Jayme Barreto – Por Nicolau Libório

Procurador Nicolau Libório(AM)

O médico homeopata Jayme José Barreto ainda alimenta o sonho de um dia, se Deus permitir, tornar-se dono de uma emissora de rádio para colocar em prática a sua intenção de materializar a ideia de desenvolver muitos projetos em benefício do esporte. Jayme, que experimentou uma forte dose de popularidade no final dos anos 1960 e até metade dos anos 1980, no auge do futebol amazonense, sabe que a vida não é feita de devaneios e, por isso, com os pés no chão, acredita que na fórmula salvadora do que ainda resta, não poderão faltar criatividade, perseverança e muita dedicação.

Jayme Barreto, baiano de nascimento, que na infância aprendeu a mineirice em Pedro Leopoldo e Belo Horizonte e solidificou o desejo de se tornar radialista no Rio de Janeiro, enfrentou, em 1965, uma rigorosa comissão julgadora, concorrendo com mais de 250 candidatos. Duas vagas de narradores na Rádio Continental eram disputadas, Jayme garantiu a sua fatia e a outra ficou com Orlando Augusto. Dentre os examinadores estavam os exigentes Carlos Marcondes e Aldino Dias. Trabalhou um bom período mas, na metade de 1969, deixava a emissora sob a promessa feita por Cleber Leite (ex-Globo) que juntos iriam para a Rádio Tupy. Tudo aconteceu diferente, não por culpa do Cleber, claro. Jayme relembra:

“no final de 1969 eu recebi um convite para trabalhar três meses em Manaus, na Rádio Rio Mar. Aceitei a proposta que, por sinal, era muito boa na época. Ao desembarcar fiquei encantado com a recepção. Fui recepcionado pelo padre Tiago, diretor da emissora, pelos novos companheiros como Orlando Rebelo, Leonardo Marinho, Francisco Puga, Jander Santos, Ernesto Guerra, Amândio Costa. Fiquei emocionado com o tratamento que recebi. Comecei a gostar do ambiente da emissora. Mas um outro fato muito importante determinou a minha permanência entre os amazonenses. Conheci a Maria Augusta, minha primeira esposa, e só tive motivos para aqui permanecer.

Filho da médica Romana e do almirante Jayme Magalhães Barreto, neto do português José Maia Barreto, médico homeopata, Jayme reconhece que conseguiu realizar dois grandes sonhos: ter sido reconhecido pelo público como um locutor de grande sucesso e tornado-se um respeitado profissional da medicina.

Jayme Barreto relembra que somente em Manaus veio saber da razão pela qual foi contratado pela Rádio Rio Mar.

“Fiquei sabendo que a Rio Mar havia perdido os dois principais narradores, o Luiz Eduardo e José Augusto. Também havia perdido o comentarista Belmiro Vianez e o repórter Nicolau Liborio, todos contratados pela Difusora. A Rio Mar precisava contratar alguém para garantir a concorrência. A Difusora havia formado o que se denominou de SUPER EQUIPE, pois já contava com o João Bosco Ramos de Lima, Carlos Carvalho, Luiz Saraiva e Osias Santiago. Então percebi que, embora civilizada, a rivalidade e a disputa por audiência era muito forte, pois o rádio era o grande meio de comunicação. A televisão ainda não havia conseguido garantir o seu espaço em Manaus. Tempos depois, no Piauí, conheci o Luiz Eduardo, meu concorrente, que também estava lá para a transmissão de um jogo. Com ele fiz uma grande amizade que conservo até hoje. Aliás, falando de amizade, posso dizer que aqui os dois primeiros amigos que fiz foi o Edson Paiva e o Orlando Rebelo ”.

