“Cada artigo, cada ensaio que compõe os capítulos do livro se constitui como um desafio ao pensamento sobre a Amazônia”. Assim o economista, empresário, escritor e colunista econômico Osíris Silva define a principal contribuição da obra “Economia do Amazonas: visões do ontem, do hoje e do amanhã”, ao entregar 25 exemplares ao reitor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), professor Sylvio Puga, na tarde de terça-feira, 13 de novembro.
Alguns livros serão encaminhados para a Biblioteca Setorial da Faculdade de Estudos Sociais (FES), onde o autor concluiu a graduação ainda em 1969, quase 50 anos atrás. Outra parte comporá o acervo das bibliotecas das Unidades Acadêmicas da Ufam localizadas fora da sede, nas cidades de Benjamin Constant, Coari, Humaitá, Itacoatiara e Parintins. A proposta, com isso, é disseminar o conhecimento compilado por Osíris Silva para a comunidade universitária.
“Não estamos trazendo soluções, mas sim lançando o desafio de se pensar a Amazônia”, enfatiza ele, para quem a leitura e a compreensão de “outros documentos importantes, inclusive da Universidade, é um caminho bastante lúcido para se traçar um planejamento estratégico em termos de economia e desenvolvimento”. Como membro titular do Conselho Regional de Economia (Corecon) e do Instituto Geográfico e Histórico do amazonas (IGHA), o autor propõe uma visão contextualizada de problemáticas que têm se arrastado por décadas.
A obra
Estruturada em três capítulos, a obra apresenta a trajetória da economia amazonense em três dimensões temporais, construindo-se a partir das visões do Ontem, com trabalhos publicados até o ano de 2003; do Hoje, em que o autor expõe quatro pilares temáticos da economia amazonense na atualidade (Indústria, Ciência, Tecnologia e Inovação); e do Amanhã, etapa construída a partir do amadurecimento teórico e do diagnóstico das questões que entravam, ainda hoje, o desenvolvimento planejado, estratégico e pleno da Economia amazonense.
“Nosso objetivo, ao elucidar estudos relativos a momentos passados, especialmente da década de 1990, é evidenciar a necessidade de redimensionamento e reestruturação da Zona Franca de Manaus, no sentido que o modelo urge em ser adequado aos novos tempos”, resume o economista, ao explicar a proposta contida no capítulo inicial.
O segundo momento – retratado no capítulo dois – é, na verdade, uma coletânea de artigos selecionados da coluna semanalmente publicada pelo autor no Jornal A Crítica. “São temáticas variadas, em textos que tratam desde o setor industrial e agropecuário no Amazonas até ecoturismo, biodiversidade e sustentabilidade ambiental”, esclarece o autor.
“Esse imbricado conjunto, que forma a complexidade amazônica, é o lugar em torno do qual desenvolvemos a tese”, ressalta o economista e escritor. Sustentando que esses setores serão os líderes do processo de desenvolvimento da economia amazonense, ele chama a atenção para a possibilidade serem explorados recursos e matérias primas regionais, reduzindo gradualmente a dependência criada em torno do Polo Industrial de Manaus (PIM).
No último capítulo, fica ainda mais clara a ideia propositiva lançada pelo autor, quando ele sugere a elaboração de um “plano diretor para o desenvolvimento da economia do Estado”. “Partindo do PIM, que está limitado em si mesmo, é possível alcançar possibilidades de novas cadeias de produção, incorporando-as”, argumenta Osíris Silva, ao avaliar que seu intuito, ao escrever o livro, foi antes o de desafiar os atores ao pensamento reflexivo.
Uma das teses mais importantes do livro, conforme destaca o autor, é a compreensão de que são necessárias intervenções e políticas públicas voltadas para viabilizar setores em ascensão. Cabe aos atores institucionais promover e liderar esse processo de renovação e inovação, superando, pois, a defasagem e a fragilidade do atual modelo econômico local.
“A Ufam, em termos de desenvolvimento de tecnologia, tem o relevante papel de conduzir esse processo”, aponta Osíris Silva. Para ele, a estrutura seria complementada com a atuação colaborativa de outras instituições, tais como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o governo estadual. Além desses, parcerias com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também teriam efeitos positivos na marcha proposta pelo autor.
Segundo enfatiza Osíris Silva, “essas instituições estariam preparadas para atuar, mas não estão ainda suficientemente motivadas a ponto de dizer ‘Eu quero participar’ e dar início ao plano capaz de finalmente instalar a tão necessária governança”.
“O único caminho é inovar. O investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação é o tripé sobre o qual todo o resto se sustenta.(Cristiane Souza)