DE MAL A PIOR – Por Felix Valois

Advogado Felix Valois(AM)

Quem foi que disse que o governo Bolsonaro não podia piorar? Parece de fato impossível que, acumulando trapalhada sobre trapalhada, tenha ele ainda a capacidade de se reinventar e mostrar para nós e para o mundo sua face mais canhestra. Primeiro foi o elogio rasgado e aberto a um coronel de todos conhecido como um dos torturadores mais atuantes no período da ditadura militar. Ainda no Congresso, Bolsonaro não escondia seu sentimento de admiração por tal figura, tanto assim que, ao votar no impeachement de Dilma, disse que o fazia em nome e em homenagem daquele Torquemada tupiniquim.

Já na presidência da República seu primeiro teste sério como governante foi o advento da pandemia de Covid 19. O espetáculo, então, foi degradante e aterrador. De pronto, minimizou o quanto pôde a violência e a letalidade do vírus. Todos se lembram de sua fala televisiva quando, atribuindo-se a condição de atleta, disse que não seria abatido por “uma gripezinha”. Ao depois, quando a pandemia, desconhecendo o menosprezo presidencial, iniciou seu macabro processo de dizimar vidas, Bolsonaro se fixou na cloroquina, recomendando-lhe a aplicação e jurando de pés juntos que ela era cem por cento eficaz. Não haveria nada demais nessa esdrúxula preferência, quase fixação, não fora pelo fato de a comunidade científica internacional caminhar em sentido diametralmente oposto.

Descobriu-se a vacina para combater o vírus. Bozo deitou e rolou. “Não me vacino e pronto”, teimou a figura, traduzindo-se sua postura numa raiva de menino emburrado, que não volta atrás por pura teimosia. E foi além: atemorizou os mais crédulos e ignorantes advertindo-os de que a aplicação da vacina poderia levar a um processo de mutação, de tal sorte que a pessoa vacinada poderia se transformar em jacaré. Além de idiota, a crendice não é nem original: em 1904, no Rio de Janeiro, quando o governo empreendeu campanha de vacinação contra varíola, ocorreu a chamada “Revolta da Vacina”. O povo se rebelou contra a medida porque algum energúmeno espalhou o boato de que, sendo a vacina preparada com material extraído de bovinos, quem a recebesse começaria a se transformar, ficando parecido com um boi.

Num estágio posterior, sofisticando a estupidez, Bolsonaro avançou no ataque ao remédio, propalando, de forma absolutamente irresponsável, que a sua aplicação poderia fazer com que surgissem os mesmos sintomas da síndrome de

imunodeficiência adquirida, que outra coisa não é senão a conhecida AIDS. Não é possível ser mais inconsequente.

Depois de Bolsonaro fazer uma visita sem nenhum sentido ao presidente Vladimir Putin, a Rússia achou por bem de invadir a Ucrânia. A respeito desse incidente bélico já me posicionei no texto da semana passada. Mas, enquanto o mundo inteiro se manifesta definindo posturas, o nosso presidente passa mais de quatro dias como se nada de sério tivesse acontecido. E, quando vem à cena, é para manifestar uma neutralidade que nenhum diplomata sério conseguiu até hoje entender o que significa e para que serve.

Agora, dizem os especialistas que decreto presidencial recém baixado, reduzindo a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados, IPI, pode trazer consequências altamente danosas para o modelo da Zona Franca de Manaus. Como não sou tributarista e muito menos economista, acredito no que dizem os profissionais do ramo. Acredito e lamento, vendo no comportamento presidencial apenas uma forma obtusa de tratar o nosso Estado e a nossa região, assim como se não merecêssemos nenhum respeito.

Tomara que esse pesadelo acabe logo.(Felix Valois é Advogado, Professor, Escritor e Poeta – [email protected])