CORRIDAS DE RUA EM MANAUS – Por Nicolau Libório

Artigos: Dr. Nicolau Libório(AM)

O importante não é vencer, mas competir. Esta afirmação foi feita pelo francês Pierre Fredy de Coubertin, o criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna em 1896. Coubertin evidenciava que o esporte poderia ser a forte base da educação e de grande contribuição para a prevalência da paz e compreensão entre as nações. Amizade, coragem, determinação, excelência, igualdade, inspiração e respeito são princípios que garantem o espírito solidário e fraterno entre os atletas. Os valores defendidos por Coubertin, por ocasião dos Jogos de Atenas, continuam influenciando a mente de quem resolve enveredar pelo sadio caminho da prática esportiva.

As corridas de ruas em Manaus, a febre do momento, garantem confraternização entre pessoas que sequer se conhecem. Homens, mulheres, jovens abaixo de 60 anos, gente que já passou dos 70, alguns ostentando um visual atlético, outros nem tanto, mas todos possuidores da certeza que idade é apenas um detalhe. Se a cabeça manda e as pernas obedecem, não há razão para ficar parado. Nos dias de corridas, que acontecem geralmente às 6 horas dos domingos ou feriados, é preciso madrugar, porque se dormir é preciso, viver com qualidade é importante. Ninguém tem a ousadia de faltar ao compromisso, porque para participar da façanha tem de pagar o preço da inscrição, que nem sempre é barata. A turma menos jovem, beneficiada por dispositivo legal, paga metade do valor. Mas para receber a medalha de participação terá que cumprir o percurso. Não há privilégio para nenhuma faixa etária. Afinal de contas todos os participantes têm espírito jovem.

A memória me permite lembrar no momento de algumas corridas que já fazem parte do calendário manauara: Tales Miguel promovida pela Rádio Difusora, do Autismo- Ângelo Chaves, Tiradentes, do Trabalhador, da Mulher Amazônica, da Infantaria , Live Run, Track Field, Foco Run, Amigos do Janjão, do Fogo, Rodrigues Run, da Bemol, Associação do Ministério Público, Mulheres Largam na Frente, Companhia Sport Run, da TV Lar, Santos Dumont, Maratona de Manaus. Apenas algumas que consegui

lembrar. O ponto de partida ocorre em locais bem conhecidos: Arena da Amazônia, Ponta Negra, Avenida das Torres, entorno do Teatro Amazonas, avenida São Jorge, condomínio Alphaville, locais distantes para alguns mas conhecidos por todos. E para entrar nesse grupão formado por gente que adora desafios, basta ter vontade, disposição e determinação. O primeiro passo é a dica para quem deseja escapar do sedentarismo. Depois do primeiro, milhares de passos serão dados. E, com certeza, o medo das longas distâncias ficará para trás.

Para ilustrar este comentário, busco exemplo no passado: Emil Zattopek, tcheco que ficou conhecido como a Locomotiva Humana, grande vencedor dos 5 km, 10 km e a Maratona nas Olimpíadas de Helsinque-Finlândia, em 1952. afirmou que um corredor deve correr com sonhos. Se quiser pode correr uma milha. Mas se quiser viver uma experiência de vida, tem que tentar uma maratona. Para o lendário Zattopeck a dor de correr alivia a dor de viver, pois o único lugar que o sucesso vem antes trabalho é no dicionário. O sucesso é o resultado do planejamento, da dedicação e da disciplina. Quem almeja o bônus não pode ignorar o ônus. Para vencer é necessário derrotar o desânimo. Não é demais afirmar que correr maratona não é para qualquer um. O pioneiro dessa aventura desgastante foi o soldado grego Fidípede, 490 antes de Cristo, após a batalha de Maratona, que correu 40 km de Maratona até Atenas para anunciar a vitória da Grécia sobre a Pérsia. O lado triste dessa história é que ao dizer “vencemos”, caiu e morreu. Os maratonistas passaram desde 1908 , nos Jogos de Londres , a ter mais dificuldades, em razão da ampliação da prova para 42.195km. Motivo: a família real, liderada pelo Rei Eduardo VII, exigiu que a maratona tivesse como local de saída o Castelo de Windsor.

Mas o retrovisor do tempo nos permite enxergar o distante 1955, quando foi realizada em Manaus a primeira Corrida Henrique Archer Pinto, com largada da frente da sede de O Jornal e Diário da Tarde (que ficava ao lado do cine Odeon, onde atualmente está erguido o Shopping Center) tendo como primeiro vencedor o paraense José Maria de Souza Filho. Em 1956, o amazonense Rubens Lemos Ferreira foi o primeiro a cruzar a linha de chegada. José Pereira de Farias, Maurício Marques Farias, José Freitas de Almeida, Orides Alves, Adamor José da Silva, Jurandir Ferreira de Carvalho

fizeram história no pedestrianismo amazonense. Jamais esquecerei de Godofredo Olímpio de Carvalho, o popular Godô, que nunca ganhou nenhuma corrida. Aliás, só tirava em último lugar. E quando chegava recebia generosos aplausos. Saia alegre da Eduardo Ribeiro com um prêmio de consolação. Ele era esperto, não tinha pressa, sabia que os cinco primeiros posicionados e o último a chegar eram os únicos premiados. Não havia medalha de participação. Godô perdia feio para ganhar um bonito presente.

Na minha juventude fui praticante de atletismo, tendo disputado corridas longas e desafiadoras. No início da década de 1970, representei a Faculdade de Direito nos Jogos Universitários do Amazonas, chegando a integrar a seleção nos Jogos Universitários Brasileiros. O tempo passou, a realidade impôs deveres, sem tempo para devaneios. Se o ofício de cronista esportivo, no rádio e no jornalismo, garantiam a minha situação financeira, a graduação no curso de Direito me levou, após aprovação em concursos públicos, para importantes experiências na área jurídica: Delegado de polícia, Promotor de justiça, Procurador de justiça. Em 2023, ao completar 75 anos, fui contemplado com a aposentadoria. Então resolvi procurar o que fazer. Ficar à toa na vida não combina comigo. Decidi participar com maior frequência de uma atividade que me dá prazer, que me garante a certeza de que vale a pena superar desafios, ter saúde, MENS SANA IN CORPORE. A idade não pesa, nem atrapalha, sobretudo para quem é otimista por vocação.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça aposentado,Ex-Delegado de polícia, Jornalista e Radialista).

OBS(Redação) – Os Artigos do Dr. Nicolau Libório serão publicados às SEXTAS-FEIRAS.