A área sob alerta de desmatamento na Amazônia teve uma queda de cerca de 32% em agosto deste ano em relação ao mesmo período no ano passado. Segundo dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 918 km² sofreram desmate no bioma durante o mês. Por outro lado, o Cerrado apresentou alta de 137%, com 433 km² desmatados.
Na semana passada, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, afirmou que o desmatamento em agosto deveria ter uma redução de 30% em relação ao mesmo mês em 2020, sem especificar se estava se referindo a um bioma específico.
No acumulado de janeiro a agosto deste ano, uma área de 6.026 km² foi desmatada na Amazônia Legal, patamar semelhante ao registrado no mesmo período de 2020, de 6.099 km². Já no Cerrado, foram 3.774 km², um aumento de 25% em comparação com o ano passado.
Especialistas apontam que a redução do desmatamento na Amazônia em agosto, apesar de uma boa notícia, não pode ser vista como um grande avanço, pois os índices continuam elevados e no acumulado do ano até agora não há diferença significativa em relação ao alto patamar de 2020. Entre março e junho deste ano, os números foram os maiores do registro histórico.
“A queda (na Amazônia) é uma boa notícia, mas não podemos dizer que é sustentada, porque quem tem que tomar conta do desmatamento, o governo federal, não mudou suas práticas. Pode ter relação com questões climáticas ou a dinâmica do próprio crime ambiental. Temos dificuldade para avaliar, porque essa inteligência de entender o que está acontecendo no campo viria do Ibama e do próprio governo, que abandonou as fiscalizações. Quem dita hoje o crescimento ou diminuição é quem está desmatando”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, também afirma que não há uma explicação simples para “um problema tão complexo” como o desmatamento:
“Temos uma pressão muito grande de diversos atores demandando a redução do desmatamento, econômica, da sociedade civil, pesquisas mostrando que a conservação da Amazônia pode ser um balizador na campanha eleitoral no ano que vem. Tivemos mudança no Ministério do Meio Ambiente, ações estaduais mais fortes em alguns estados como Mato Grosso e Pará e agora a GLO (Operação de Garantia da Lei da Ordem). Em agosto desse ano também choveu um pouco mais, o que dificulta o acesso a algumas áreas (para desmatar)”, enumera, mas pondera: “A redução isolada em agosto nesse nível não pode ser vista como grande avanço”.
Batista afirma que como há uma visibilidade maior para o desmatamento na Amazônia, com atores internacionais e econômicos colocando a preservação da floresta como uma pauta global, parte da destruição que ocorreria ali pode ter “vazado” para o Cerrado. Mas destaca que o desmatamento, em ambos os biomas, é um processo e é difícil de explicar por uma única variável.
“O Cerrado é uma fronteira em expansão: há uma pressão muito grande por essas áreas, para pastagem, mas também para a agricultura, em especial a de grãos. No Cerrado também há uma facilidade de que pela legislação é possível desmatar mais do que na Amazônia”, explica o porta-voz do Greenpeace-Brasil.
OGLOBO pediu um posicionamento do Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Defesa e da Vice-Presidência da República, mas não teve retorno até o momento.
‘Desequilíbrio dos sistemas naturais’
Edegar de Oliveira Rosa, diretor de Conservação e Restauração de Ecossistemas do WWF-Brasil, destaca que os dados mais recentes de desmatamento no Cerrado e na Amazônia confirmam que 2021 se somará aos dois anos anteriores nos recordes “de destruição de nossa natureza nesta década”.
“São três anos consecutivos de destruição ambiental sem precedentes no passado recente do país que nos colocam muito perto do ponto de desequilíbrio dos sistemas naturais que garantem a segurança energética, hídrica e alimentar do Brasil. O que está acontecendo no Brasil é extremamente grave e poderá ter consequências duradouras e de difícil reversão no futuro”, afirmou, em nota.(iG)