrado na história crônica esportiva amazonense.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado, Ex-Delegado de Polícia, Jornalista e Radialista – 12.12.25)