Sobe para seis o número de casos confirmados de Doença de Chagas Aguda de Transmissão Oral procedentes de Uarini, a 565 quilômetros a oeste de Manaus, de acordo com informações da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), ontem, segunda-feira (10). Três pacientes receberam alta médica no Hospital de Uarini e outros três seguem em tratamento na Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), em Manaus.
Durante a manhã desta segunda-feira, foi realizada a reunião de alinhamento de Resposta Rápida para o Surto de Doença de Chagas em Uarini com a equipe que esteve no município, das áreas de vigilância ambiental, sanitária, epidemiológica, diagnóstico laboratorial e assistência.
Na ocasião, a coordenadora do Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde (CIEVS), da FVS-AM, Liane Souza, que esteve in loco em Uarini, disse que os sintomas frequentes dos pacientes foram febre, cefaleia, fraqueza nas pernas e linfonodomegalia (aumento do tamanho dos lifonodos). “Os casos confirmados estavam distribuídos em duas crianças (com idade entre 7 e 9 anos); dois adolescentes (entre 14 e 17 anos) e dois adultos (entre 29 e 39 anos), oriundos de quatro famílias distintas que relataram o consumo de açaí de três pontos de venda diferentes, sendo os fornecedores procedentes das comunidades que ficam à margem do rio Solimões”, disse.
Liane acrescentou que, durante a visita, foram realizados 210 exames parasitológicos em comunitários de Uarini, e apenas um apresentou resultado positivo, além disso, foram coletados 40 sorologias de familiares dos casos confirmados. “Apesar do resultado negativo preliminar da maioria das amostras, ainda assim, a equipe de investigação encaminhou ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-FVS) amostras sorológicas dos familiares”, informou a coordenadora do CIEVS.
Para o gerente de serviços da Vigilância Sanitária da FVS-AM, Marcos Pinto, que também esteve em Uarini, a vigilância sanitária estadual, de imediato, treinou os fiscais sanitários do município para as boas práticas de higiene no preparo de açaí. “A capacitação se estendeu aos produtores de açaí do município que, a partir de agora, passam a ter cadastro e registro de produção como ferramentas de monitoramento para vigilância sanitária, que irá permitir a rastreabilidade do alimento e minimizar o risco de ocorrência de novos casos”, esclareceu.
Durante a ação em Uarini, a equipe da entomologia da vigilância ambiental da FVS realizou uma extensa pesquisa nos locais de coleta do fruto, visando capturar espécies de Triatominio implicados na transmissão do Trypanosoma cruzi, o protozoário que causa a doença. Ainda durante a ação a médica da FMT-HVD realizou capacitação técnica com médico e enfermeiros da assistência, para atualização dos protocolos de manejo clínico de casos suspeitos e fluxo de atendimento.
Segundo a diretora-presidente da FVS-AM, Rosemary Costa Pinto, a rede de assistência está sensibilizada para casos suspeitos, os microscopistas estão em alerta e os fluxos bem definidos tanto na assistência quanto na vigilância. “O surto é de transmissão oral, aleatório e em um grupo limitado. Entre as recomendações ao município está a realização do inquéritos sorológicos nas escolas com casos confirmados e notificação, além de investigação imediata de possíveis casos e encaminhamento de pacientes com sinais de gravidade para FMT-HVD”, destacou.
Boletim Epidemiológico – Até maio deste ano, 12 casos foram notificados no Estado. Em 2018, foram 89 casos notificados da Doença de Chagas no Amazonas.
A Doença de Chagas Aguda de Transmissão Oral é uma doença infecciosa grave, causada por um protozoário conhecido por Trypanosoma cruzi, que é transmitido pela ingestão de alimento contaminado com os parasitas presentes nas fezes dos insetos vetores, chamados de barbeiros. O período de incubação, ou seja, o tempo que os sintomas começam aparecer, a partir da infecção, varia de três a 22 dias na forma de transmissão oral.
Transmissão – A FVS-AM alerta para os riscos de contaminação de alimentos por parasita Trypanossoma cruzi, principal transmissor da doença, principalmente na hora da compra, preparação, conservação e consumo de alimentos. No Amazonas, a principal forma de transmissão da doença se dá por meio de ingestão de suco de açaí contaminado.
É preciso observar as condições de higiene dos manipuladores da fruta do local de venda. A FVS-AM ressalta que, além do açaí, outros alimentos também podem estar envolvidos na transmissão oral do parasita, como frutas, vegetais e respectivas preparações (como suco de cana de açúcar, buriti, bacaba); além de carne crua, sangue de mamíferos silvestres e leite cru.
Sintomas – Os doentes podem apresentar um quadro de febre constante, inicialmente elevada, diarreia, vômito, dores de cabeça e musculares. Casos complicados podem evoluir com manifestações cardíacas, além do comprometimento do fígado e do baço.
O diagnóstico precoce e o tratamento imediato previnem as formas crônicas da doença e a ocorrência de óbitos. A FVS-AM realiza de forma sistemática o treinamento dos microscopistas da malária para que também realizem o diagnóstico oportuno para Doença de Chagas.
A principal forma de prevenção é evitar que o inseto forme colônia nas frestas de telhados e paredes. Além disso, no caso de consumo de produtos in natura, é necessário conhecer bem a procedência do alimento. O tratamento da doença é disponibilizado em todas as unidades da rede pública de saúde.