EXPLOSÃO DO TRÁFICO DE DROGAS NA AMAZÔNIA ATRAI A ATENÇÃO DO MUNDO – Por Osiris M. Araújo da Silva

Artigos: Economista Osiris M. Araújo da Silva(AM)

De acordo com investigações do 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apreensões de cocaína na Amazônia aumentaram 92% ao longo de 11 anos, de 5,4 toneladas em 2013 para 10,4 toneladas em 2024. O crescimento supera a média do Brasil, de 72% sobre as apreensões da droga no período. Por outro lado, no mesmo espaço de tempo foram apreendidas, na região, 15,2 toneladas de maconha no ano passado na região, isto é, 6.530% em relação aos 229 kg alcançados em 2013. Em todo o país, a média nacional “apenas” dobrou no período. Os dados são coerentes com a vasta extensão das áreas fronteiriças dos estados da região Norte, abrangendo Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, com os países maiores produtores de drogas ilícitas do Planeta, Peru, Bolívia e Colômbia. Justamente nesse território se encontram quinze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”, por servirem à rota do o tráfico de drogas na região: os rios Abuna, Acre, Amazonas, Caquetá, Envira, Içá, Japurá, Javari, Juruá, Madeira, Mamoré, Negro, Purus, Tarauacá, Uaupés e Xiê.

O Brasil, segundo o IBGE, mantém cerca de 8 mil km de fronteira com os três países que concentram o plantio de coca na região nas seguintes proporções: Colômbia (61%), Peru (26%) e Bolívia (13%). De acordo com relatório mundial do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc, na sigla em inglês), de 2021, até o começo dos anos 2000, as principais rotas de escoamento passavam pela América Central e Caribe ou iam diretamente para os Estados Unidos e Europa, que concentram os maiores compradores. A Amazônia brasileira começou a aparecer nesse mapa em meados dos anos 2000. Até então o país figurava na décima posição em volume de cocaína apreendida, atualmente é o terceiro, atrás de Estados Unidos e Colômbia. Foi nessa mesma época que o governo brasileiro investiu para aumentar o controle das fronteiras e do espaço aéreo na Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do planeta e tem baixa densidade populacional: cerca de 5,6 habitantes por km2.

De acordo com dados do estudo “Landing on Water: Air Interdiction, Drug-Trafficking Displacement, and Violence in the Brazilian Amazon (em tradução livre: Pousando na Água: Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira)”, do qual tomaram parte pesquisadores do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e publicado pelo IZA (Institute of Labor Economics), da Alemanha. O deslocamento dos meios de transporte de entorpecentes na região verificou-se após 2004, quando o governo brasileiro instituiu a política de interdição aérea, aprovada ainda em 1998. Ao que comprova o estudo, em decorrência dos efeitos da nova lei, a Força Aérea Brasileira(FAB) foi autorizada a abater aeronaves suspeitas de transportar drogas vindas dos países vizinhos. Assim, a migração para os rios foi uma estratégia dos criminosos para fugir da fiscalização policial.

Nesse meio tempo, o crime organizado contaminou a região. Nenhuma cidade (micro, pequena, média ou grande) escapa do registro de inimagináveis (até 20, 30 anos atrás) crimes com o selo do tráfico de entorpecentes. Estudos demonstram que entre 1996 e 2004, a média da taxa de homicídios de pessoas acima de 1 ano era de 3,7 por 100 mil habitantes, número que saltou para vertiginoso 34 homicídios a cada 100 mil habitantes em 2024, um crescimento extraordinário de 819%. Crescem absurdamente os índices de violência e de investigações sobre crimes correlatos, à exemplo do garimpo ilegal e lavagem de dinheiro. De acordo com o Fórum Cartografias da Violência na Amazônia, em 2023 o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encaminhou 3.615 relatórios de inteligência financeira para autoridades dos estados que compõem
a Amazônia Legal, que inclui partes de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.(Osiris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Professor, Escritor e Poeta – [email protected]). Manaus, 4 de agosto de 2025