Realizou-se na última terça-feira, 22, coordenado pelos pesquisadores Adalberto Val, do Inpa, e Jacques Marcovitch, da Fea-Usp, o II Workshop de Bioeconomia voltado ao estudo de cadeias produtivas oriundas da biodiversidade local. O objetivo multidisciplinar é conduzir investigações tendo por meta ampliar a compreensão de questões relacionadas a cada uma delas como elemento gerador de emprego, renda e bem-estar a partir dos estados do Amazonas e São Paulo, o centro geográfico e mercadológico do empreendimento. Apoiada pela Fapeam e Fapesp, a pesquisa, conduzida pelo Inpa e Usp, terá duração de dois anos. Seguirá metodologia descritiva-exploratória a partir do estudo de casos múltiplos relativamente a quatro unidades de análise: as cadeias do pirarucu, açaí, cacau e castanha do Brasil.
Ao término, deverão ser priorizadas recomendações de políticas públicas nas esferas da geração de empregos e renda, da segurança alimentar e da educação para a cidadania. O conhecimento construído, que inclui a prospectiva tecnológica, será disseminado por meio de conteúdos impressos (livro e artigos) e digitais (site e vídeos). A sistematização dos casos permitirá a identificação de práticas empresariais atuais e inovadoras, visando a proposição de modelos replicáveis em outras cadeias setoriais. A metodologia dos modelos permitirá a inclusão de métricas de monitoramento da governança em relação aos componentes das cadeias produtivas em articulação com setores do empreendedorismo. O intuito é produzir resultados e impactos por meio de agentes de entidades privadas e públicas engajadas desde o início dos estudos por intermédio de um conselho de orientação, que terá como objetivo a realização, disseminação e monitoramento dos resultados empíricos alcançados.
Segundo o pesquisador do Inpa, Adalberto Val, “a riqueza do evento foi muito além do que previmos. A grandeza da Amazônia requer a soma de percepção de vários atores, levando em conta não haver uma verdade única sobre a região. São muitas as opções da biodiversidade que podem se tornar cadeias de valor, outras tantas já o são, ainda que todas precisam adensar-se de informações tecnológicas”. Contudo, salienta, “não há bioeconomia sem floresta e água, sem educação, sem inclusão social, sem uso da informação já existente. A bioeconomia não pode competir com a floresta e com os rios, mas a eles integrar-se”.
A pesquisa, segundo Val, já dispõe de “um vasto conjunto de informações científicas e técnicas que serão utilizadas intensamente nos processos de tomada de decisão”. A informação contida na floresta é o ativo mais valioso e é preciso que nos apropriemos dessas informações produzidas lentamente desde o início do levantamento dos tempos há mais de 65 milhões de anos”. Visando possibilitar que essas cadeias de valor se desenvolvam de forma plena, ao que aponta Adalberto Val, “a pesquisa realizada nas Instituições de Ciência e Tecnologia tem papel central na desfragmentação das cadeias de valor. Desta forma, o projeto irá contribuir com a análise desses aspectos, procurando tornar efetiva a inclusão social e a geração de renda na Amazônia”, completou o ex-diretor do Inpa.
A realização dessa pesquisa, em última análise, acende uma luz verde ao fim do túnel. Fundamentalmente, por indicar uma reação positiva, segundo fonte do setor, “ao quadro de estagnação da produção científica local, que, mais grave ainda, se mantém de costas para o setor produtivo, fatores que levam o setor a não sair do discurso”. O Workshop, ao que tudo indica, chegou a conclusões animadoras, mesmo tendo apresentado grave e inexplicável falha ao não contar com a participação da Embrapa, Ifam, Cba e de entidades de pesquisa privadas. Sem a convergência de esforços e integração das estruturas locais de P&D haveremos de continuar imobilizados, sem chegar a lugar algum. Falha que, certamente, por meio de positivas convergências de ações logo será corrigida.(Osiris M. Araújo da Silva é Economista, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta – [email protected])