Circula no Brasil desde 2011, praticamente ignorado pela mídia, o estudo “Farms Here, Forests There” (Fazendas Aqui, Florestas Lá), elaborado pelo National Farmers Union (Associação Nacional de produtores rurais americanos) e a ONG Avoided Deforestation Partners, ambas com sede em Washington. O documento afirma que os agricultores dos EUA podem ganhar até US$ 270 bilhões em 2030 com a redução do desmatamento nos países tropicais. Argumenta que “a maior proteção às florestas prejudicará a produção de carne, soja, dendê e madeira em países como o Brasil. Isso levaria a um aumento dos preços e à abertura de um buraco na oferta, que seria preenchido pelos EUA”.
“Eliminar o desmatamento até 2030 limita a receita da expansão agrícola e da atividade madeireira nos países tropicais, nivelando o campo de jogo para os produtores americanos no mercado global de commodities”, afirma o estudo. O tema do relatório é a perda de competitividade da agroindústria norte-americana diante dos países tropicais, principalmente o Brasil. A tese principal consiste em que a única forma de conter essa perda de competitividade é reduzir o aumento da oferta mundial de produtos agropecuários, restringindo a expansão da área agrícola nos países tropicais pela promoção de políticas ambientais internacionais mais duras.
O estudo omite, contudo, a evidência de que FORESTS HERE, FARMS HERE TOO (Fazendas aqui, florestas aqui também) significa a Embrapa com a sua carne carbono neutro, bioeconomia, inteligência digital e a ciência na base dos processos. Significa 15 milhões de hectares de sistemas integrados que misturam, em várias proporções, agricultura, pecuária e floresta; cerca de 32 milhões de hectares em plantio direto, 257 milhões de hectares de unidades de conservação e de terras indígenas. Que “FORESTS HERE, FARMS HERE TOO” abrange 1,1 milhão de hectares de produção orgânica e 177 milhões de hectares protegidos e preservados pelas propriedades rurais, grandes, médias e pequenas.
Segundo a Embrapa, a área de matas preservadas no Brasil é mais do que o dobro da média mundial. Nenhum outro país tem tantas florestas quanto o Brasil — mais que a Rússia, que tem o dobro do seu tamanho, e mais que Canadá e Estados Unidos juntos. Só o Parque Estadual da Serra do Mar, em São Paulo, é duas vezes maior que a maior floresta primária da Europa, na Polônia. Entretanto, a agricultura brasileira ocupa apenas 10%, se tanto, de todo o território nacional — e produz mais, hoje, do que nos últimos 500 anos. Não cresce porque destrói a mata; cresce movida a tecnologia, irrigação e a maquinário de ponta e da competência de quem nela trabalha. Convém destacar, por outro lado, que os produtores conservam dentro de suas propriedades, sem nenhum subsídio do governo, áreas de vegetação nativa equivalentes a 20% da superfície total do Brasil.
O fato, comprovado por fotografias de satélite, é que poucos países do mundo conseguem tirar tanto da terra e interferir tão pouco na natureza ao redor dela quanto o Brasil. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a nova safra brasileira de grãos, ano agrícola 2021/22, deve alcançar 288,61 milhões de toneladas, novo recorde para a agricultura nacional. O volume se traduz por um crescimento estimado de 14,2% sobre o exercício precedente, ou cerca de 35,87 milhões de toneladas a mais em relação aos números da safra anterior. Cada safra, saliente-se, permite alimentar cinco vezes a população brasileira, e mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do planeta.
De acordo com a CNA, mais de 60% dos cereais brasileiros, graças a máquinas modernas e a tecnologias de tratamento do solo, são cultivados atualmente pelo sistema de “plantio direto”, que reduz o uso de fertilizantes químicos, permite uma vasta economia no consumo de óleo, contribuindo para o cumprimento das metas e políticas de redução de emissões e outros objetivos de ação climática postulados no Acordo de Paris 2015.(Osíris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Escritor, Poeta – [email protected])