Compostos da Amazônia inibem coronavírus e propagação da pandemia, diz artigo da Ufam

Compostos da Amazônia/Foto>Ricardo Oliveira

Um artigo científico produzido por pesquisadores da Universidade do Amazonas (Ufam) observou que compostos naturais sugeridos por modelagem computacional são capazes de inibir o contágio e a replicação do coronavírus SARS-CoV-2, vírus que causa a Covid-19. O pesquisadores afirmam que as substâncias analisadas estão presentes na Amazônia. Agora, os cientistas querem avançar para o desenvolvimento de um medicamento preventivo ou para o tratamento da Covid-19 a partir da flora amazônica.

A pesquisa sobre a atuação de produtos naturais contra o novo coronavírus foi publicada pela revista Royal Society of Chemistry Advances (RSC Advances), na edição deste mês de junho. Segundo a Ufam, o artigo ‘Natural Products role against covid-19’ apresenta trabalho de ampla revisão bibliográfica em várias bases de dados para avaliar a possibilidade de empregar produtos naturais no desenvolvimento de tratamentos contra a Covid-19. Estudo O artigo é assinado por Ananda Antonio, Larissa Wiedemann e Valdir Florêncio da Veiga Jr, membros do Programa de Pós-graduação em Química da Ufam.

“Foi possível observar que compostos naturais sugeridos por modelagem computacional são capazes de inibir a inoculação [transmissão] e replicação do SARS-CoV-2. Eles pertencem às classes de substâncias que incluem flavanonas, flavonois, alcaloides, ácidos graxos, terpenoides e esteroides. Entre estes, os flavonoides apresentaram os resultados mais promissores para os estudos in vitro e in vivo contra a Covid-19”, informou Larissa Wiedemann, que é professora no Departamento de Química.

A pesquisadora destacou que as substâncias analisadas podem ser encontradas na Amazônia. “Até o momento, um estudo foi realizado in vitro com flavonoides, sugeridos pelas análises in silico. Substâncias dessa classe química estão presentes na flora Amazônica, que pode servir de fonte para o desenvolvimento de tratamentos ou medicamentos preventivos”, destacou. A Ufam não divulgou os nomes das plantas utilizadas para a extração das substâncias. A universidade lembrou que o uso de plantas medicinais é muito difundido em todo o mundo.

No entanto, no caso da Covid-19, por se tratar de uma doença nova, a Federal do Amazonas alerta que não é seguro utilizar qualquer método de medicação ou tratamento sem o devido respaldo científico, já que há risco de intoxicação e efeitos colaterais que podem agravar o estado do paciente. Diante dos riscos, os três pesquisadores da universidade decidiram estudar a terapia com substâncias naturais partindo de informações que a ciência já possui em casos semelhantes aos do quadro atual.

“Uma área importante da pesquisa de drogas para doenças emergentes é a do reposicionamento, ou seja, aproveitar uma substância que tem atividade biológica para outra doença e que já está no mercado (e por isso passou por diversos testes de segurança). Os primeiros estudos com a Covid-19 apontaram alvos farmacológicos como a ECA, a Enzima Conversora da Angiotensina, que é um sistema muito sensível que atua, por exemplo, no controle da pressão arterial. Buscamos então estudos mais amplos, substâncias naturais que já tivessem mostrado atividade em outros vírus dessa mesma família que provoca a Covid-19, preliminares e também mais avançados, e que já estivessem no mercado”, detalhou o professor Valdir Florêncio da Veiga Jr.

Remédio a partir da flora amazônica Com os resultados obtidos até o momento, o trio de pesquisadores pretende dar sequência ao estudo. O objetivo é chegar a uma resposta mais concreta sobre o tema, ou seja, ao desenvolvimento de um medicamento preventivo ou para o tratamento da Covid-19 a partir da flora amazônica. “Estamos trabalhando no desenvolvimento de metodologias que permitam produzir em larga escala algumas das substâncias que se mostraram ativas nos ensaios preliminares para que, caso seja comprovada sua eficácia, exista garantia de uma cadeia de fornecimento para abastecer farmácias e hospitais”, ressaltou Larissa Wiedemann.

De acordo com os autores, ainda é cedo para que se tenha uma conclusão acertada sobre um novo medicamento contra a Covid-19, mas é surpreendente o avanço científico em busca dele. “As pesquisas sobre o desenvolvimento de fármacos específicos para o combate da Covid-19 ainda estão em seus passos iniciais. Entretanto, é notável o esforço mundial. Relativamente aos vários anos que leva para o desenvolvimento de um novo medicamento, um grande avanço já foi feito tanto no reposicionamento de medicamentos sintéticos quanto na indicação de produtos naturais originados de plantas e algas que podem ser utilizados na terapia”, comentou a pesquisadora. Embora o estudo publicado no artigo tenha demonstrado resultados promissores, os cientistas afirmaram que será preciso verificar os resultados de possíveis testes em pessoas.

“É muito importante que a população seja informada que muitas substâncias mostram atividade nos ensaios preliminares, mas depois elas são descartadas, as atividades não se confirmam quanto à viabilidade, segurança, entre muitos aspectos do desenvolvimento de medicamentos. Podem ser ativas em uma pequena placa de vidro ou no computador, mas quando testadas em seres humanos, não se mostram ativas e ainda provocam outras doenças ou agravamento do quadro”, alertaram os pesquisadores. CLIQUE AQUI E LEIA O ARTIGO (EM INGLÊS).

Fonte: Portal do Marcos Santos