Flaviano Limongi – Por Nicolau Libório

Procurador de Justiça Nicolau Libório(AM)

Se entre os amigos ainda estivesse, Flaviano Demasi Limongi, primeiro presidente da Federação Amazonense de Futebol, filho de dona Filomena e do italiano Vicente Limongi estaria completando, neste 4 de maio, 93 anos. Simpático e carismático, Limongi construiu em vida a imagem do verdadeiro homem de bem.

Na distante década de 1930, num pequeno campo de areia localizado na rua Luiz Antony, próximo ao quartel do 27º BC, o garoto Flaviano fazia os primeiros ensaios com uma bola de cernambi, nas intermináveis peladas com os garotos da vizinhança. A casa da família Limongi, na avenida Epaminondas, ficava exatamente em frente ao estádio General Osório (hoje campo do Colégio Militar), local propício para que o filho do italiano Vicente alimentasse o sonho de se transformar em um goleiro tão bom quanto Hugo Guimarães, do Rio Negro, ou Zamora, da seleção espanhola. O que parecia sonho de repente virou realidade, pois além de conseguir ser tão bom ou melhor que o goleiro alvinegro, foi surpreendido ao ser convocado para a seleção amazonense com apenas 15 anos de idade.

Flaviano Limongi sempre foi apaixonado por futebol. Por isso, após as aulas, no colégio Dom Bosco, e o expediente na sapataria Limongi (localizada na avenida 7 de Setembro) , não dispensava um gostoso “bate-bola”. Num determinado final de semana, no início da década de 1940, debaixo de uma mangueira resolveu apoiar a ideia para a fundação de um novo clube. Nascia o Tijuca, que durante seis anos participou das competições oficiais. A façanha foi compartilhada por Mário Urofino, Zeca Urofino, Raspada e Carlos Almada. O Tijuca teve como sua primeira sede o porão da casa nº 223, na rua Luiz Antony, onde posteriormente, por muitos anos, residiu o jornalista Carlos Zamith. Mas a estreia da nova agremiação foi simplesmente desastrosa. Perdeu para o Nacional, no campo do Parque Amazonense, pelo impiedoso e elástico escore de onze a um.

Enquanto menino, aos domingos, Flaviano era levado pelo sêo Vicente para assistir aos jogos do Nacional, nos campos do Parque Amazonense ou do Luso. Mas na hora em que decidiu ser jogador de futebol recebeu um tremendo não. Diante da proibição, procurou dar o seu jeito. Arranjou um apelido para “driblar o pai” e evitar as costumeiras broncas. Sêo Vicente nem desconfiava que um tal Aymoré que fazia tanto sucesso no gol do Tijuca era o seu filho Flaviano, que saia de casa todo arrumado dizendo que ia para o cinema. No início deu para esconder, mas a fama do Tijuca não permitiu que Aymoré durasse tanto tempo. Quem apareceu mesmo foi Limongi, considerado como um dos melhores goleiros da época. Sobretudo porque jogava ao lado de Darcy, Lupércio, Gióia, Mário Urofino, Dog, Cabral, Haroldo, Zé Luiz, Sidinho, Pedrinho, Linhares e de muitos outros craques.

Na juventude, Flaviano Limongi além de arrojado e eficiente goleiro, foi um dos mais aplaudidos apresentadores de programas de auditório. Ficou conhecido pelo

pseudônimo de Fred, na “casa do Zebedeu”, na Rádio Difosora ao lado de Índio do Brasil e Zé Coió, este último conhecido nacionalmente. Como locutor esportivo, formou a primeira equipe esportiva, com Djalma Dutra, Luiz Saraiva, Bianor Garcia e Denis Menezes.

Além do futebol e do rádio, o jornalismo sempre fez parte da vida de Flaviano. Como articulista, criou as colunas “Passou Raspando” e “Bazar”(jornal A Crítica) sob o pseudônimo Willis. Na rápida passagem por Belém, onde serviu ao Exército, assinou a coluna “Meu Cantinho”, no jornal Folha do Norte.

