Não há como negar todos os benefícios que o avanço da tecnologia nos últimos anos,
ou mais, nas últimas décadas nos trouxe. Ela nos aproximou de pessoas que amamos,
não apenas podemos falar, mas podemos ver aqueles que temos apreço e que pelas
mais variadas razões estão distantes.
Ela encurtou distâncias, diminuiu a saudade, trouxe informação, mostrou em muitos
momentos uma verdade que podia estar escondida aos olhos do mundo, e que hoje
não pode mais.
No entanto, toda moeda tem um verso e um reverso.
Da mesma forma que a tecnologia nos possibilita inúmeros benefícios, seu fácil e
incontrolável acesso nos causa um transtorno irreversível e incalculável.
Me refiro a disseminação descomedida de notícias. Basta a simples leitura de uma
nota, seja ela verdadeira ou não, basta que a matéria chame, de qualquer forma o
interesse e a atenção do leitor, para que ela seja indiscriminadamente replicada.
O simples acesso aos meios de comunicação, permitiu que se difunda toda informação
postada de forma tão veloz que, uma vez publicada, não há mais possibilidade de
arrependimentos.
Ocorre que, poucos são os que se preocupam em verificar fontes, confrontar dados,
buscando alcançar uma verdade o mais real possível, ao contrário, conforme suas
paixões encaminham o que lhes interessa, comove, envolve, sem se importar com a
fidedignidade da fonte ou as consequências que isso pode causar.
Podemos ler uma matéria acerca da agressão a um animal, ao invés de buscar mais
informações acerca do agressor, das formas e circunstâncias em que a mesma teria
ocorrido, pior, se de fato ocorreu ou não a propagada agressão, nos preocupamos
apenas em repostar a notícia, já que no nosso íntimo qualquer tipo de agressão aos
animais, seja sob qualquer argumento, é conduta reprovável. No entanto, a ausência
das necessárias averiguações pode nos levar a erro irreparável.
A medida que as publicações vão sendo postadas, repostadas, encaminhadas, elas vão
sendo acrescidas de comentários dos mais diversos, mas, em sua grande maioria,
envoltos em posicionamentos passionais, muitas vezes agressivos, alguns que chegam
a incitar atitudes violentas.
Eis mais uma vez o perigo.
Não nos preocupamos em checar as fontes da nossa postagem, podemos estar
disseminando o ódio, o que por si só já é suficientemente ruim, mas, agravado por ser
sob um fato que pode nunca ter existido, ou se ocorreu, não foi com a magnitude ou
situações que nos alcançaram…
E agora? Aos sermos esclarecidos sobre a verdade dos acontecimentos já não
podemos fazer mais nada, o dano já foi causado, irreversível, incontrolável. Por mais
que se diga que podemos publicar a verdade, ela NUNCA irá alcançar as mesmas
pessoas, e sempre vai existir aquele que, de forma incauta, vai repassar a falsa
informação como se verdadeira fosse.
São as famosas fake news. Como gostamos de utilizar termos em outras línguas que
não o nosso rico português!
Pois bem, as notícias falsas, as mentiras, não são fruto do mundo moderno, ao
contrário, existem há séculos, no entanto, sua disseminação, seja pelos mais variados motivos, inocentes ou maliciosos, descuidados ou propositais, é que se mostra cada
vez mais prejudicial.
Esse derramamento inconsequente de notícias falsas, essa disseminação da
desinformação, já demonstrou ser capaz de mudar o rumo de eleições, causar a morte
de pessoas inocentes, levar o pânico, diminuir vacinações, enfim, causar os mais
diversos tipos de prejuízo na sociedade.
É importante que fique claro, as mentiras sempre existiram, sempre foram capazes de
gerar pânico e desinformação, mas não em escala mundial como hoje se verifica.
Precisamos ter prudência ao disseminar informações, independente do teor e de nossa
boa vontade, é necessário verificar a fonte, checar a informação. Uma simples
“reportagem” de um pedido de uma mãe ou pai desesperado em achar um filho, que
nos aflige o coração, pode esconder um caso de alienação parental. Já pensou? E no
final, apesar de sua boa fé e boa vontade, você pode estar ajudando essa pessoa a
impedir o acesso da outra mãe ou do pai ao seu filho. Era realmente isso que você
queria?(Luciana Figueiredo é Advogada)