A viagem do presidente Jair Bolsonaro a Dubai foi marcada por uma comitiva inchada. Além de sete ministros, da primeira-dama Michelle e dos filhos Eduardo e Flávio, acompanharam o chefe do Executivo na passagem pelos Emirados Árabes Unidos figuras sem qualquer relação com o governo, como o vereador bolsonarista Nikolas Ferreira (PRTB), de Belo Horizonte, e o ex-senador Magno Malta, que atualmente não tem cargo público. Apesar de terem sido convidados pelo presidente, os dois disseram à reportagem que não usaram dinheiro público para custear o passeio.
No giro que fez por países do Oriente Médio, Bolsonaro ficou em Dubai entre sábado e segunda-feira para participar da ExpoDubai 2020 e se encontrar com autoridades locais e investidores. Na terça-feira, chegou a Manama, capital do Bahrein, e nesta quarta visita Doha, no Catar. A previsão de retorno a Brasília é amanhã.
Acompanham Bolsonaro na agenda os ministros Paulo Guedes (Economia), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tereza Cristina (Agricultura), Gilson Machado (Turismo), Braga Netto (Defesa), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Carlos França (Relações Exteriores). O secretário especial de Cultura, Mário Frias, também fez parte do grupo.
Além de integrantes do governo, viajaram com o presidente o deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ) e os filhos Eduardo, deputado federal (PSL-SP), e Flávio, senador (Patriotas-RJ). Desta vez, o outro filho político do presidente, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro pelo Republicanos, ficou no Brasil. Ele acompanhou o pai na viagem a Roma, no início do mês.
Entre as figuras sem qualquer relação com o Executivo, o vereador belo-horizontino Nikolas Ferreira contou em suas redes sociais que foi convidado por Bolsonaro para viajar a Dubai. “[O compromisso] Faz parte da Comissão de assuntos internacionais de Belo Horizonte e juntou aí perfeitamente com o convite do presidente de acompanhar sua comitiva”, afirmou em vídeo publicado no dia 12. Anteontem, disse nas redes sociais não ter gasto dinheiro público para viajar.
Procurado, Ferreira afirmou que bancou a viagem com recursos próprios, mas não quis revelar quanto gastou. “O foco do questionamento é uso de dinheiro público, e já deixei claro que não usei. Agora, quanto eu gastei? Isso é minha vida privada”, respondeu.
Um voo de ida e volta para Dubai saindo de Belo Horizonte custa em média R$ 8 mil quando comprado com quinze dias de antecedência. A diária de um hotel na cidade custa em torno de R$ 700. No local onde ficou hospedado o presidente, R$ 45 mil. De acordo com o site da Câmara Municipal de Belo Horizonte, um vereador tem remuneração bruta mensal de R$ 18.402,02.
Magno Malta também declarou nas redes sociais ter sido convidado pelo presidente para a viagem, mas sem utilizar dinheiro público. A assessoria de imprensa do ex-parlamentar não respondeu se a ida a Dubai foi paga com recursos próprios. Aliado do governo apesar de ter recusado a vaga de vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2018, o pastor deve tentar voltar ao Senado nas eleições de 2022.
Entre os parlamentares, apenas Eduardo disse à reportagem que sua viagem ao Oriente Médio foi financiada pela Presidência da República. Flávio e Hélio Lopes também foram procurados, mas não informaram quem pagou os custos da ida a Dubai até a publicação desta reportagem.
Desembargador. Mesmo sem ter viajado com a comitiva, quem também esteve com Bolsonaro durante a passagem pelos Emirados Árabes Unidos foi o desembargador do Rio de Janeiro Marcelo Buhatem. Hélio Lopes publicou uma foto nas redes sociais em que o magistrado aparece em uma refeição ao lado do ministro Augusto Heleno no hotel Hilton Dubai. Bolsonaro estava à mesa, assim como Malta. O encontro gerou questionamentos nas redes sociais sobre possível conflito de interesses, uma vez que Flávio responde a processos que hoje estão no Tribunal de Justiça do Rio.
Procurada pelo Broadcast Político/Estadão, a assessoria do magistrado informou que Buhatem já estava em Dubai. “Ele já estava no país de férias, quando foi convidado a participar de alguns dos compromissos locais da comitiva do presidente. É importante ressaltar que ele não utilizou dinheiro público, nem da Associação Nacional de Desembargadores (ANDES) ou tampouco viajou no avião do governo”, informou a equipe de Buhatem, em nota. Além de membro do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o desembargador é presidente da ANDES.
A reportagem também questionou o TJ-RJ se Buhatem poderia julgar eventuais processos envolvendo a família Bolsonaro na Corte, mas não obteve retorno até o momento. O magistrado é da área cível do órgão e, assim, não julgou o caso da suposta “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro. A ação, que tramita na área criminal, teve provas anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). No entanto, o Ministério Público fluminense já abriu nova linha de investigação contra o senador na área cível.
Também procurados, a Secretaria Especial de Comunicação (Secom) e o Ministério das Relações Exteriores não informaram a relação completa da comitiva presidencial e quem viajou às custas da União.(Terra/Estadão)