O ano começou de forma triste, tantas desgraças, tragédias, notícias ruins que
é impossível ficar indiferente a elas. De fato, de uma forma geral podemos constatar
que os acontecimentos recentes mexeram com todo o país, seja a tragédia de
Brumadinho, o incêndio e mortes no Ninho do Urubu, ou a perda trágica do jornalista
Ricardo Boechat, dentre muitos acontecimentos lamentáveis.
Mas o mais estarrecedor de tudo é a forma como tais notícias, que causam
comoção geral, alcançam algumas pessoas. Causa espanto que existam pessoas que
não se compadeçam com a morte prematura em um incêndio de tantos jovens, com a
perda de inúmeras vítimas no rompimento da barragem em Minas, ou mesmo o
terrível acidente que ceifou a vida de um jornalista com opiniões e posicionamentos
tão incisivos.
Pessoas que não se comovem com os mais tristes acontecimentos, ao
contrário, destilam ódio e rancor ao “comemorar” e espalhar suas lamentáveis
opiniões, regadas de tanta parcialidade, seja ela religiosa, política, ou até mesmo
relacionada a rivalidades em times contrários.
O mundo, de uma forma geral, esta mais intolerante, mais radical, frio,
distante. Falta amor e empatia. Impossível não se colocar no lugar daquelas famílias
que perderam tudo, toda uma vida, incluindo parentes e amigos.
São pais que perderam seus filhos, são filhos que já vão nascer sem pais,
maridos que nunca mais vão retornar para suas esposas, famílias destruídas que
nenhuma atitude, indenização ou condenação irá repor a ausência dessas vidas, e no
meio de tanto sofrimento ainda existem pessoas que conseguem enxergar algo para
eles positivo em tais acontecimentos.
Falta ao ser humano a capacidade de se colocar no lugar do outro, de imaginar
como essa pessoa está se sentindo diante da situação por ela vivenciada. Falta
empatia. Falta amor. Por mais que se tenham divergências, sejam elas quais forem, tal
fato não te autoriza a se regozijar diante do sofrimento alheio. Não. Nunca.
As opiniões e posicionamentos do jornalista Ricardo Boechat, falecido em um
acidente tão doloroso, chocante, podem não refletir a sua opinião, ser contrários aos
seus ideais, mas nunca se pode esquecer que quem morreu foi um homem, um pai,
um filho, um marido, um amigo e que, para essas pessoas ele irá fazer muita falta.
Falta empatia. Se colocar no lugar da mãe que perdeu o filho, e com isso não se
contentar com essa morte.
Falta amor, o mundo precisa de mais amor. Amor ao próximo, amor a vida, que
se destaca na atitude da mulher que tentava, com todas suas forças, ajudar o
motorista de caminhão do acidente do Boechat, enquanto tantas outras pessoas se
limitavam a filmar a tragédia. Podia ter sido seu irmão, mãe, pai, marido, amigo, qual
seria sua atitude? Você com absoluta certeza iria rezar para que uma Leiliane Rafael da Silva estivesse presente, e não tantos “paparazzi” e curiosos que em nada ajudam, ao
reverso, ainda aumentam a dor daqueles que sofrem, com vídeos bizarros que serão
assistidos, em algum momento, por alguém que amava e perdeu.
Portanto, indispensável que se tenha empatia com o sofrimento alheio, que
se tenha amor e respeito pelo seu semelhante, que somente faça com o outro o que
gostariam que fizessem com você, dessa forma teremos um mundo mais leve, mais
humano, mais feliz e com mais força para encarar e superar tantas desventuras. É,
talvez essas tragédias, sucessivas e sofridas, sejam recados claros que precisamos amar
mais, uns aos outros.(Luciana Figueiredo é advogada)