Acabo de ler um artigo no site da Folha de São Paulo, cujo título é: “Damares
inspira caça a bruxas e seres mágicos na literatura infantil”. O texto relata que
editores, contadores de histórias e escritores infantis estão recebendo rejeições de
pais e escolas, quando o tema abordado em seus livros envolver bruxas, duendes,
fadas, de uma forma geral: o folclore europeu, brasileiro ou africano.
Seria uma piada, se não fosse trágico! Como esse mundo “politicamente
correto” é chato. A ministra Damares, em um vídeo que vem circulando pela internet,
faz um discurso inflamado contra diversos livros infantis, dentre eles “Manual Prático
de Bruxaria”, afirmando que nossas crianças estão aprendendo bruxaria nas escolas,
comida de bruxa e como fazer vassouras de bruxas. Será realmente que ela acredita
nisso???
Já mencionei em outro texto meu amor pela leitura, citando inclusive um livro
que até hoje me traz boas recordações: “A fada que tinha ideias”. É a história de uma
fadinha que pensava fora da caixinha, questionadora, irreverente, criativa, que tinha
ideias próprias. Devia ter uns 8 anos quando li esse livro, e, no entanto, nunca tentei
voar por ai ou fazer magias.
Ao contrário, o objetivo de um livro, principalmente de literatura, é estimular o
imaginário. “A fada que tinha ideias” me ajudou a amar os livros. Ele traz uma
mensagem de que devemos ser criativos, pensar, questionar. Em momento algum
sugere ou insinua que devemos querer virar fadas e voar entre as nuvens. Os folclores,
as lendas, os mitos, fazem parte do imaginário infantil.
O mesmo artigo da Folha menciona um livro de lendas indígenas, e a confusão
que houve com uma, na qual uma mulher se casa com uma onça. Um pai reclamou
com a escritora que aquela lenda estimulava o sexo com animais. Mais uma vez, sério
isso? A maldade está na mente desse pai, e não da criança que vai ler e viajar na
estória, e quem sabe, ao fechar os olhos, vai imaginar uma onça vestida de terno, em
um altar, se casando em uma igreja com uma mulher vestida de noiva. A maior
probabilidade é que essa criança ria de tal absurdo e não dê maior importância para o
conto.
O mundo está tão absurdo e chato que tudo é errado, tudo é bullying, nada
mais pode. A música “Atirei o pau no gato” ganhou uma versão “correta”, informando
que não se deve atirar o pau no gato, que ele é bonzinho, é nosso amigo e isso não se
faz. Cresci ouvindo a versão condenada e NUNCA maltratei nenhum animal. Isso,
apesar de minha mãe cantar a música na sua versão original, me foi ensinado por ela
desde pequena, que não devemos maltratar os animais.
E a música de carnaval “Nega do cabelo duro”? Tenho até medo de cantar e ser
acusada de racismo e ir presa. Talvez esse seja exatamente o problema do nosso
mundo, excesso de mimimi. Será que, no lugar de perder tempo com tantas besteirassem sentido, estivéssemos de fato preocupados com nossos semelhantes e nosso
futuro, o mundo não seria um lugar melhor?
As pessoas estão tão frágeis, com tantos “dedos”. Tenho a sensação que minha
geração era mais forte e mais feliz. Sabíamos resolver nossos problemas, não eram
apelidos bobos que tiravam nosso sono, ou em casos mais graves, nossas vidas.
Algumas situações eram resolvidas em brigas dos meninos na hora do recreio, e na
sequencia, uma grande amizade começava. Ninguém guardava ódio ou rancor e a vida
seguia.
Em alguns momentos creio que estamos nos preocupando com as coisas
erradas, a toa, e esquecendo o que realmente é importante. Caráter, honestidade,
verdade, amizade, companheirismo, educação, amor ao próximo e, respeito.(Luciana Figueiredo é Advogada)