O Fast andava numa pindaíba que dava dó. Vivia da insistência e da teimosia de alguns poucos abnegados, que não admitiam, nem por sonho, a retirada da equipe do campeonato. Se o nível técnico do time não inspirava grande otimismo, as dívidas e os problemas internos só serviam para assustar pretensos candidatos à presidência do clube. E foi nesse clima desfavorável que Ézio Ferreira chegou à sede da rua dos Andradas, disposto a mudar a situação.
Em 1967, para prestigiar os jogadores do time pertencente a empresa do seu pai adotivo, Waldomiro Lustosa, Ézio foi ao Parque Amazonense assistir Juteira Lustosa e Raiz, pelo Campeonato Amador, na preliminar de Fast e América. Ao final do jogo principal, observou que o diretor Orleans Nobre trazia sobre o ombro um saco contendo o uniforme utilizado pelos jogadores, enquanto o diretor Luiz Alberto Albuquerque, hoje juiz de Direito, carregava em outro saco o restante do material esportivo. Na hora, de forma bem descontraída, resolveu fazer gracinha com Orleans, que não perdeu a oportunidade para convidá-lo a ajudar. Claro que essa ajuda não se limitaria a um simples esforço físico. Orleans e Luiz Alberto queriam muito mais, desejavam que Ézio passasse a integrar a diretoria e tirasse o clube daquele estado de penúria.
Quando Ézio assumiu o departamento de futebol percebeu que o Fast era um clube quase sem teto, porque a casa que servia de sede pertencia ao diretor João Sena. Sem crédito e quase sem uniforme, porque o material utilizado pelos jogadores, pelo desgaste, era a certeza de que dificuldades maiores ainda iriam surgir. Como não havia quase nada, Ézio providenciou tudo: camisas, calções, chuteiras, bolas e o pagamento dos salários dos jogadores.
Os fastianos queriam mais. E foi com a ajuda do Conselho de Honra, que era formado por Alberto Carreira, Osmar Pedrosa e Vicente Mendonça Júnior que chegou à presidência do clube fundado por Vivaldo Lima. Como presidente, Ézio que sempre foi ousado nas suas empreitadas, decidiu construir a sede social, sonho sempre alimentado pelos torcedores fanáticos. Já que o terreno do Boulevard Amazonas havia sido adquirido na administração de Mendonça Júnior, a edificação do prédio dependeria apenas de planejamento, organização, trabalho e principalmente dinheiro, evidentemente. Para ajudá-lo nesse projeto, contou com a valiosa ajuda do empresário Rubem Melo e, em tempo recorde, o Fast pode ter a certeza que a sua peregrinação havia chegado ao final. Passou a ser um clube com endereço certo e conhecido. Infelizmente, em razão de administrações pouco competentes, voltou a enfrentar os problemas de antigamente.
Ganhar título não foi uma tarefa tão fácil. Em 1968, por exemplo, jogando pelo empate, perdeu a grande final para o Nacional por dois a zero, quando faltavam apenas 12 minutos para o encerramento do jogo. Em 1969, nova decepção, e o Fast que foi novamente vice-campeão, passou a ser chamado pelos torcedores do Naça de “GELAR”, numa referência a uma marca de sorvete que à época fazia muito sucesso em Manaus. Mas se foi grande a decepção, a vontade de dar a volta por cima foi bem maior. E os bons ventos começaram a soprar. Em 1970, com Zé Carlos (Maneco); Antônio Piola, Casemiro, Zequinha Piola e Pompeu; Zezinho e Parada; Laércio, Afonso, Edson Piola e Adinamar
aconteceu o desejo dos fastianos: campeão. Algumas alterações feitas pelo técnico Osvaldinho e o time conseguia o bicampeonato, em 1971, com Marialvo (Zé Carlos); Antônio Piola, Casemiro, Zequinha Piola e Pompeu; Zezinho e Holanda; Mano, Afonso, Edson Piola e Adinamar. Ézio queria mais, sonhava com o tri, mas o Nacional foi o grande obstáculo em 1972.
Ézio anunciou que daria uma ligeira paradinha, mas estimulado por alguns amigos, decidiu trabalhar em 1973 pelo Rio Negro, clube do seu coração. E não deixou por menos. Com a ajuda de Flaviano Limongi, então presidente da FAF, e do governador João Walter de Andrade, colocou o Rio Negro no Campeonato Nacional.
Depois de gastos inúteis, apostou no óbvio. Contratou Denílson, do Fluminense do Rio, e trouxe do Fast a base do time: Borrachinha, Antônio Piola, Zé Carlos, Zequinha Piola, Almir, Rolinha, Zezinho, Nilson e Ivo, que passaram a obedecer as orientações do técnico Décio Leal. Querendo sempre mais, contratou Silva, campeão pelo Flamengo e pelo Vasco, ídolo do Racing da Argentina, do Barranquilha, na Colômbia, com passagem pelo Barcelona da Espanha e pelo Santos de Pelé e, com o time entrosado, o Rio Negro deu muito o que falar. Só para relembrar, aplicou uma goleada histórica de 5 a zero em cima do Sergipe. Na disputa doméstica, perdeu o título em 1973 para a Rodoviária. Foi vice em 1974, após perder para o Nacional, mas ganhou o campeonato de 1975, com Iane; Lauro, Pogito, Paulo Roberto e Vanderley; Lopes e Zé Cláudio; Sidney, Davi, Jorge Nobre e Reis.
Para relembrar, certa vez o Nacional, que tinha um jogo importante com o Fast, enfrentava sérias dificuldades financeiras e não podia saldar o folha de pagamento. Ézio, temendo uma crise no Naça e a desmotivação da competição, não hesitou em bancar o salário dos jogadores nacionalinos. É claro que esse gesto não foi bem visto pelos jogadores do Fast, que não conseguiram disfarçar a insatisfação. Achavam que o adversário estava sendo reforçado.
Ao passar a presidência do Rio Negro ao professor Manoel Bastos Lira, Ézio tentou chegar à presidência da FAF, no início dos anos1980 mas foi atropelado por esquisita manobra. Os votos das ligas do interior, infelizmente, deram amparo à mediocridade e, por isso, Ézio Ferreira resolveu sair de cena.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolaulibó[email protected])