
Mais de três anos após os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) está novamente no município de Atalaia do Norte, no Amazonas, para monitorar a situação na região e reforçar medidas de proteção aos líderes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
A iniciativa faz parte da “Mesa de Trabalho Conjunta”, formada para acompanhar a medida cautelar em vigor desde os crimes, ocorridos em junho de 2022. A missão busca ouvir a população, acompanhar tensões locais e garantir a continuidade das investigações com segurança para os defensores dos direitos humanos. O governo brasileiro deve participar das ações com apoio da Polícia Federal.
A Mesa reúne oito órgãos e ministérios, entre eles o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo Raisa Cetra, co-diretora da ONG Artigo 19, que representa a comissão, a iniciativa é inédita no país. “É uma experiência inovadora de cumprimento de resoluções internacionais, permitindo que a sociedade civil proponha medidas de proteção e prevenção de novos casos”, afirmou.
A expedição também conta com o acompanhamento de entidades como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o Instituto Vladimir Herzog e a Repórteres Sem Fronteiras. A incursão segue até sexta-feira (08).
O caso Bruno e Dom
O jornalista Dom Phillips, colaborador do jornal britânico The Guardian, e o indigenista Bruno Pereira foram assassinados no dia 5 de junho de 2022, após uma emboscada enquanto navegavam pelo rio na região do Vale do Javari, uma das maiores terras indígenas do Brasil.
Bruno atuava como colaborador da Univaja após deixar a coordenação de Índios Isolados da Funai. Dom produzia um livro sobre a Amazônia e cobria pautas ambientais.
Pelo crime, Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, e Jefferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”, respondem por duplo homicídio e ocultação de cadáver. Ambos permanecem presos. Oseney da Costa de Oliveira, irmão de Amarildo, responde em liberdade com tornozeleira eletrônica após obter prisão domiciliar.
Além deles, outros cinco homens foram denunciados em 2024 por participação na ocultação dos corpos e, em alguns casos, por corrupção de menores.(Portal do Marcos Santos/LR Notícias)