Em entrevista ao jornal americano The Washington Post , o líder opositor, que se autoproclamou presidente interino do país em janeiro, destacou que o movimento precisava de maior apoio de oficiais. Ao diário, Guaidó negou rusgas entre opositores e não descartou submeter a votação no Parlamento uma eventual oferta de intervenção militar americana.
Na última terça-feira, Guaidó divulgou um vídeo perto da base de La Carlota, em Caracas, e anunciou que liderava dali o início de uma operação para tirar Maduro do poder. Na ocasião, ele disse que os militares haviam tomado “a decisão correta” de se unirem à oposição contra o líder bolivariano, o que não se comprovou suficiente.
A cúpula militar voltou a jurar lealdade a Maduro . Ao Post , neste sábado (4), Guaidó reconheceu que os opositores erraram no cálculo sobre o apoio de que gozavam nas fileiras venezuelanas.
Na entrevista, o líder opositor contou que esperava que Maduro deixasse o poder sob a pressão de muitos militares. As tropas do governo, em vez disso, saíram às ruas e reprimiram manifestantes nas ruas.
“Talvez porque ainda precisemos de mais soldados, e talvez precisemos de mais oficiais do regime dispostos a apoiar, a defender a Constituição”, reconheceu Guaidó.
O líder da oposição disse que não apoiaria uma eventual intervenção militar unilateral dos Estados Unidos. Destacou que qualquer ação do tipo deveria incluir soldados venezuelanos. Caso o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, lhe oferecesse uma operação militar estrangeira, Guaidó ressaltou que agradeceria a ajuda e então avaliaria as opções com o Parlamento.
“Há muitos soldados venezuelanos que querem colocar um fim [ao poder chavista] e permitir que a ajuda humanitária entre. Nós ficaríamos felizes de receber cooperação para acabar com a usurpação. E, se isso incluir a cooperação de países como os Estados Unidos, acho que esta seria uma opção”, disse Guaidó.
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Maduro “com medo”
Ainda não se sabe exatamente por que os militares que teriam fechado com a oposição não cumpriram o combinado na terça-feira. Guaidó não quis revelar detalhes das negociações e negou quaisquer rusgas dentro da oposição, a qual conseguiu unir desde janeiro, após anos de divisões e disputas.
O presidente da Assembleia Nacional defendeu o líder opositor Leopoldo López, seu mentor, que escapou da prisão domiciliar onde vivia desde 2014. Alguns apontaram que o surgimento dele nas ruas afastou oficiais
Daqui para frente, segundo Guaidó, a oposição manterá a pressão internacional, a mobilização nas ruas e as negociações para arregimentar militares pró-Maduro. Ele reconheceu que “faz parte” haver frustração e cansaço pelas ações nas ruas da Venezuela ainda não terem resultado, mas destacou que os venezuelanos sempre voltam a lutar quando é preciso.
“Pelo fato de termos feito o que fizemos e não obtivemos sucesso da primeira vez, não significa que não seja válido. Nós estamos confrontando uma parede, que é uma ditadura absoluta. Nós reconhecemos os nossos erros. O que não fizemos, e o que fizemos de mais”, destacou Guaidó, que descartou qualquer chance de sentar à mesa com Maduro.
Segundo o líder da oposição, a saída de Maduro é condição para qualquer diálogo de resolução da crise. Apesar do levante, que o governo denunciou como tentativa de golpe, não houve pedido de prisão contra ele. Maduro “está com medo”, disse Guaidó.(iG)