ARTIGO/BR-319, UMA QUESTÃO DE RESPEITO À DIGNIDADE DO POVO E AO DESENVOLVIMENTO AMAZONENSE – Osíris M. Araújo da Silva

Artigos/Economista Osiris Messias Araujo-da Silva(AM)

O pesquisador aposentado do Inpa, Charles Clement, a propósito da liminar expedida pela juíza Maria Elisa Andrade, do TRF-1, 1ª Região (TRF-1) suspendendo os efeitos da licença prévia emitida em 2022 pelo Ibama para as obras de reconstrução e asfaltamento da BR-319, em nota dirigida à esta coluna critica duramente o volume de desmatamento e o papel das Unidades de Conservação (UCs) criadas pelo governo ao longo da rodovia. Em sua maioria indefesas, porquanto, ao que sustenta, “o desmatamento ao longo do interflúvio dos rios Purus e Madeira, rico em biodiversidade e importância para a conservação daquele bioma, aumentou mais
de 80% em 2024 e em 2025 já supera 60%”. Afirma ainda que a maioria das UCs não saiu do papel, observando “a existência de terras não destinadas, por negligência da União, que o governo estadual poderia propor destinação produtiva e ambientalmente sustentável”, conceito que se refere à prática de condução de atividades econômicas de forma a minimizar impactos negativos ao meio ambiente e, assim, garantir a disponibilidade de
recursos para as gerações futuras.

Ocorre que blindar a BR-319, nos termos propostos pelo pesquisador – mesmo que corretos, penso eu -, é, contudo, muito caro. O governo federal, salvo no período do regime militar, jamais considerou na Lei Orçamentária Anual (LOA), em dimensões ajustadas às prioridades dimensionadas pelos investimentos em
infraestrutura, educação, saúde, saneamento básico, P&D, indispensáveis à alavancagem do processo de desenvolvimento regional. Na verdade, o Planalto não enxerga a Amazônia como prioridade nacional.

Erradamente, pois o uso sustentável dos recursos da biodiversidade, como endossado por renomados professores e pesquisadores de nossas universidades e centros de pesquisa, tem a capacidade de tornar o Brasil uma das economias mais pujantes do planeta, gerando benefícios sociais de alto impacto aos amazônidas, ao
povo que aqui vive e mantém a região território brasileiro desde sempre. O quadro se agravou no pós redemocratização de 1985, quando cessou a presença governamental na região, e, consequentemente, potencializou em níveis estratosféricos a prática da pirataria ambiental e do narcotráfico.

Dados do IBGE são claros. A despeito da gravidade da situação, a União não cumpre sua obrigação de apoiar o estado do Amazonas, que conserva 90% de suas florestas e detém 57,3% do território sob proteção de Unidades de Conservação nos níveis estadual, federal e Terras Indígenas, na realização de investimentos destinados a corrigir tais distorções. Para a ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, inimiga número 1 da Amazônia, gera mais mídia internacional prender rebanhos, destruir lavouras e áreas de mineração clandestinas do que investir preventivamente no controle dessas anomalias ambientais por meio de políticas públicas dirigidas à regulação desses setores.

O governo federal, por outro lado, ignora projeções da WWF (World Wide Fund for Nature) dando conta de que a procura global por madeira triplicará de 3,4 bilhões para 11,3 bilhões de metros cúbicos (m³) entre 2010 e 2050. Em cujo mercado o Brasil tem participação mínima, como também nos ramos da mineração, do turismo ecológico, dos biocosméticos, biofármacos, da bioenergia, nanotecnologias biológicas, etc. Tudo leva a crer que Marina da Silva jamais leu os compêndios de Samuel Benchimol, Djalma Batista, Cosme Ferreira. Ou de Bertha Becker, que, em sua obra seminal defende que “o ambientalismo excessivamente preservacionista da
década de 1990 na Amazônia esgotou-se como um modelo para a região por uma dupla razão: primeiro, porque não conseguiu barrar a expansão da agropecuária capitalizada; segundo, porque a conscientização crescente da população amazônica, que demanda melhores condições de vida, resultou na criação de mercado de trabalho e renda e, portanto, no uso do seu patrimônio natural”.(Osíris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta – [email protected]) – Manaus, 21 de julho de 2025