No primeiro debate eleitoral das eleições americanas, realizado na noite de terça-feira, 29, os dois candidatos foram para o vale tudo. O vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden, afirmou que iria reunir países e “doar US$ 20 bilhões para a proteção da região amazônica”. Donald Trump respondeu ao arroubo com um meio sorriso sarcástico, denotando ironia em relação à fantasia Bideniana.
“A floresta tropical no Brasil está sendo destruída”, criticou o democrata, que prometeu se juntar com outros países e oferecer US$ 20 bilhões para ajudar na preservação da região. “Parem de destruir a floresta e, se não fizer isso, você terá consequências econômicas significativas”, completou, sugerindo a adoção de possíveis medidas de retaliações ao governo brasileiro.
Uma declaração absurda, fora dos padrões diplomáticos, igualmente provocativa, intempestiva, grosseira e desrespeitosa ao povo brasileiro. Além do que, vazia, demagógica, sem legitimidade e base política e econômica concretas.
A menos que os “20 bilhões de dólares’’ saiam dos bolsos dos contribuintes norte-americanos, pois do Orçamento Público ele não tem disponibilidades para cobrir um fundo de tamanha grandeza. O candidato democrata, com efeito, está na obrigação de identificar, já, quem seriam os subscritores do hipotético e magnânimo fundo, ou seja, que países estariam se associando a ele.
A verdade é que de boas intenções o inferno anda cheio. A Amazônia, cansada de promessas fantasiosas, de soluções mágicas, internas e estrangeiras, dispensa proselitismo político. Nestes termos, diante da proposição de Biden, lembrei-me da mais notória dentre todas as soluções megalômanas em torno da Amazônia.
Refiro-me ao projeto revelado ao mundo pelo Hudson Institute, entidade privada norte-americana, sediada em Nova York, presidido pelo cientista Hermann Kahn (1922-1983), um típico visionário dos tempos modernos, ao final dos anos 1960 início dos 1970.
O empreendimento fundamentava-se, basicamente, em seus alegados “modernos conhecimentos para o desenvolvimento econômico para o mundo”. Apresentando-se ao governo brasileiro com a suposta experiência de contratada do Departamento de Defesa – Pentágono – com interesses voltados para a Região Amazônica como um todo apresentou o fantástico projeto para represar o Rio Amazonas, de Santarém a Monte Alegre, e formar um vastíssimo lago interior, de aproximadamente 240 mil quilômetros quadrados.
De tão grandioso o lago, duas terças-partes de Manaus viriam literalmente a desaparecer sob as águas. Santarém, Óbidos, Itacoatiara, Parintins, Manacapuru seriam engolidas. Submersas, desapareceriam do mapa e da face da terra.
Evidentemente, o projeto, de tão fantasioso e fora da realidade amazônica, não foi levado a sério por ninguém.
Creio que do entendimento de pessoas e organizações sérias, o meio mais eficaz de combate à pirataria ambiental é promover o desenvolvimento da região. O que compreende alocação de recursos, mediante programas, planos e projetos realísticos, com suporte de investimentos em ciência e tecnologia visando estruturar economicamente cadeias produtivas sustentáveis; em educação, no fortalecimento de nossas universidades e centros de pesquisa, em saúde, infraestrutura, comunicações e logística de transporte.
Nestes termos sim a contribuição de Joe Biden, caso eleito presidente dos Estados Unidos, seria muito bem vinda. Não apenas dele, mas igualmente da França, Itália, Japão, Alemanha, China e de todos os países amigos e seriamente preocupados com a exploração sustentável da Amazônia em prol do Brasil e da humanidade.(Osíris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta – [email protected])