ALFREDO SANTANA – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

Alfredo da Silva Santana partiu. Foi-se desta e nos deixou, a todos os seus amigos, com aquela saudade que é difícil de aceitar e muito mais ainda de superar. Vi a angústia de Maria Sumiê, sua companheira de décadas, que lançava um olhar de desesperança para o corpo inerte, talvez sem acreditar que lhe tinha sido tirado o marido, com o qual construiu toda uma vida de solidariedade, amizade e respeito.

Santana não regateava sua alegria. Estar na companhia dele era certeza de momentos inesquecíveis de relaxamento e lazer. Ele a todos encantava com sua conversa fácil e, de vez em quando, com uma imersão nos domínios da seresta, traduzindo maviosamente pérolas do cancioneiro popular brasileiro.

Na juventude, teve ativa participação na luta pela restauração da normalidade democrática no Brasil, enfrentando com altivez os duros e cruéis tempos da ditadura militar. Foi presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), entidade que, ao lado de sua similar universitária, se notabilizou pela tomada de posições progressistas, nunca se afastando dos ideais libertários de nosso povo.

Foi com esse sentimento que Alfredo Santana ingressou na Faculdade de Direito e foi a partir dessas posições democráticas que frequentou todo o curso, na velha Jaqueira da Praça dos Remédios. Isso lhe valeu a escolha para ser o orador de sua turma, tarefa de que se desincumbiu com mestria, pronunciando discurso em que logrou traduzir com perfeição e habilidade o sentimento da juventude diante do nebuloso quadro político que então se descortinava no Brasil.

Formado, pouco tempo passou na advocacia. Optou pelo concurso público e, através dele, ingressou nas fileiras do Ministério Público do Estado do Amazonas. Não foi o promotor obcecado por condenações, daqueles que fazem estatísticas dos anos de prisão impostos aos réus que acusaram. Longe disso. Figura humana de alta sensibilidade, Santana buscava efetivamente promover a justiça, sabendo que muitas vezes esta se manifesta pelo singelo reconhecimento da nenhuma responsabilidade do acusado. E assim atuou ele como titular da ação penal, até lograr a aposentadoria.

Além de Maria, Santana tinha três outras paixões: o Flamengo, Parintins e o Boi Caprichoso. Quanto ao primeiro, já acometido pela doença que se revelou incurável, ainda teve tempo de vibrar com as conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores, revelando o torcedor fanático, o que, aliás, é apanágio dos adeptos do clube.

Parintins e o bumbá se fundiam numa só entidade, não se podendo distinguir onde começava ou terminava cada um deles. Pela sua cidade natal, Santana

cultivava e cantava um amor quase paradisíaco, tanta era a afeição que lhe infundia a ilha fincada na margem esquerda do rio Amazonas. Ali, Santana possuía uma chácara, apropriadamente chamada “Pedacinho do Céu”, onde, à sombra da imagem de Nossa Senhora do Carmo, celebrava as glórias de seu torrão natal e os feitos memoráveis do Caprichoso no bumbódromo.

Foi esse o amigo que nos deixou agora. Ainda está na garganta o choro pela sua perda. Na minha idade, cada amigo que parte deixa um vácuo impreenchível, pois já não é tempo de reconstrução. O jeito é tentar superar a dor da separação e relembrar os momentos felizes vividos na companhia de Santana. Muito obrigado por teres existido e muito mais obrigado ainda por teres sido meu amigo.

Adeus, companheiro velho.

(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected])