
*Robério Braga
Ainda estava em curso a implantação da República no Amazonas, na fase aguda das disputas entre grupos de militares pelo poder civil e político representado pela presidência do Estado, das quais as mais visíveis foram os embates entre Eduardo Ribeiro e Thaumaturgo de Azevedo, quando Deodoro da Fonseca, seguindo conselhos do barão de Lucena, fechou o Congresso Nacional e, não suportando as pressões, renunciou ao mandato chamando para substituí-lo o também marechal, Floriano Peixoto, vice-presidente da República.
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Esses fatos repercutiram fortemente no Amazonas, especialmente em Manaus, seja na sucessão governamental, na recomposição de grupos políticos dominantes e, por fim, na completa transformação urbana da capital amazonense. Consolidando a organização do novo Estado Federal decorreram a promulgação da segunda Constituição e posse dos membros do Poder Legislativo e do Executivo estadual, os quais, precavidamente, tornaram público a adesão do Amazonas ao governo florianista estabelecido, mesmo quando havia polêmica sobre a sua legitimidade em razão de grupos que exigiam a realização de eleições e negavam a Floriano o direito de permanecer no cargo, por falta de previsão constitucional.
Os fatos se deram desta forma, conforme se pode concluir das pesquisas realizadas: era o ano de 1892, dia 1º de junho, 11h00, quando, no Paço do Congresso de Representantes, que era o Poder Legislativo do Estado do Amazonas, sob a presidência do tenente-coronel Emílio José Moreira, reuniu-se o parlamento para a sessão de instalação. No plenário, os deputados Salgado, Soares Sobrinho, Argemiro, Gaudêncio, Miranda, Marcelino da Silva, Pires Ferreira, Borges Machado, Serejo, Filgueiras, Gentil Baptista, Coutinho, Ribeiro de Menezes, Vasco e Ramalho que compunham os 18 congressistas com mandato reconhecido por eles mesmos. Na oportunidade houve a posse da Mesa Diretora composta pelos deputados Lima Bacury, como vice-presidente, e os secretários Antônio Bittencourt e Nunes Salgado. Tudo conforme adredemente combinado, e sem surpresas.
Eleitos, também compareceram o presidente Eduardo Ribeiro, como governador, e Guilherme Moreira, como vice-governador. Eram 13 horas, e as pompas para recebê-los foram significativas, ao que se seguiu a leitura da mensagem governamental e o juramento formal, conforme inscrito na Constituição estadual. As despedidas também foram formais.
O Congresso permaneceu em reunião. O deputado Serejo – Joaquim de Albuquerque Serejo – levantou a questão mais grave, naturalmente com aquiescência do plenário e dos “chefes políticos” dominantes na ocasião: apresentou a “Moção de apoio ao marechal Floriano Peixoto”, aprovada à unanimidade e do seguinte teor:
“O Congresso do Estado, fiel intérprete dos verdadeiros sentimentos do povo, e considerando-se rodeado pelos defensores da lei e da ordem pública, destacam a mais robusta prova de patriotismo, salvando a Pátria atribulada dos planos das facções ambiciosas que em sua temeridade procuraram dilacerar as suas entranhas. Declara achar-se resolvido firmemente a ajudar os vossos esforços ou sepultar-se debaixo das ruínas da Pátria. Sala das Sessões, 1º de junho de 1892. 4º da República”.
Mais do que filiar-se ao novo grupo federal e se dispor a sustentar a sua forma contundente de governar, os congressistas e líderes que inspiraram a Moção sepultaram as pretensões de Thaumaturgo em governar o Amazonas, deram força mais longa ao poder de Eduardo Ribeiro e adiaram o rompimento deste líder com Emílio Moreira, aderindo à ditadura de Floriano Peixoto.(Portal Marcos Santos/LR Noticias)