Nascido em 1907, Raimundo Ferreira de Paiva, na sua juventude, na condição de quarto zagueiro, vestiu a camisa do Manaus Esporte. Em 1927 transferiu-se para o Euterpe e encerrou a carreira no Internacional da rua Visconde de Porto Alegre. Mas o lendário Dico Paiva ganhou muito prestígio mesmo foi como massagista. Colaborou com o Rio Negro e Nacional e principalmente com a Federação Amazonense de Desportos Atléticos- FADA, época em que a entidade era presidida por Laércio Miranda, ex-presidente do Nacional Futebol Clube. Embora por pouco tempo, chegou a contribuir com a Federação Amazonense de Futebol-FAF, fundada em setembro 1966, na administração de Flaviano Limongi.
Dico Paiva que era um mestre da tipografia, a pedido de sua mãe Virginia e de sua esposa Olinda, abandonou os gamados em 1932 mas não ficou muito tempo longe do esporte. Depois de testemunhar tantas contusões e fraturas decidiu investir na cura desses problemas. Comprou bons livros sobre o assunto, participou de um curso promovido pela Secretaria Estadual de Saúde e, quando se sentiu seguro, passou à prática.
Dico Paiva passou a ser a solução para muitas pessoas carentes e para muitos atletas, vítimas de fraturas nos pés, pernas e braços. Depois de um cansativo dia de expediente na Gráfica Palácio Real, na avenida 7 de Setembro, não se importava em atender os necessitados em sua residência, na rua Borba esquina com Silves(hoje avenida Costa e Silva), no bairro Cachoeirinha, onde hoje está instalada uma loja da rede de lanchonetes Habib’s.
Dico Paiva chegou a ser acusado pelos despeitados de praticar ilegalmente a medicina. Mas a fofoca não prosperou. Ele era uma pessoa do bem, estilo curto e grosso, papo direto, caráter sadio. Pela sua maneira de proceder chegava a merecer a amizade e o respeito de Garcia Gomes, Stélio Lobato, Clóvis Frota, Luiz Montenegro, Amazonas Palhano e de outros conhecidos médicos da cidade.
O importante é que não cobrava nada pelo trabalho. Caso a pessoa pudesse, bastaria levar óleo para massagem e, nos casos de fratura, gesso. E que o paciente fosse ao seu “consultório” acompanhado de uma boa dose de paciência para ser atendido, no período das 19 às 22 horas. Fichas eram distribuídas de acordo com a ordem de chegada. Ninguém se sentia encorajado a furar a fila. Era melhor não arriscar famosa “esperteza” brasileira, nada de vitimismo.
Fui um dos pacientes do famoso Dico Paiva. Em 1963, com 15 anos de idade, assíduo peladeiro no improvisado campo de terra batida na rua Ajuricaba-próximo a rua Borba- fui vítima de uma disputa de bola com o zagueiro adversário. Na queda, infelizmente, levei a pior: fraturei o braço direito. Fui levado
pelo Sêo Idalmir Monteiro, à época diretor da antiga Federação Amazonense de Desportos Atléticos-FADA, ao Pronto Socorro do estado, que funcionava na rua Joaquim Nabuco, bem próximo a avenida Sete de Setembro, onde recebi o primeiro atendimento. Mas quem resolveu definitivamente a situação foi ele, o “ortopedista” preferido dos jogadores de futebol e de grande parte da sociedade amazonense, principalmente a faixa de humildes. No último atendimento, após retirar a peça de gesso que imobilizava o meu braço, e constatar que eu estava completamente curado, simplificando a conversa, afirmou: você está pronto pra outra. Volta a jogar “peladas” para perder o medo. Dico Paiva não era médico, não tinha diploma, mas sabia o que fazia.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])