ARLINDO PORTO – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

O texto abaixo foi escrito há duas décadas. Com a morte de Arlindo, entendi de republicá-lo, como forma de homenagear um amazonense ilustre sob todos os aspectos. Eis aí:

Arlindo Augusto dos Santos Porto completou setenta e cinco anos. A idade não lhe diminuiu o tamanho do coração nem a grandeza da mente.

Sou de uma geração posterior à de Arlindo, de sorte que, ainda bem jovem, passei a ter contato distante com aquele misto de político e jornalista, que encantava pela palavra fácil, escrevendo ou falando, nos jornais ou nas tribunas.

Lembro-me de um comentário de minha mãe, que se deliciava com a prosa escorreita do escritor: falava ele (era a época própria) sobre a maneira como sempre tivemos um Natal europeizado e a Velha concordava, entusiasmada, com a proposta de trocarmos maçãs, uvas e pêras por nossas frutas bem amazonenses. Era o sangue caboclo de Arlindo, que sempre lhe correu nas veias com abundância e pujança, revelando um homem que jamais teve vergonha de suas origens.

Já era eu acadêmico de direito e começava minha vida no O Jornal e Diário da Tarde, da família Archer Pinto, para onde fui levado pelas mãos desse outro querido amigo que é Arnoldo Coimbra. Designado para fazer a cobertura das sessões da Assembléia Legislativa, pude ver mais de perto a verdadeira face do homem público. Arlindo era o exemplo de deputado que todos deviam seguir. Leal sem subserviência, vibrante com educação, era o parlamentar cujos pronunciamentos traduziam acima de tudo o mais acendrado respeito pela ética.
O golpe militar que nos violentou a partir de 1964 o colocou na prisão e lhe cassou o mandato. Foi mais um dos tristes exemplos do que o saudoso Stanislaw Ponte Preta chamava de FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assola o País. É certo que, nesse episódio específico, a ditadura contou com a vergonhosa participação da própria Assembléia, cuja maioria, acachapada e acovardada, preferiu servir de escudo para a ação violentadora, incumbindo-se ela mesma de concretizar o ato infame.

Com o fim do AI-5, Arlindo ressurgiu para a política na campanha de 1982, disputando um mandato de deputado federal pelo PMDB. Como eu era candidato a deputado estadual pelo mesmo partido, fui testemunha de uma das maiores demonstrações de desprendimento: até pelas suas ligações pessoais com o professor Gilberto Mestrinho, que acabou por se eleger Governador, Arlindo tinha todas as condições para sair vitorioso no pleito. Entretanto, como o partido mostrava visível falta de estrutura e de organização, Arlindo Porto se dedicou de corpo e alma à tarefa de suprir essa deficiência, praticamente deixando de lado sua própria campanha, o que lhe ensejou obter apenas a primeira suplência na Câmara.

Arlindo é, portanto, um daqueles homens que, tendo um dia aberto seu coração para o mundo, tem o respeito por seus semelhantes como princípio inafastável e a solidariedade para com os desvalidos como essência de sua própria vida.

É bom poder falar de alguém como Arlindo Porto. Dizer aos antigos e aos novos que têm eles a possibilidade de contemplar um homem que à adversidade não respondeu com amargura nem ao êxito contestou com empáfia.
Arlindo é, não tenho dúvidas em proclamar, um motivo de orgulho para o nosso Estado.