Em 1948 a rua Cláudio Mesquita era inóspita, só mato e, por isso, poucos se arriscavam a morar por lá, sobretudo pelo medo de contrair impaludismo. Mas o paraense Manoel Bastos Brito e seus amigos Mansueto, Euclides, Tude Moutinho, Marçal dos Anjos, Cláudio Coelho e Jofre Costa Novo, sem qualquer preocupação com os problemas da área, resolveram fundar o Liberdade Esporte Clube.
Como registro histórico, vale a pena dizer que o nome da rua foi uma homenagem merecida ao português José Cláudio de Mesquita, empresário de sucesso, que começou a sua caminhada de êxitos como empregado dos Armazéns Andresen da empresa Araújo y Rosas, liderada pelo Comendador J.G Araújo. Cláudio Mesquita, para quem não sabe, em 1911, por meio da sua empresa Seringal Miry, resolveu plantar 93 pés de seringueiras em Manaus, em um terreno de sua propriedade, na área do Boulevard Amazonas com Djalma Batista. Dessas seringueiras só resta a lembrança. Mas vamos voltar a falar do paraense Manoel Bastos Brito.
O objetivo principal do Liberdade era o futebol, embora Manoel, ou melhor, Duca Brito (como era conhecido o jardineiro funcionário da Prefeitura de Manaus), ex-jogador do Nacional e do Fast, fosse um exímio pé-de-valsa e não desprezasse a ideia de estimular a parte social. E por ser apaixonado pelas “peladas”, resolveu reservar parte do seu imenso terreno na rua Cláudio Mesquita no antigo Seringal Miry para construir um campo de futebol. Coincidiu com a inauguração do estádio Mário Filho, no bairro do Maracanã, no Rio de Janeiro, na frustrante Copa do Mundo de 1950 em que o Brasil foi derrotado na final para o Uruguai por dois a um. Com a aquiescência dos amigos fundadores do Liberdade Esporte Clube, Duca Brito, decretou:” o nome do estádio é Maracanãzinho.”
Manoel vira Mestre Duca e a partir daí passou a ser uma figura conhecida e reconhecida em Manaus. Embora com pouco estudo, trocando o L pelo R, Duca era um homem cordial, muito agradável, prestativo, que colecionou amigos nas diversas classes sociais. Pelo seu Maracanãzinho passaram nomes influentes do Poder Judiciário, da política, da imprensa e, principalmente, a gurizada do bairro.
Alguns importantes craques dos principais clubes de Manaus deram os primeiros chutes no campinho de terra batida do Seringal Miry. Tapioca, Zezinho, Fernando, Rubens, Paulinho, Dermilson, Nicolau, Amauri são alguns que, após aprenderem o ABC da bola, ouvindo as orientações e seguindo as rígidas normas disciplinares impostas por Duca, mereceram manchetes nas páginas esportivas dos principais jornais da época.
Antes das sessões de treinos, na hora da formação das equipes, perguntas “quanto você tirou na prova de matemática? Você passou? “ E, diante da resposta negativa, o castigo era inevitável. O retorno ao campo só era permitido diante da comprovação da recuperação, nota mínima não inferior a 7, porque não bastava ser bom de bola, era preciso ser responsável, ser bom também nas tarefas escolares.
Certa vez uma equipe de reportagem de jornal foi até o Maracanãzinho para fazer uma matéria. Duca entrou em campo no momento em que o jogo da garotada estava “fervendo”, e foi logo gritando: para, para, pode parar! “Mas seu Duca- perguntou o árbitro- logo na hora da cobrança do pênalti?“ Duca não vacilou:” não tem problema, primeiro bate as fotos depois bate o pênalti, quero ver todo mundo de cara para o sol, quero ver a foto dos meninos no jornal”. E viu, porque ninguém ousou desobedecê-lo.
Duca ficou na bronca quando um repórter desavisado, certa vez, indagou : você é chamado de Mestre porque mexe com macumba? “Não, sou mestre de obras. E a melhor obra que eu faço é contribuir na formação moral desses garotos.” O fastiano Duca Brito, ou melhor, o desportista Duca Brito merece ser lembrado pelos relevantes serviços que prestou a Manaus. (Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])