Botafogo é Glorioso – Por Nicolau Libório

Procurador de Justiça Nicolau Libório(AM)

Alguns dizem que as glórias são coisas do passado. O Botafogo de tantos títulos e de tantos craques já não é mais aquele. Chegou a ser rebaixado numa certa época para a segunda divisão e, por isso, deu motivo para certos gracejos dos torcedores rivais. A sua estrela, que num período romântico brilhou no peito de muitos astros, esteve realmente solitária, mergulhada num mar de tristeza, afogando o ânimo de muitos botafoguenses. Mas como na vida tudo passa, a lembrança desse fiasco também passou. E das trevas à luz que, por certo, iluminará o caminho do glorioso em busca de muitos triunfos. Com planejamento, organização e boa administração muitas coisas boas deverão acontecer.

Semana que passou, lamentavelmente, o Glorioso foi a grande vítima do sistema eletrônico que orienta os árbitros de futebol, o VAR, sigla em inglês de vídeo assistant referee, que tem como propósito dirimir dúvidas. O VAR não é problema. O intérprete é que vem atrapalhando. No jogo contra o Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro, um lance corriqueiro no futebol, esporte de contato, provocou a intervenção do árbitro de vídeo que resultou na marcação de um pênalti. Punição que determinou o resultado da partida. O Botafogo foi derrotado, terrivelmente prejudicado. Resumo: o árbitro do jogo é mero seguidor da opinião dos árbitros de cabine. Falo de árbitro fraco, sem personalidade para decidir. E quando tardiamente resolve decidir, decide de forma atrapalhada. O Botafogo resolveu não deixar pra lá e resolveu levar o caso ao STJD, que em data ainda não informada, deverá se manifestar. Por enquanto, ainda bem, a CBF não confirmou os três pontos para o Palmeiras.

Empatar, ganhar ou perder são situações perfeitamente possíveis no futebol. Como botafoguense que sou desde que tomei conhecimento da existência de Garrincha, fiquei mal acostumado com tantas vitórias do meu clube. Nos anos 1960, por exemplo, no bate-papo da barbearia, da esquina ou da escola, tinha o prazer de comentar as proezas do alvi-negro, valia-me das narrações do Valdir Amaral, da Rádio Globo, para imaginar as diabruras do Mané Garrincha, o grande demônio das pernas tortas. A cada vitória, a cada goleada, renovava-se a certeza de que valia a pena torcer por um time tão virtuoso.

O Botafogo tem uma bela história para ser contada. A ideia de batizar a nova agremiação carioca com o nome de Eletro Clube não vingou. Prevaleceu o nome do bairro: Botafogo, acrescido de Football Club. Depois Botafogo Futebol e Regatas. Do bairro que teve o seu nome em homenagem a João Pereira de Souza Botafogo, lugar-tenente do governador-geral Antônio Salema. Como auxiliar de Salema, Pereira de Souza Botafogo recebeu duas sesmarias (áreas de terras que os reis de Portugal concediam a sesmeiros, para que cultivassem), a de Francisco Velho e da Inhaúma. A primeira, na enseada, leva seu nome, por sugestão dos seus antepassados, pela fama do galeão São João Batista, construído por ordem do rei Dom João II, em 1519. Pelo seu poder de fogo de 200

peças de artilharia pesada, o galeão ganhou o apelido de Botafogo. As façanhas do galeão estimularam os nobres portugueses a tirar carta de brasão e armas com o título de Botafogo.

Muitos afirmam que o Botafogo só tem passado. Ótimo, pois o ruim é ter passado obscuro e futuro duvidoso. Se contemplarmos o passado, encontraremos inúmeras razões para continuarmos fiéis ao clube que revelou ao mundo o grande mágico dos gramados. Garrincha não era apenas um jogador. Era um malabarista, que só sabia driblar para o lado direito, mas mesmo assim sempre conseguia enganar os beques, craques ou desajeitados. Para aqueles que, por alienação, nunca ouviram falar de Garrincha, vale lembrar que foi aquele jogador que ganhou duas Copas do Mundo pela seleção brasileira e que experimentou três títulos de campeão pelo Botafogo. Aliás, por falar em seleção, o Botafogo era sinônimo de escrete, pois o seu ataque era o que havia de melhor do futebol brasileiro no final dos anos 1950 e início dos anos 1960.

Quem tinha Garrincha, Didi, Amarildo e Zagallo não via motivos para preocupações. Era só esperar o final do jogo para comemorar. Em 1962, aconteceu o último grande show do gênio Garrincha. Contra o Flamengo, grande rival, não dava nem para pensar em empate. Mas para que pensar em dificuldades se Garrincha era a própria facilidade. E deu tudo certo. Garrincha correu, driblou, deu passes, fez gols e o Botafogo passeou no gramado do Maracanã, sem encontrar dificuldades para construir o elástico placar de três a zero. E nem poderia ser diferente, porque o Bota era fogo, principalmente jogando com Manga, Paulistinha, Jadir, Nilton Santos e Rildo; Airton e Édson; Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo.

Em 1968, sem Garrincha, a vítima de uma outra goleada foi o Vasco. Levou de quatro a zero e um verdadeiro toca chocolate, no encharcado gramado do Maracanã. Dessa feita o Botafogo, também, tinha munição de sobra e com Cao, Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gerson; Rogério Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo César Caju não permitiu que o time da cruz de malta esboçasse qualquer reação. Para que fique bem claro, nenhum time carioca escapou da impiedosa artilharia alvi-negra.

Se relembrar é viver, vamos recordar os grandes nomes que, em suas épocas, foram estrelas de primeira grandeza. Quanto a isso não paira nenhuma dúvida. Os botafoguenses sabem disso e os adversários não desconhecem. Para citar alguns, vamos relacionar Manga, Carlos Alberto Torres, Rildo, Nilton Santos, Brito, Gerson, Didi, Jairzinho, Garrincha, Heleno de Freitas, Amarildo, Zagallo, Quarentinha, Paulo César Caju, Paulo Valentim, Túlio e Perácio. Será que não basta. O que tem aí já dá uma seleção brasileira. Enquanto a hora da virada no futebol (de mesa nunca) não chega, lembremos a parte final do hino, “em outros esportes tua vida está presente, honrando as cores do Brasil e da nossa gente. Na estrada dos louros, um facho de luz, tua estrela solitária te conduz”. E, citando Fernando Sabino, “no final dá tudo certo. Se ainda não deu certo é porque não chegou ao fim.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolaulibó[email protected])