As cores do mundo – Por Luciana Figueiredo

Advogada Luciana Figueiredo(AM)

Tenho me questionado o motivo pelo qual o nosso mundo esta tão intolerante. Estamos sem paciência, conosco e com os outros. Rotulamos, julgamos e condenamos com uma facilidade surpreendente. Será que esse vai ser o caminho que queremos e traçamos para nosso futuro e de nossos filhos.

Essa falta de condescendência tem mostrado seus reflexos na vida diária, nas conversas, e,
principalmente nas manifestações em redes sociais. Essas conseguem alcançar índices
absurdos pelos mais diversos tipos de postagens. Veja, por exemplo, as publicações sobre a
autorização do porte de armas. Um defensor da facilitação do porte de armas – do que também sou defensora – publicou, em tom de chacota uma mensagem para o ladrão, “que essa casa estaria armada, então entre na casa do vizinho que é contrário e não teria armas e, eu me comprometeria a não defende-lo com as minhas”. Óbvio que era uma brincadeira, mas que esconde uma intransigência terrível.

Sempre vão existir os dois lados. Sempre e de tudo. “Toda unanimidade é burra" já dizia Nelson Rodrigues, em frase que lhe atribuem a autoria. Que graça teria o mundo se fossemos todos iguais, se todos pensassem da mesma forma, gostassem das mesmas coisas? A beleza do mundo reside exatamente nos seus contrastes, é assim que ele se completa. O Yin e o Yang.

Qual o motivo, então, de tamanha intolerância?

Porque não posso gostar de vermelho e respeitar meu amigo que gosta de preto? Porque
tenho que ser agressiva com aquele que não compartilha da mesma opinião que eu, dos meus gostos? Até entendo a rivalidade dos nossos bois, garantido e caprichoso, de times – flamengo e vasco, mas não consigo compreender a agressividade que acontece nos ataques aos opostos. São palavrões, gestos, atitudes que ferem, maltratam, machucam de forma gratuita. Inexplicável.

É incompreensível os ataques aos homossexuais, foi necessários “tipificar" essa conduta. Não são agressões a outros seres humanos? Em tese não deveria haver a necessidade de considerar essas atitudes como crime, mas há! A opção de cada um deve ser respeitada, como a minha também. Como minha família e meus amigos, e mais, como aqueles que não conheço também merecem o mesmo rrespeito.

Nosso Brasil, de grandes riquezas, enorme diversidade cultural, povos, crenças, raças, com um povo super acolhedor, que é a paixão dos estrangeiros, qual o motivo para não nos amarmos?

Para condenarmos o nosso vizinho, nosso irmão? Realmente não compreendo.

Ver tanta agressão gratuita me fere. Ver a falta de amor que permeia a nossa rua, nossa
cidade, nosso lar. Porque não pensar no meu semelhante? Porque julgar e condenar sem ouvir todos os lados da história, e, mesmo assim, será que não poderia ser eu a estar a errar? Somos tão perfeitos que só os outros pecam? Posso levantar o dedo? Nunca falhei?

E toda essa energia dispensada com essa intolerância, com tanto ódio, não poderia ser
direcionada para o bem? O que te faz sentir melhor, falar mal e julgar alguém ou ajudar essa
pessoa? Para e pensa como seu coração se sente? Sabe aquela senhorinha que está com
dificuldades para entrar no carro, que tal auxiliar? Aquela criança que está com fome? Aquela
mãe que está com seu bebê e precisa de uma mão amiga. E ao final, aquele “obrigada, Deus te abençoe”, como ele faz bem à alma.

São correntes de bondade que de tempos em tempos surgem pelo mundo, e modificam a
forma dele fluir. Vi um videozinho bobo no Facebook essa semana, acho até que ele ganhou
um prêmio, salvo engano. Era de um senhor taciturno, que fechava a porta do elevador na
cara da vizinha, não ajudava uma criança com seu balão, fingia que não via um carrinho de
supermercado fugir de seu dono e, ao parar em um sinal para atravessar a rua uma velhinha
segurava seu braço para atravessar a rua, bem lentamente, e ele era forçado a ajudar. Pois
bem, esse simples gesto, mesmo que forçado, muda seu ponto de vista e ele simplesmente
começa a ajudar. Segura o elevador, ajuda a criança, para o carrinho. Até que ele chega a um sinal e vê alguém que lembra como ele era e, mais que depressa arranja um óculos e uma bengala e se passa por alguém que necessita de ajuda, segurando o braço daquela pessoa, na esperança de tocar a vida dele também. Moral da história? Fazer bem faz bem, vicia, colore o mundo, e espalha uma corrente de amor.

Bobo não é? Infantil até. Mas vale a pena tentar. Eu? Tenho todos os dias, alguns acerto,
outros erro, mas continuo tentando fazer meu mundo mais colorido, menos cinza, mais feliz e tolerante comigo e meus irmãos. Um bom dia feliz, cheio de cores e uma leve semana pela
frente.(Luciana Figueiredo é Advogada)