Após concluir o curso cientifico, no colégio Dom Bosco, Limongi ingressou na Faculdade de Direito, graduando-se em 1950, tendo como colegas de turma a desembargadora Nayde Vasconcelos , Aristófano de Castro, o desembargador aposentado Valmir Boná, Iran Caminha, Manoel Otávio Rodrigues, Francisco Menezes e muitos outros profissionais que tiveram destaque na área jurídica. Formado em Direito, dividia o tempo entre o escritório de advocacia e a sapataria Limongi. Em 1959, atendendo convites de José Ribeiro Soares e de Henoch Reis, ingressou na Justiça do Trabalho, na Junta de Conciliação e Julgamento, presidida por Henoch. Anos depois, aposentou-se como Juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região.

Sempre de bem com a vida, Limongi foi um dos fundadores do Mocidade Clube, com objetivos recreativos. As reuniões aconteciam no balneário do sócio Júlio Seixas, onde eram “debatidos os problemas da nação”. Durante 25 anos, o bloco do Mocidade Clube formado por Miguel Jorge, Alfredo Tetenge, Andréa Limongi, Max Teixeira, Armando Lopes, Alfredo Linhares, Joaquim Loureiro, Ângelo Amorim, Mário Urofino, Raimundo Berucelli, Flávio Augusto, Mário Bittencourt Guimarães, Nelson Ribeiro, Almério Cabral dos Anjos e Luiz Cabral, fez muito sucesso na Eduardo Ribeiro, animando o carnaval amazonense, satirizando temas nacionais e as novelas. Dentre as sátiras mais engraçadas podem ser citadas “Ai, Maria”, “Sangue do meu sangue” e “Lago Hudson”. O maquiador do grupo era desembargador Luiz Cabral, que ficava na retaguarda. Cabral nunca topou desfilar na avenida.

Limongi chegou à presidência da FAF em um momento de crise no futebol amazonense. Tudo começou quando o presidente d Federação Amazonense de Desportos Atléticos – FADA, Laércio Miranda, deu início a uma discussão com o fotógrafo Fernando Folhadela, no estádio da Colina, num certo domingo de 1966. A crônica esportiva, que na época era muito unida e forte, resolveu comprar a briga. João Bosco Ramos de Lima, José Augusto, Luiz Eduardo, Belmiro Vianez, Arnaldo Santos, Leal da Cunha, Luiz Saraiva, João dos Santos Pereira Braga acharam que a resposta teria que ser dura. E a fundação de uma nova federação seria um troco bem dado. Lembro que após o jogo, seguimos para o prédio da Rádio Rio Mar, que ficava bem atrás do estádio e em poucos minutos estava decidido que a FADA não mais teria a divulgação do seu campeonato nas rádios e jornais de Manaus. O nome de Limongi para a presidência da nova entidade foi lembrado por Belmiro Vianez e João Bosco e aprovado por todos nós. Limongi entrou na ”guerra” e, por incentivo de Artur Teixeira, presidente do América, chegou a conversar com Laércio Miranda para que o desmembramento do futebol ocorresse de forma pacífica. Isso não foi possível por proibição estatutária, o que motivou ainda mais o movimento liderado pela

Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Amazonas. A FAF finalmente teve a sua fundação oficializada no dia 26 de setembro de 1966, com a presença do Cel. Souza Carvalho, emissário da Confederação Brasileira de Desportos- CBD, no auditório do DER-Am.

Como presidente da FAF, Limongi estimulou o governador Danilo Duarte de Matos Areosa a construir o estádio Vivaldo Lima, conseguiu incluir o Amazonas no Campeonato Nacional, trouxe para Manaus em 1972 uma das chaves da Copa Independência, também denominada de Mini-Copa, quando tivemos a oportunidade de ver aqui em Manaus as seleções do Peru, Iugoslávia, Venezuela, Bolívia e Paraguai. Trouxe também a a seleção brasileira de Pelé, que foi tricampeã do mundo no México. Promoveu os campeonatos mais motivados em todos os tempos. Adquiriu e pagou a atual sede da Federação Amazonense de Futebol, e se mais não fez, foi porque decidiu, após 8 anos dedicados à FAF, dar mais atenção à sua família, que estava ficando em segundo plano. Ele foi o melhor entre os melhores dirigentes do futebol amazonense. Hoje, na data do seu nascimento, ocorrido em 1926, o inesquecível amigo Flaviano Limongi merece homenagens e justos aplausos.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – nicolauliboriomp@gmailcom)