Jayme faz questão de relembrar de um fato que teve importante influência na sua vida. Relata:

“Envolvido com o sucesso, com o grande assédio dos admiradores e admiradoras, eu estava deixando de lado os estudos. Em todo final de ano a emissora pagava a todos os funcionários o décimo terceiro salário, o décimo quarto salário e ainda uma parcela oriunda do Sócio Clube Rio Mar. Mas em 1974 a coisa foi diferente fui surpreendido quando percebi que apenas eu e o porteiro da rádio havíamos deixado de receber o que havia sido pago a todos os demais. Procurei o padre Tiago para pedir explicações. Ele foi direto na resposta. Disse que o décimo quarto salário e a cota do Sócio Clube era um prêmio aos funcionários que investiam nos estudos. É claro que na hora não fiquei nada satisfeito, mas entendi que precisava mudar o rumo da minha vida. Eu que só havia cursado até o segundo científico, fiz o

supletivo segundo grau, fiz o vestibular para o curso de medicina e hoje sou médico. Como companheiro de estudos, o Leonardo Marinho foi aprovado no vestibular para o curso de comunicação”.

Estava tudo muito bom mas ao ingressar na Faculdade de Medicina passou a ter dificuldades. Em razão das constantes viagens para as transmissões de jogos em outros estados, percebeu que começava a ter prejuízos nos seus estudos. No primeiro aceno da Rádio Difusora, mudou de prefixo.

“Fiquei lisonjeado com a recepção. Fui recebido pelo dono da rádio, o jornalista Josué Cláudio de Souza e pelo diretor Ismael Benigno. O meu relacionamento com a direção e com os colegas foi o melhor possível. Por razões circunstanciais, após dois anos e sete meses, aceitei um convite da Rádio Baré, que tinha o seu estúdio na Eduardo Ribeiro e que ainda pertencia aos Diários Associados. Pouco tempo depois a emissora foi vendida e muitos planos foram modificados”.

Jayme, do alto da sua experiência de vida, contempla o passado e reconhece que tudo que fez ou que pensou fazer valeu a pena. Para quem sempre foi apaixonado por esporte e por rádio, a profissão de locutor esportivo sempre lhe deu imenso prazer. E muitas recordações.

“O primeiro jogo que assisti em Manaus foi o amistoso Fast e Tuna, num domingo de outubro de 1969, no Parque Amazonense. Na quarta-feira seguinte lá estava eu no estádio da Colina transmitindo a vitória do Nacional sobre o Clube do Remo, por um a zero, gol do ponta direita Zezé.

O locutor de muitos bordões conseguia chamar atenção dos ouvintes com o mais famoso deles : EI, VOCÊ AI, PARE E ESCUTE, DECORRIDOS… Isso com caprichada dicção de um profissional de altíssimo nível.

Hoje ao ser abordado por gente que testemunhou a bela e romântica fase do futebol e do rádio, sente prazer de dialogar. Lembra da grande vitória do Fast em cima do Fluminense, por dois a um, no gramado do Maracanã, pelo Campeonato Nacional. Do amistoso do Fast com o time do Cosmos, no estádio Vivaldo Lima completamente lotado. Do empate do Nacional em dois a dois com o Corínthians, no reduto do time paulista. Dos grandes clássicos Rio-Nal. Dos empolgados torcedores que faziam questão de complementar os muitos jogos com grandes espetáculos nas arquibancadas.

Para o doutor Jayme Barreto não é nada fácil recuperar o prestígio do nosso futebol e a motivação das torcidas. Lembra angustiado de haver transmitido, nos últimos dias de vida do Vivaldão, o jogo Nilton Lins e ASA, com a presença de apenas sete torcedores. Mas se alguém tiver a ideia de construir um estádio de porte médio, se os dirigentes dos clubes tiverem paciência, disposição e criatividade para um trabalho sério nas categorias de base, talvez seja possível alguma mudança para melhor. A longo prazo, evidentemente. Acreditar que o novo estádio Vivaldo Lima, batizado por quem faz questão de apagar o passado, de ARENA DA AMAZÔNIA, venha ser a salvação da lavoura é pura ilusão.

Jayme Barreto é um homem feliz com a família que tem, com a profissão de médico que exerce e com as suas grandes paixões: torcer pelo Botafogo e ainda, nas horas vagas, por puro prazer, narrar um jogo de futebol. Portanto, EI, VOCÊ AI, PARE E ESCUTE, o homem continua envolvido pelas saudáveis ondas do rádio.(Nicolau Libório é Procurador de Justiça, Jornalista e Radialista – [email protected])