Criança e Esporte – Por Nicolau Libório

Corregedor do MP-AM Nicolau Libório(AM)

Na comemoração do seu lendário milésimo gol, marcado em uma cobrança de pênalti, quando o Santos empatava com o Vasco da Gama, no Maracanã, no dia 19 de novembro de 1969, Pelé não perdeu a oportunidade para demonstrar a sua preocupação com as crianças do Brasil.

Ao converter o pênalti assinalado pelo árbitro Manoel Amaro de Lima, o ‘rei do futebol’, após apanhar a bola no fundo do gol, diante do olhar assustado e da irritação do goleiro Andrada, dos aplausos de 66 mil torcedores e de dezenas de repórteres que queriam ouvi-lo, desabafou chorando. Pediu seriedade de todos no trato de um problema tão delicado. Percebia que o descaso poderia resultar em problemas que no futuro afetariam a todos, ricos e pobres, sem distinção.

No seu momento de glória, decidiu chamar a atenção do povo brasileiro para as crianças desassistidas, para os idosos, e os desamparados. Afirmou: “pelo amor de Deus, vamos proteger as crianças necessitadas, o povo brasileiro não pode esquecer das crianças”

Pelo seu apelo e/ou protesto, foi chamado por alguns de demagogo, hipócrita, oportunista. Mas o tempo, remédio para todos os males e injustiças, encarregou-se de lhe dar razão. Sua preocupação era absolutamente procedente. Se o poder público, se a sociedade, se cada um de nós tivesse o desprendimento de pelo menos refletir sobre o assunto, não estaríamos, agora, tão preocupados com as construções de presídios e com a nossa segurança e de nossos filhos.

É provável que alguém, com acanhada vocação para o exercício do cérebro, venha perguntar: o que esse envelhecido discurso do Pelé tem a ver com a segurança pública e com os presídios? A resposta, como não poderia deixar de ser óbvia:tudo.

Tudo porque a questão que aflige a mim e a todos pode ser explicada na causa e muito pouco no efeito. Entendam: crianças assistidas em centros esportivos por profissionais qualificados. Crianças preenchendo o seu tempo em práticas esportivas, sem dúvida, terão a oportunidade de escapar do assédio de traficantes de droga. Com o corpo e a mente ocupados com ideias e atividades saudáveis não terão motivação para integrar as nefastas gangues de rua, de se envolver com o mundo da prostituição, de fracassar moralmente.

Não podemos pensar que esporte sirva apenas para forjar campeões de alto nível técnico em busca de medalhas e troféus. Mais que isso, pode servir de veículo para que muitos realizem muitos sonhos, sobretudo o de ser um campeão no pódio da cidadania.

Seria muito bom que fossem construídos centros esportivos em diferentes áreas da cidade, onde a criança comum possa colocar em evidência o seu talento. Jogando, correndo, saltando, arremessando, participando de atividades em um ambiente saudável, meninos e meninas poderão optar pelo caminho da virtude. E, com isso, as formações de odientas gangues irão sofrer considerável queda nos dados estatísticos.

Precisamos descobrir novos talentos, nas quadras, nos campos, nas pistas. Mas precisamos, principalmente, ter sensibilidade para perceber que o investimento na criança tem retorno assegurado. Beneficiando a todos. Finalmente, para relembrar as palavras do atleta do século: “pelo amor de Deus, vamos proteger as crianças”. Não podemos esquecer que colhemos o que plantamos. E que a indiferença também tem o seu preço.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Escritor, Jornalista e Radialista[email protected])

NR -A partir deste sábado, dia 26.01.2019, o Dr. Nicolau Libório passa a fazer parte da nossa seleta equipe de colunistas, o que nos honra muito.